Vício em notícias ruins é real

Diante da enxurrada de informações disponíveis atualmente, ser seletivo se torna ainda mais importante – não só em quantidade, mas também no teor dos assuntos

A incrível facilidade atual de acesso a conteúdo midiático variado tem levado algumas pessoas a uma espécie de vício em notícias, principalmente em fatos negativos e crises. Pior ainda é que, nesse caso, a palavra “vício” não é um exagero, mas uma realidade, como atestam especialistas. Entra em cena o chamado doomscrolling, termo em inglês que significa rolar as páginas da internet ansiosamente em busca de desgraças.

Se manter informado é algo saudável, mas algumas pessoas, em vez de apenas isso, ficam absorvidas só pelo conteúdo negativo, querendo saber cada vez mais e mais, investigando comentários, estudos, fóruns e tudo o que for possível encontrar sobre o tema, “se afogando” em notícias que podem deixá-las mais depressivas.

Segundo a psicóloga Thaiana Brotto, de São Paulo, “a mídia que consumimos diariamente afeta nosso pensamento, nosso comportamento e nossas emoções. O fluxo constante de notícias negativas está aumentando nossos níveis de estresse e os sintomas de ansiedade e depressão”.

Ela cita o período da pandemia do novo coronavírus, quando muitas pessoas precisavam se informar sobre como se proteger, mas também era bombardeada pelas notícias da crise. “É preciso encontrar o equilíbrio: se sentir informado e educado sobre a situação sem ficar totalmente sobrecarregado por ela, afinal, quando boas notícias estiverem disponíveis ou a situação melhorar, elas chegarão até você”, diz.

A especialista adverte que “as manchetes sensacionalistas chamam mais atenção. Com isso, os meios de comunicação geralmente acabam se concentrando nos relatórios de desastres e raramente em notícias positivas. Consumir muito desse tipo de notícia, ativa ou passivamente, pode ser muito tóxico e o que você ouve tem impacto direto no seu humor. Mesmo que seja apenas um ruído de fundo, uma transmissão alarmista de notícias ainda terá um efeito negativo em sua psique”.

“Adrenalina” que vicia
Por que a notícia ruim atrai tanto? Thaiana explica que “quando experimentamos uma ameaça, nosso cérebro ativa a resposta de luta ou fuga e os sistemas em nosso corpo reagem de acordo com ela. Consumir as notícias pode ativar o sistema nervoso simpático (que prepara o corpo para lidar com situações de estresse ou de emergência) que faz com que seu corpo libere hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina. Então, quando uma crise está acontecendo e enfrentamos essa resposta ao estresse com mais frequência, podem surgir até sintomas físicos como fadiga, ansiedade, depressão e problemas para dormir, entre os mais comuns”.

O segredo para se manter saudável está na moderação. “Se manter informado não é apenas responsável, mas fundamental para a nossa segurança”, diz. Confira ao lado algumas dicas da especialista para chegar ao equilíbrio.

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Colaborador

Redação / Foto: getty images