“Aos 14 anos, cheguei a colocar chumbinho na boca”

Desde a infância, Charline da Silva ouvia uma voz que lhe garantia que ela morreria antes de chegar aos 23 anos

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A vendedora Charline Martins da Silva, de 30 anos, diz que sua infância foi marcada por conflitos e traumas profundos: “meu pai era alcoólatra. Ele vivia bêbado pelos cantos e, por vezes, eu tinha que buscá-lo caído no chão, algo que me machucava muito internamente. Eu chorava o vendo naquele estado. Ele vivia sujo e pegando lixo na rua. Por conta disso, havia muitas brigas e agressões dentro de casa e minha mãe tinha que se matar de tanto trabalhar para não deixar faltar nada para as quatro filhas. Enfim, fui uma criança que nunca tive um lar como as minhas amigas e nunca tivemos uma família sentada na mesa para fazer uma simples refeição. Eram só brigas, xingamentos e traumas.”

Ainda criança, Charline começou a sofrer abusos. “Eles foram cometidos por conhecidos da família: eu era uma criança que ficava muito vulnerável e sempre fui muito solta. A primeira vez aconteceu quando eu estava com 6 para os 7 anos e, depois, dos 9 para os 10, por parte de pessoas diferentes”.

Essas situações fizeram com que, aos 8 anos, Charline tivesse vontade de se jogar de uma ponte. “Me lembro de ter sido levada ao médico por ser muito nervosa e agressiva. Foi então que comecei a tomar remédio para me acalmar. Na adolescência fui bastante rebelde e buscava me preencher com festas, bebidas e amizades, mas, aos 14 anos, depois de uma briga na família, cheguei a colocar chumbinho na boca para me matar.” Desde pequena, Charline ouvia uma voz que lhe garantia que ela morreria antes dos 23 anos, mas algo aconteceu: aos 15 anos, ela se apaixonou.

NO FUNDO DO FUNDO DO POÇO
O mecânico Romilsom Geraldo dos Santos é dez anos mais velho do que Charline e, com nove meses de namoro, o casal decidiu morar junto. “Pouco tempo depois, me tornei mãe, mas aquele vazio dentro de mim se intensificou. As lembranças da infância me atormentavam e aquelas cenas não saíam da minha cabeça. Eu trazia toda essa bagagem para minha vida amorosa e sentia nojo de mim mesma. No entanto tinha uma criança para cuidar e, apesar de ter o apoio do meu marido, não era o suficiente”, relata.

Após o nascimento de seu filho, Charline entrou em depressão. “Eu não dormia à noite nem com remédios. Comecei a ter surtos, a fazer tratamentos com psicólogos e psiquiatras e a tomar vários remédios controlados, mas nada resolvia”, conta. “As pessoas diziam que era frescura minha e que eu estava colocando coisas na cabeça. Escutei isso até de uma psicóloga.”

Aquela voz que dizia que ela não passaria dos 23 anos se tornou mais forte. “Eu tinha muito medo de tudo e cheguei a me esconder no banheiro e embaixo da cama com meu bebezinho, já que pensava que todos queriam me matar. Também perdi o emprego por causa da depressão e, pelo mesmo motivo, surgiram inúmeros problemas no casamento, pois eu só pensava em morrer”, afirma.

Charline revela como era sua realidade: “eu quebrava tudo em casa, dava facadas nas portas e, em seguida, tomava remédios para me matar. Nesses surtos, cheguei a acelerar o carro para jogar em uma represa, mas, em seguida, ouvi uma voz me pedindo para não fazer isso, pois eu não sabia o que encontraria depois da morte”.

O ponto mais crítico de sua depressão aconteceu quando ela tinha 22 anos. Durante todos esses anos, ela enfrentou várias crises nervosas e, nessas ocasiões, até seu rosto se deformava e era necessário ir ao hospital. “Lá me davam mais remédios controlados. As pessoas tinham medo de mim. Meu marido tinha que esconder as facas da casa e as chaves. Por vezes, eu sentia nojo do meu marido, do meu filho, não suportava olhar para eles e uma voz me dizia para matá-los. Em outras vezes, eu me arrependia de ter quebrado tudo e pelas agressões contra o meu esposo”.

Em busca de uma saída, a família mudou da capital mineira, onde vivia, para a cidade de Viçosa, no interior do mesmo Estado.

Perseguida pela dor
Apesar de se mudar para uma cidade mais tranquila, Charline foi perseguida pelo sofrimento. “Carreguei muitos traumas. Eu tinha mágoa da minha mãe e não aceitava que ela tivesse se divorciado do meu pai. Também tive mágoa do meu ex-padrasto e o culpava pela separação dos meus pais. Meu filho, com 5 anos na época, manifestava com espíritos dentro de casa. Eu acordava de madrugada e ele estava com as mãos em formato de garras. Ele via espíritos e não dormia, os olhos dele ficavam vermelhos igual fogo e ele falava que estava tendo ataques no coração”. Foi vivendo essa realidade que a família buscou ajuda na Universal.

Uma noite sem remédios
Charline e sua família chegaram à Universal há oito anos, em uma sexta-feira. Naquele mesmo dia, ela percebeu que tinha se libertado: “foi a primeira noite que passei a dormir sem remédios. Cri na Palavra de Deus e entendi que a dor que eu carregava era na alma”.

Charline passou a buscar sua Salvação no Espírito Santo e disse a Ele que, muito mais do que a cura, ela queria se tornar Sua filha. “Foi por meio dEle que minha vida se transformou, minha família e meu casamento foram restaurados e meu pai venceu o alcoolismo. A Charline de antes era uma pessoa frustrada e tinha uma dor na alma que nada supria, que ouvia aquela voz que dizia que ela não passaria dos 23 anos, pois morreria. A Charline de antes morreu, sim, mas para o mundo, para a depressão, para os complexos e para o vazio. Hoje, eu vivo com Jesus. O Espírito Santo é tudo na minha vida. Hoje sou feliz de verdade, porque minha alegria vem dEle”.

A força do Espírito Santo
Até 28 de maio, na Universal, está ocorrendo A Jornada ao Pentecostes, pelo fortalecimento espiritual e pelo batismo com o Espírito Santo. O Pentecostes marca os 50 dias após a Páscoa e remete à descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus (leia mais em Atos 2). Charline fala da importância de recebê-Lo: “só o Espírito Santo tem tudo de que necessitamos: a verdadeira alegria, a certeza da Salvação e o fôlego de vida. Ainda que passemos por lutas, Ele sempre nos impulsiona a perseverar, a lutar, a ter certeza de que, quando confiamos e O obedecemos, vencemos nossas batalhas”.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: cedidas