Jovens querem construir um mundo novo
Novo perfil da juventude indica protagonismo, flexibilidade, alta conectividade e preocupação com causas socioambientais. Entenda como essas características vão mudar os rumos da sociedade
A juventude está mudando. Por mais que essa seja uma percepção comum entre pessoas de gerações diferentes, novas pesquisas indicam que o jovem de hoje enxerga o mundo de forma diferente. E isso tem impacto em todas as áreas. No mundo do trabalho, por exemplo, eles querem empresas engajadas em causas sociais e ambientais e não apenas um salário no fim do mês. Os jovens buscam mais flexibilidade para participar de processos e dar a sua opinião nas decisões da família e da sociedade. Superconectados, eles também descobriram novas formas de se relacionar, criar e fazer negócios.
Em resumo, o jovem quer ser protagonista, em vez de sujeito passivo da história.
Essa nova realidade requer adaptação de todos, como explica Renata Muramoto, sócia-líder da área de Talent da Deloitte, empresa de auditoria e consultoria empresarial.
“Os jovens cada vez mais querem ser protagonistas de sua carreira e buscam um forte senso de propósito. Eles querem perceber que a atuação profissional pode gerar impacto para a empresa, para o cliente e para o mundo. As empresas que não se adaptarem a esse perfil podem ficar de fora”, avalia.
Uma pesquisa da Deloitte feita com 7.700 jovens de 29 países, dos quais 300 do Brasil, mostrou que os principais desejos do jovem no ambiente de trabalho envolvem a busca por maior equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, empresas que compartilhem os seus valores pessoais, maior flexibilidade e desenvolvimento de habilidades de liderança. O levantamento The Millennial Survey 2016 ouviu jovens da chamada geração Y ou millenials, que inclui os nascidos
até 1982.
Outras pesquisas já identificam perfis de jovens chamados de centennials, ou geração Z, os nascidos a partir do fim da década de 1990. Um estudo da McCann indica que a geração Z está sempre disponível na internet e todas as suas relações passam pelo mundo digital.
Veruska Delfino, coordenadora da Agência de Redes para Juventude, explica que o jovem tem grande potencial transformador. “Podemos pegar essa energia do jovem, esse potencial, e trazer essa característica como aliada para a cidade. Queremos que o jovem seja protagonista da própria vida, que ele perceba que pode inventar algo que pode mudar a vida dele e gerar impacto na comunidade”, explica ela. A Agência atua em comunidades populares do Rio de Janeiro, incentivando jovens a construir projetos em seus respectivos territórios. “Ouvimos o que o jovem tem a dizer e o que ele acha que tem que ser feito no lugar onde vive. Potencializamos a coragem do jovem a partir do desejo dele”, destaca.
O bispo Marcello Brayner, responsável pelo grupo Força Jovem Universal (FJU) no Brasil, argumenta que todo jovem tem uma força natural. “Não se trata apenas de força física, mas sim de uma disposição em se engajar em algo, aplicar suas energias em algo que lhe traga satisfação”, diz.
Embora nem todos os jovens estejam engajados, o bispo diz que é possível mudar essa realidade. “A forma que podemos ajudar e estimular o jovem é acreditando nele, em seu potencial, fazendo-o enxergar além do que se passa em sua mente e no seu interior e que ele acredite em si mesmo”, afirma. O FJU promove atividades culturais, educativas e esportivas para jovens cristãos em todo o Brasil.
Inspire-se na Nova Geração
Veja algumas atitudes que você pode aplicar no seu dia a dia:
– Protagonista da solução: identifique um problema em seu bairro que incomoda você e descubra como ajudar. Isso pode até virar um negócio.
– Conhecimento na internet: use redes sociais, sites e plataformas de vídeo para adquirir a informação necessária para realizar seus projetos.
– Buscar parcerias: faça campanhas em seu bairro, mobilize amigos e empresas para contribuir para um projeto que tenha impacto positivo para a sociedade e o meio ambiente.
– Aprender na prática: não espere muito para começar a concretizar seus planos. Teste seus conhecimentos, faça protótipos, erre e comece tudo de novo.
– Valorizar pessoas: fortalecer o relacionamento com colegas de trabalho e amigos. Saiba respeitar e
compreender as necessidades de cada um.
– Fortalecer propósitos: conheça seus próprios valores e use-os para impulsionar seus sonhos. Faça o que
gosta e busque pessoas que tenham a mesma visão.
Ele faz gestão pensando em pessoas
Com apenas 21 anos, o paulistano Gabriel Valle (foto ao lado) já é responsável pela gestão administrativa dos negócios da família. Ele administra várias lojas de bijuterias em shoppings de São Paulo, tem uma outlet de roupas e cursa o quarto ano da faculdade de Direito.
“Sempre tive curiosidade sobre gestão. Comecei com assistência às lojas, ajudava a comprar peças. Depois, passei para a parte mais burocrática”, detalha. Gabriel conta que adquiriu experiência em estágios que fez no departamento de Recursos Humanos de uma empresa e no departamento jurídico da Câmara Municipal da cidade.
Apesar do empenho na área empresarial, ele não pretende fazer isso a vida inteira. “Vou prestar prova para a magistratura. Quero fazer a diferença como juiz e pretendo atuar em direito trabalhista”, explica.
Enquanto o sonho de ser juiz não se concretiza, Gabriel diz que faz gestão focada em pessoas. “Muitas empresas acham que precisam cortar gastos, mas elas precisam investir no funcionário. Todos os dias o funcionário acorda com medo de ser desligado da empresa, isso gera temor. Se a empresa oferece treinamento e boa relação pessoal entre colaborador e empregador, o funcionário desempenha o trabalho sem medo e traz resultados”, argumenta.
Há oito anos, ele também atua como líder auxiliar do Força Jovem Universal, grupo que promove atividades entre jovens cristãos. “Minha maior satisfação é ver jovens desacreditados voltarem a sonhar. Quem sonha consegue fazer de tudo para conquistar”, resume.
Ela está conectada a milhares de pessoas
A blogueira Karen Vanessa, de 24 anos, (foto ao lado) começou a escrever para internet há seis anos. No início, o objetivo do blog Normalidade Incomum era contar experiências pessoais e colocar em prática os ensinamentos da faculdade de Comunicação Social, que Karen cursava na Universidade Federal de Goiás. Aos poucos, ela foi conquistando o público e diversificando o conteúdo. “As pessoas pediam mais informações e fui incorporando assuntos como moda, cabelo, resenhas de produtos. Com o tempo, descobri várias redes sociais e me apaixonei por marketing digital”, conta a jovem, que tem 47,9 mil seguidores no Instagram e 23 mil seguidores no Facebook.
Há três anos, o blog garante parte de sua renda mensal. Karen também é supervisora de marketing digital de uma rede de 20 concessionárias e consultora de uma empresa de cosméticos de Goiás. “Faço social media, relacionamento com formadores de opinião e organizo campanhas”, explica.
Ela conta que ainda encontra tempo para fazer pós-graduação, ficar com o marido e participar de grupos de jovens. “Sou casada, cuido de tudo em minha casa. Muitas pessoas me perguntam como consigo lidar com tudo. Sou muito organizada e gosto dessa correria. Além disso, tenho fé em Deus, isso me mantém de pé”, explica. Outra fonte de inspiração são os resultados alcançados. “Gosto de ver as coisas dando certo, isso me inspira. Minha dica é ter perseverança. Muitas vezes, parece difícil começar algo novo, parece que não temos capacidade suficiente, mas se tiver fé e persistência, as coisas darão certo”, finaliza.
Ele cria apps desde criança
Rafael Costa (foto ao lado) tinha apenas 9 anos quando começou a estudar programação de computadores. Tudo começou depois que um vírus invadiu a máquina da família. “Fiquei fascinado e fui ver como funcionava programação, busquei vídeos no YouTube e estudei bastante”, revela.
Aos 13 anos, ele já era reconhecido como desenvolvedor de aplicativos para iOS e Android, com 13 apps no currículo. “Sempre procurei achar uma necessidade que eu tinha e como suprir essa demanda. Na época, eu gostava de usar Twitter, mas não tinha muitos aplicativos para a rede. Então, criei o Sweet Tweet”, esclarece.
Hoje, Rafael tem 18 anos e é estudante de publicidade. Há cerca de cinco meses, ele criou seu último aplicativo, voltado para desenvolvedores. Ele ainda atualiza algumas das antigas produções, mas agora seu foco é outro. “Decidi fazer publicidade e propaganda para abrir horizontes. Espero me mover cada vez mais para que todas as áreas se integrem com a tecnologia”, pontua.
Para Rafael, o segredo para ser criativo é manter a curiosidade. “A criação é um processo contínuo, é preciso estar com a mente aberta para ver uma oportunidade de melhora. Você tem que saciar a curiosidade, entender como as coisas funcionam, a razão de elas funcionarem e sempre aprender mais”, aconselha ele, indicando que a internet é uma boa fonte para buscar informações e trocar conhecimentos.
Perguntado sobre o que gostaria de mudar no mundo, Rafael responde rápido: “seria inclusão digital para todas as pessoas. Se todo mundo tiver acesso a essa gama de informação disponível na internet, nós vamos muito longe”.
Ela organiza feira que gera oportunidade para todos
A carioca Elaine Rosa, de 27 anos, (foto ao lado) passava por uma mudança de visual quando teve a ideia de criar uma feira com alternativas de beleza para mulheres negras. O projeto surgiu durante um programa para jovens de classe popular promovido pela Agência de Redes para Juventude na Pavuna, na zona norte do
Rio de Janeiro (RJ).
“Fomos convidados a pegar um desejo nosso e inserir isso dentro do nosso território. Eu estava passando por uma mudança no meu cabelo, que era tirar a química e deixá-lo totalmente crespo. Identificamos que na Pavuna não havia espaço preparado para atender essa necessidade”, conta.
A Feira Crespa surgiu em 2014, conquistou o bairro e logo ultrapassou fronteiras. Em 2015, o evento teve edição especial na Cinelândia, no centro do Rio. Hoje, a feira é realizada a cada três meses na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna. As atividades incluem homenagens a personalidades da comunidade negra, shows, oficinas e vendas de produtos e acessórios para pele negra e cabelo crespo. Além de concretizar o sonho de Elaine, a feira gera renda para várias pessoas.
“O jovem da periferia pode fazer o que gosta e mostrar para a família que isso também é uma oportunidade. Dá para ganhar dinheiro com o hobby”, avalia Elaine, que já apresentou os resultados da feira nos Estados Unidos e na Tunísia.
Ela também criou uma produtora de eventos, a Rainha Crespa. “Nossa equipe tem nove pessoas e conseguimos pagar valores de mercado”, comemora. Elaine também incentiva outros jovens a seguir os próprios sonhos por meio de eventos promovidos dentro de escolas públicas. “O principal conselho é estar sempre conectado com pessoas que vão ajudar e puxar você para cima. A juventude está muito mais conectada. Nós sabemos fazer redes e fortalecer o diálogo. Assim, um vai ajudando o outro”, conclui.
Eles montaram um kart por causa de preocupação ambiental
Uma aula de biologia que abordou a poluição dos oceanos provocada pelo plástico fez com que os estudantes Yuri Miranda Bertocco (à esq.) e Artur Massaro Gonzaga (à dir.), ambos de 17 anos, buscassem alternativas para isso. “Queríamos reduzir a quantidade de plástico descartado, algo que ajudasse a sociedade”, explica Artur. Eles fizeram testes com garrafas PET até chegar à criação de barras que suportam até 258 quilos.
Após alguns experimentos, eles decidiram montar um kart. O objetivo era participar da 31ª Mostratec, em Novo Hamburgo (RS), um evento de ciência e tecnologia para jovens de ensino fundamental, médio e técnico.
Para arrecadar 3.500 garrafas para o projeto, eles fizeram uma campanha em escolas públicas com o apoio da prefeitura da cidade em que vivem, Santa Rosa de Viterbo (SP). Os estudantes ainda visitaram empresas e organizaram um bingo para coletar R$ 8 mil para a viagem e a construção do kart.
A feira ocorreu no fim de outubro. “Corremos muito, foram várias noites construindo o kart. Ainda enfrentamos dois dias na estrada para chegar a Novo Hamburgo, mas foi uma experiência muito gratificante”, comemora Artur. “Foi legal conhecer outras pessoas que olham um projeto e imaginam o que ele pode vir a ser no futuro. Agora, nossa ideia é usar as barras na construção civil para resolver problemas como habitação e trabalho”, sonha Yuri. Por enquanto, o próximo passo dos dois é a universidade.
Colaborou: Débora Vieira
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