Em maio, três operários morreram após a queda de um elevador de carga do 17º andar de um edifício em construção situado na zona oeste da cidade de São Paulo. Esse acidente com mortes não é um caso isolado e evidencia uma estatística preocupante: o Brasil registra um óbito relacionado ao trabalho a cada três horas e meia, segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, com base em dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Independentemente da natureza do ofício ou do ambiente em que ele é exercido, o risco de acidentes no local de trabalho, desde lesões até desastres fatais como o citado acima, é alto. Entre 2012 e 2024, foram registrados 8,8 milhões de acidentes envolvendo trabalhadores com carteira assinada durante o desempenho de suas atividades, sendo que 32 mil resultaram em mortes.

Riscos funcionais e psicossociais

Os incidentes que integram os dados podem ter origem tanto na precariedade e na negligência em relação às condições de trabalho dos colaboradores quanto no descumprimento das normas de segurança implementadas nas dependências da empresa. Mas, além dos casos associados ao risco físico, outra influência séria é a saúde mental.

De acordo com a iniciativa Série SmartLab de Trabalho Decente 2025, coordenada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o afastamento temporário associado a transtornos mentais teve uma elevação de 134% em 2024, com 472 mil casos, principalmente relacionados a estresse, ansiedade e depressão recorrente. No entanto, mesmo com o aumento significativo, apenas 46% dos municípios brasileiros possuem algum programa ou política de atendimento a pessoas com problemas desse tipo, indica a mesma pesquisa.

Diante desse panorama, é necessário ampliar o conhecimento sobre o tema e reforçar a importância de implementar ações voltadas à prevenção dessas e de outras ocorrências que prejudicam o trabalhador.

A segurança deve ser prioridade

Visto que as causas dos acidentes de trabalho vão além das condições físicas do ambiente, construir um ecossistema laboral seguro e saudável demanda ações articuladas. O especialista em segurança do trabalho Adalmário Correia da Silva destaca que “a prevenção de acidentes de trabalho requer o controle de todos os fatores de risco, tanto os relacionados ao ambiente de trabalho quanto aos procedimentos em que é desempenhado e fatores humanos”. Mas, na prática, como isso é possível?

A responsabilidade inicial recai sobre o empregador, cuja função é fomentar uma cultura de segurança no local de trabalho, seja na cozinha de um restaurante, seja em um escritório ou em uma edificação. Isso inclui a identificação de riscos e o investimento em medidas preventivas, como a aquisição de equipamentos adequados e a manutenção regular de máquinas e ferramentas, além da promoção de campanhas educativas e de conscientização acerca do autocuidado no ambiente de trabalho. A atenção à segurança dos colaboradores deve ser prioridade para empresas de todos os portes e segmentos, independentemente do regime de contratação.

Responsabilidade de todos

A cautela, porém, não é só responsabilidade da empresa: também cabe ao trabalhador fazer a sua parte, isto é, cobrar e usar equipamentos de proteção individual (EPI), como óculos de proteção, máscara, capacetes, luvas, protetor solar, entre outros. Segundo a Norma Regulamentadora NR-6, estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Previdência, é obrigação da organização fornecer os produtos gratuitamente, assim como orientar a forma de usá-los, higienizá-los ou trocá-los regularmente. Mas, claro, usá-los de forma correta e cumprir com as medidas de segurança propostas é ser prudente com a própria saúde e isso serve para qualquer área. Treinamentos e regras existem para garantir a eficiência operacional e, sobretudo, a segurança dos funcionários, basta segui-los.

Não se arrisque, previna-se

Priorizar a segurança no ambiente de trabalho é mais do que uma decisão estratégica para promover o crescimento de um negócio. Trata-se, sobretudo, de um compromisso inegociável com o bem-estar e a dignidade dos trabalhadores. Cada descuido, por menor que seja, pode comprometer o desempenho e até custar a vida do trabalhador. Por isso, negligenciar normas e direitos é uma atitude irresponsável e perigosa.

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