Os desafios da internet podem ser mortais
Práticas incentivadas em redes sociais levam crianças e adolescentes a doenças e até à morte. Isso exige atenção da parte de pais e responsáveis
Como lidar com conteúdos on-line que colocam as crianças em risco? De tempos em tempos surge um novo e perigoso desafio nas redes sociais disfarçado de brincadeira. Há alguns meses, um deles levou um menino de 10 anos à morte em Belo Horizonte (MG), depois que ele inalou desodorante em aerossol.
Muitos desses desafios incentivam práticas que podem levar à morte, como se equilibrar em lugares altos sem proteção, provocar desmaio por sufocação, dar rasteiras em colegas, segurar sal com gelo até o derretimento (o que causa queimaduras), ingerir sal, canela ou pimentas fortes em grande quantidade, entre outros absurdos.
Uma das bizarrices mais recentes é o desafio do cotonete, veiculado pelo TikTok, que incentiva crianças a acender uma ponta da haste e inalar a fumaça da queima de algodão e plástico pela outra, às vezes com essências alimentícias ou de perfumes, literalmente fumando o objeto.
Alvo: cérebro imaturo
Carina Roma, psicóloga clínica, neuropsicóloga e especialista em dependências tecnológicas em São José dos Campos (SP), fala que crianças e jovens que aderem a esses desafios querem “experimentar, desafiar e pertencer a grupos em busca de recompensa subjetiva, ainda que não tenham perfil de engajamento em práticas suicidas” e, dessa forma, “tudo começa com uma simples curiosidade, mas pode terminar com sequelas irreversíveis ou até a morte”, citando, entre outros, o desafio do desmaio.

A psicóloga diz que a adolescência e suas transformações físicas e psicológicas “favorecem o interesse por atividades de risco, por causa da falta de maturação cerebral. É por isso que a vulnerabilidade também está presente no comportamento adolescente, geralmente rebelde, conflituoso
e impulsivo”.
Ela esclarece ainda que “dos 12 aos 24 anos há um aumento da produção do neurotransmissor dopamina no cérebro, mais conhecido como a molécula do prazer, o que predispõe o jovem a arriscar mais, não levar em conta consequências de médio ou longo prazo, ser mais curioso e aberto a novas experimentações, ficar entusiasmado de forma exagerada e querer se colocar à prova”.
Novo mundo
Diante dos novos estímulos gerados pelo universo digital, ela destaca que os pais precisam estar bem informados, atentos e próximos aos filhos, monitorando tudo o que acontece com eles: “a responsabilidade de cuidar de nossos filhos também se estende ao mundo virtual. Isso faz parte da nova ‘cidadania digital’”.

Perigo de doenças
Segundo Gleison Marinho Guimarães, de Macaé (RJ), médico pneumologista membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), “fumar” um cotonete pode desencadear doenças respiratórias graves: “a combustão do plástico e do algodão gera substâncias tóxicas que vão direto para o pulmão e podem causar traqueíte, bronquiolite, bronquite e pneumonia de hipersensibilidade, além do risco de queimaduras nas vias aéreas, nos lábios e na boca”.
O médico adverte que a prática pode precipitar crises de asma grave “e pode levar à insuficiência respiratória, com risco ainda maior para crianças e adolescentes com problemas respiratórios antigos”.
Ele alerta que alguns componentes do plástico das hastes podem causar câncer e que as fibras do algodão queimado podem causar broncoespasmos (fechamento das vias respiratórias).
Caso a criança apresente dificuldades respiratórias, ela deve ser encaminhada imediatamente ao pronto-socorro mais próximo.
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