Aliciamento de pessoas: como não cair nessa armadilha?

Esse tipo de crime é mais comum do que se imagina e põe em perigo crianças, adolescentes e adultos do mundo inteiro

Apesar de muitos acharem que o aliciamento de pessoas para fins criminosos seja assunto só de séries e filmes policiais e de suspense, a prática é mais comum – e mais perigosa – do que imaginamos. No Brasil mesmo, recentemente, os veículos de comunicação voltaram a dar atenção ao caso Samuel e Saul Klein, pai e filho denunciados pelo crime de aliciamento para fins de estupro e exploração sexual e violência sexual contra centenas de mulheres.

Ano após ano, muita gente cai em golpes que prometem emprego com bons ganhos financeiros, geralmente com propostas que exigem viagens e deslocamentos. Segundo o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Pessoas, divulgado em 2021 pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, 37% das vítimas de tráfico de pessoas atendidas tinham alto grau de confiança nos aliciadores – os exploradores eram familiares, amigos ou vizinhos das vítimas.

Na Inglaterra, a Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade com as Crianças (NSPPC, na sigla em inglês) indicou que aplicativos do Facebook foram usados em 55% dos casos de aliciamento infantil no Reino Unido, entre eles o próprio Facebook, o Messenger, o Instagram e o WhatsApp.

Ameaça global real
Segundo o advogado Afonso Mendes dos Santos, de Ipiaú (BA), especialista em direitos humanos, “o tráfico de pessoas é definido pela Organização das Nações Unidas (ONU), no Protocolo de Palermo, firmado em 2003, como ‘o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo-se à ameaça, ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade, à situação de vulnerabilidade, à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração’”.

Afonso explica que, “ainda de acordo com a ONU, o tráfico de pessoas figura entre os crimes mais rentáveis da atualidade. Ele rende cerca de US$ 32 bilhões em todo o mundo, sendo que 85% dessa quantia vem da exploração sexual” e, segundo ele, há outras formas de exploração: de trabalho forçado e até de remoção de órgãos do corpo.

“A exploração sexual surge com uma falsa oferta de emprego ou com promessas de melhoria na qualidade de vida das vítimas”, diz Afonso. “Já o tráfico de pessoas para a exploração do trabalho está relacionado às práticas similares à escravidão, como a servidão e o trabalho forçado. O tráfico para remoção de órgãos começa com a venda dos próprios órgãos pela vítima, um mercado cruel que explora o desespero de ambos os lados: doentes que podem pagar por um órgão imprescindível para viver e pessoas que ponderam entre o órgão sadio que têm – e que avaliam que podem dispor sem risco de vida – e o dinheiro que receberão com a venda dele.”

O aliciador
Afonso esclarece que “os aliciadores podem ser homens ou mulheres que, em sua maioria, tem elevado grau de intimidade com a família da vítima. Eles destacam-se pelo bom nível de escolaridade, altíssimo poder de convencimento e se aproveitam muitas vezes da situação de miséria das vítimas com atraentes propostas de emprego”, detalha.

Segundo Afonso, o perfil dos aliciadores brasileiros segue o padrão mundial: “a predominância é de pessoas do sexo masculino, com idade entre 20 e 50 anos. De modo geral, possuem poder econômico elevado e participam da vida pública nas cidades de origem ou destino do tráfico de mulheres”.

O advogado aponta um agravante: “grande parte dos aliciadores conta com ajuda feminina para recrutar e aliciar outras mulheres para serem traficadas, pois isso confere maior credibilidade às ofertas de emprego para enganar as vítimas”, como a imprensa deixou claro no caso Klein.

Crime do século
De acordo com Afonso, o tráfico de pessoas é o “crime do século”, pois “é altamente silencioso e complexo, um mercado desumano e cruel que comercializa o próprio ser humano por dinheiro”.

Por isso, a denúncia é fundamental para acabar com esse ciclo. Saiba como se prevenir desse perigo e como denunciá-lo lendo mais informações no quadro acima.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: getty images