Você já foi enganado por notícias falsas?

Pesquisa revela que as fake news se espalham 70% mais rápido do que as informações verdadeiras. Entenda como você pode ajudar a combatê-las

Imagem de capa - Você já foi enganado por notícias falsas?

Nos últimos dias, quantas notícias você compartilhou nas redes sociais? Entre elas, quais você checou se eram verdadeiras? Se você nunca pensou nisso, é importante começar a pensar.

Com o avanço da internet, há mais notícias circulando entre as pessoas e, consequentemente, mais informações falsas sendo disseminadas como se fossem verídicas.

Um estudo divulgado no mês de março pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, revelou que as fake news (notícas falsas) se espalham 70% mais rápido e com mais abrangência do que as reais.

Conforme a pesquisa, os usuários que compartilham mais mentiras são menos ativos, têm menos seguidores e estão nas redes sociais há pouco tempo, em comparação àqueles que compartilham notícias verdadeiras – características correspondentes em grande parte a pessoas com mais idade.

Os pesquisadores também concluíram que quem, de fato, desempenha o papel principal de compartilhar conteúdo falso são as pessoas e não os bots (programas que simulam ações humanas repetidas vezes). Esses robôs, na verdade, disseminam informações irreais na mesma proporção que as reais.

Dessa forma, a responsabilidade por passar adiante um boato cabe a todo cidadão. É ele quem deve filtrar o que recebe e checar o que vê, ouve e lê antes de formar uma opinião quanto ao assunto e compartilhá-la.

O comando da internet

Apesar do termo fake news estar mais na moda do que nunca, a ideia de contar mentiras para tirar proveito de situações acompanha toda a trajetória da humanidade.

Richard Romancini, professor de História da Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), explica que as fofocas no meio social sempre existiram. Contudo a difusão delas era menor do que a das notícias falsas compartilhadas atualmente. “O que acontecia é que elas eram mais restritas, menos propagáveis – e se alguém queria propagar algo tinha mais riscos e custos – e com um potencial maior de desaparecerem”, compara.

O docente informa que a velocidade de espalhamento de notícias fez da internet, especialmente por causa das redes sociais, o mais poderoso veículo de disseminação de assuntos falsos. “As mídias sociais têm características que simulam os comportamentos comunicacionais de proximidade, ou seja, recebemos informações de pessoas que conhecemos e nas quais, muitas vezes, temos bastante confiança”, justifica.

Por causa dessa relação de proximidade entre as pessoas que a internet oferece, o que importa para elas não é conhecer ou desconhecer a veracidade das informações, mas sim estar em concordância com elas. Romancini exemplifica dizendo que: “é muito mais provável que uma pessoa que fume, por exemplo, compartilhe uma notícia sobre uma suposta descoberta científica dos benefícios do cigarro do que uma não fumante. Essa crença pode levar ao ato de compartilhar uma notícia falsa desse tipo, muitas vezes, sem a percepção do prejuízo que se pode causar”.

Controle tecnológico

Redes sociais, como Facebook e Twitter, não têm capacidade para evitar a circulação de fake news. Mas existem ferramentas que ajudam a combatê-las. Márcio Vasconcelos, codiretor do Instituto de Tecnologia e Equidade, informa que uma delas é aceitar denúncias sobre situações que violam os Termos de Uso das Plataformas. “A principal denúncia corresponde aos perfis falsos. Isso é proibido e as redes sociais têm suspendido muitos perfis que circulam fake news”, declara.

Outra ferramenta são as parcerias que algumas redes sociais estão fazendo com agências de checagem de fatos. Elas indicam quando as mensagens são falsas ou apresentam links com verificações sobre elas. Entretanto não é possível excluí-las. “Isso ainda está sendo implementado aqui no Brasil ao longo dos próximos meses. Porém elas não eliminam as fake news da plataforma, elas apenas ficam sinalizadas como suspeitas ou falsas”, adverte.

O WhatsApp, no entanto, não instituiu um mecanismo de combate às notícias falsas que são compartilhadas em conversas pois as informações são criptografadas, ou seja, impedidas de serem rastreadas por terceiros.

A empresa que cuida do aplicativo divulgou no início deste ano que lançaria uma atualização, na qual mensagens com mais de 25 compartilhamentos possibilitariam que os usuários que as recebessem fossem avisados de que elas poderiam ser “correntes”, mas não a ponto de indicar se seriam verdadeiras ou falsas.

Por isso, o esforço em identificar as fake news deve ser de toda a sociedade. “Todos precisam entender como o mundo on-line funciona e reconhecer que não há mais garantias de que uma informação recebida é necessariamente verdadeira. É preciso desconfiar de tudo o que recebemos e nos educarmos quanto às principais estratégias usadas em notícias falsas”, alerta Vasconcelos.

Imprensa de massa


A parcialidade nas notícias sempre existiu em veículos de comunicação de massa, como TVs e jornais, com o objetivo de movimentar a opinião pública.

Em 2010, por exemplo, o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foi condenado pela morte de Isabella Nardoni, que na época tinha cinco anos.

O crime, ocorrido em 2008, chocou o País, mas até hoje os advogados de defesa tentam anular o julgamento, alegando que a pressão da imprensa influenciou a decisão dos jurados. Para isso, se baseiam em matérias que foram publicadas com teor tendencioso, como o fato de tratarem Anna Carolina nos textos apenas como “madrasta” e não como “companheira”, “esposa” ou “segunda mulher”, sentenciando que madrastas geralmente são más.

Anos antes, as manchetes dos jornais do País também condenavam à prisão a família de Icushiro Shimada, dono da escola particular paulistana Base. Ele e mais cinco pessoas, incluindo sua esposa, foram acusados de pedofilia. Assim que a imprensa soube da acusação, passou a divulgá-la em coro nas manchetes dos jornais sem dar espaço aos acusados. No entanto, alguns meses depois, a Justiça revelou que eles tinham sido acusados erroneamente.

Agora, com tanta propagação de fake news, nunca as atividades da imprensa tradicional (jornal, TV e rádio) foram tão necessárias. “Cabe à imprensa pautar temas de interesse público e ao mesmo tempo ter procedimentos de checagem para que não seja absorvida pelo volume de informações sem fundamento, seja por conta da falta de interesse de averiguação, seja por conta de intenções de má-fé”, relata Luiz Alberto de Farias, (foto à dir.) professor de Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo e da USP.

Apesar do papel da imprensa, a população também deve ajudar, procurando boas fontes de notícias e conhecendo a linha editorial dos veículos. “Seguir sites, ler jornais e revistas e acompanhar a programação de rádios e da televisão com regularidade ajuda a ter uma ideia de como a publicação ‘pensa’. Mas jamais seja guiado somente por um veículo. Leia a mesma notícia em mais de uma fonte e chegue a suas próprias conclusões. Afinal, a opinião sobre aquilo que você analisa deve ser sua”, sugere Farias.

Vítimas de fake news

A Universal e o Bispo Edir Macedo há muito tempo são alvos das grandes mídias que disseminam notícias falsas. Desde a inauguração da primeira Igreja, em 1977, veículos de imprensa passaram a fazer acusações inverídicas com o intuito de manipular a opinião pública quanto à instituição e ao seu líder.

Agora, as pessoas têm a oportunidade de conhecer todas as fake news divulgadas ao assistirem ao filme Nada a Perder, que conta a história real do Bispo e da Universal.

Contudo veículos de imprensa preconceituosos, inconformados com o sucesso do filme, continuam divulgando informações inverídicas.

A Folha de S. Paulo, por exemplo, fez uma cobertura superficial no primeiro final de semana de estreia em nove sessões do cinema, com o intuito de diminuir a importância do recorde de bilheteria alcançado.

O jornal ignorou o fato de existir 2,3 milhões de pessoas em todo o Brasil assistindo à película nos primeiros quatro dias de exibição para enfatizar apenas os “lugares vagos” existentes nas sessões visitadas. No entanto seus repórteres não fizeram o mesmo com a exibição de outros filmes, como Jogador Nº 1, por exemplo.

Na opinião da jornalista Deise Alves da Silva Lopes, de 36 anos (foto abaixo), jornais como esse fazem uso de fake news de forma apelativa. “Fazem isso sempre que percebem seu crescimento. Vejo nisso mais uma atitude desesperada de parar uma Obra que tem crescido tendo um único interesse: levar vida e verdades para todos.”

Ela conhece a Universal há mais de 20 anos. Mas, antes de frequentá-la, havia sido enganada pela imprensa que difamava o Bispo Macedo por meio das fake news. “Eu acreditava naquela informação porque vinha da imprensa, que, para mim, era de total credibilidade”, destaca.

Quando decidiu visitar a Igreja pela primeira vez foi apenas para zombar da instituição. “Chamei uma amiga para ir até o local que a imprensa mostrava só para ‘zoar’. Tenho até hoje em minha mente as imagens transmitidas por uma grande emissora de TV que me despertaram a curiosidade de conferir pessoalmente como funcionavam os cultos.”

Porém, quando Deise pisou na Universal, mudou sua opinião. “Eu tinha preconceito, mas me senti enganada porque eu estava vendo tudo ali e participando. Nenhum dinheiro ou intervenção humana são capazes de transformar pessoas como fui transformada.”

O administrador de empresas Felipe Franco Castro, de 31 anos (foto abaixo), também tinha preconceito contra a Universal por causa das notícias que recebia e assistia pela televisão. “Ouvia que a Igreja fazia lavagem cerebral e que era um local de pessoas com mente fraca e manipuladas. Então, tudo de mal que vinha de lá me alimentava e eu até ajudava a divulgar.”

Até que um dia, em 2011, uma amiga que o via sofrer com muitos conflitos internos, transtorno bipolar e síndrome do pânico o convidou para ir à reunião da Universal. “Pela confiança que eu tinha nela, já que era uma pessoa inteligente, aceitei o convite e fui conhecer o local.”

Quando conferiu de fato como funciona a instituição, pôde entender que tudo o que ouvira era mentira. “Todos os conceitos foram quebrados e percebi que tinha sido enganado pela mídia. Me senti envergonhado”, reconhece.

Assim como pôde ser visto nesses exemplos, não permita ser enganado por fake news. Na dúvida, não compartilhe nem publique notícias que não sabe se são verdadeiras, mesmo que, inicialmente, pareçam estar de acordo com as suas opiniões.

Entenda que propagar informações que não são verídicas é um problema grave que pode trazer consequências bastante ruins não só para você, mas para toda a coletividade.

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Colaborador

Por Janaina Medeiros/ Fotos: Fotolia, Folhapress, Demetrio Koch e Cedidas/ Arte: Ed Edson