Doenças afetam 1,6 bilhão de vítimas, mas são ignoradas

Pandemia de COVID-19 faz com que pessoas esqueçam outras doenças assassinas

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Desde o final de 2019, a pandemia de COVID-19 ocupa manchetes em todo o mundo. Fala-se e estuda-se muito a doença que matou quase 3 milhões de pessoas em um ano. Porém, ignora-se o fato de que outras doenças seguem causando milhões de mortes.

As chamadas “doenças negligenciadas” afetam, todos os anos, cerca de 1,6 bilhão de pessoas. Mais de dez vezes o número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus (cerca de 134 milhões desde o início da pandemia).

São doenças como Chagas, tuberculose, malária, hepatites, hanseníase, esquistossomose, leishmaniose e filariose linfática. Todas elas afetam, principalmente, países mais pobres, especialmente na Ásia, África e América Latina (onde o Brasil se encontra). E, por isso, essas enfermidades que já recebiam pouca atenção, recebem ainda menos atualmente.

“Doenças que estavam muito próximas de serem controladas, erradicadas, ou de atingirem os objetivos de combate da OMS, talvez tenham retrocessos”, explicou à BBC, Jadel Kratz, um especialista em doenças negligenciadas que chefia a área de Pesquisa e Desenvolvimento da DNDI (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas), uma entidade sem fins lucrativos, que defende o combate a essas enfermidades.

De acordo com ele, “doenças como tuberculose, malária, Chagas, leishmaniose que têm problemas sérios de subnotificação e diagnósticos, pioraram ainda mais, não há dúvida. Doenças como tuberculose, que mata na escala de milhão de pessoas por ano, foram largadas ao ostracismo pela urgência da pandemia.”

Além de o combate a essas doenças ter perdido força, também foram interrompidas inúmeras pesquisas científicas a respeito delas. A medicalização que já era falha está ainda pior – o que aumenta consideravelmente o número de vítimas, pois essas doenças são resistentes a remédios. Uma vez que o tratamento é interrompido, o mesmo medicamento perde efeito naquele paciente.

Também falta empenho da mídia e de governos em informar as pessoas para que elas se protejam dessas doenças. E, evidentemente, a indústria farmacêutica, praticamente, abandonou as negligenciadas para se dedicar à COVID-19, que dá fama e dinheiro neste momento.

O cientista destaca que é muito importante combater a pandemia de COVID-19. Entretanto, tão importante quanto, é manter a luta contra as doenças negligenciadas.

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Colaborador

Andre Batista / Foto: Getty Images