Você é tolerante com as outras pessoas?
Veja o que uma atitude errada pode causar
Vamos fazer uma experiência sobre a sua percepção da realidade. Responda rápido, se puder em uma única palavra, o que os dois fatos a seguir têm em comum: primeiro, uma briga entre motoristas que disputavam uma vaga de estacionamento em Franca, no interior de São Paulo. A discussão começou depois que o dono de um estabelecimento pediu ao outro motorista para que retirasse o carro da vaga em frente a sua loja para que ele pudesse parar ali o seu caminhão. Entre a recusa e a insistência, os dois começaram um bate boca que foi flagrado em vídeo. As imagens dos dois brigando com pedaços de pau, chutes e rasteiras foram replicadas várias vezes na internet.
O outro acontecimento que também acabou sendo partilhado na web mostra imagens do espancamento do vendedor ambulante Luis Carlos Ruas (foto abaixo), de 54 anos, por dois jovens na estação de metrô Dom Pedro II, em São Paulo. O fato aconteceu depois que ele tentou defender um travesti que seria agredido por dois jovens. Eles haviam sido repreendidos por urinar no canteiro próximo ao metrô e resolveram revidar
com violência.
Luis Carlos ainda tentou correr até a bilheteria do metrô para escapar, mas foi atingido com vários golpes por Alípio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21 anos. Depois da agressão, os dois ainda foram até a vítima, que estava descordada, e lhe deram mais um soco na cabeça.
A esposa do ambulante, Maria Aparecida Cavalcante, conta que conversou com o marido 20 minutos antes das agressões. Chamada para socorrer Luis, ela afirma que encontrou o vendedor caído e machucado. “Quando eu cheguei ele já estava no chão, todo deformado.” Ele foi socorrido, mas não resistiu e morreu.
A resposta
Se você ficou, no mínimo, indignado com essas duas ações – a primeira, uma discussão desnecessária e a segunda uma agressão covarde –, pode ter pensado na palavra a seguir para vinculá-las: intolerância. Saiba que as maiores tragédias da humanidade tiveram início com atitudes inspiradas nela, acrescida com um grau elevado de ódio, raiva, poder e ganância.
Esse comportamento agressivo ou repressor que muitas vezes está relacionado a diferenças de raça, crença, opinião ou modo de vida, pode estar mais perto do que você imagina. Os exemplos estão no nosso dia a dia e transparecem até em pequenas posturas conosco ou com os que estão mais próximos de nós.
Para Álvaro Gullo, doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), não se trata de uma novidade na história da humanidade. “Não é de hoje, ela sempre existiu. O que acontece de diferente agora é que esses fatos acabam sendo potencializados pela internet e pela mídia, que se aproveita de acontecimentos como esse. Hoje é muito mais fácil saber deles por causa da comunicação. Virou uma mercadoria. Casos pontuais se tornam casos internacionais”, declara.
De acordo com Gullo, se os elementos básicos, como a família, a escola e os valores, estão fragilizados, os meios de comunicação preponderam. “Se não há referência, o indivíduo cai nessa trama, em um mecanismo de estímulo-resposta. Quando o intolerante se identifica, ele também vai propagar essa intolerância no seu cotidiano e nas redes sociais. Até coisas corriqueiras tomam uma dimensão mais amplificada em discussões que seriam desnecessárias”, avalia.
Avaliação
No entanto, o sociólogo afirma que a intolerância pode ter origem na formação. “Se você analisa exemplos de jovens que pegam em armas e disparam contra outras pessoas nos Estados Unidos, por exemplo, verá que isso tem relação com os grupos de onde vêm, na formação deles. Ninguém nasce intolerante, a sociedade é quem o produz.”
Para o sociólogo, todo esse processo demonstra a tentativa de um grupo dominar o outro. “A intolerância é produto da ignorância, resultado de uma prepotência de uns sobre os outros. Todo intolerante é um ignorante. O assunto é complexo e necessita de estudos. Mas creio que para combatê-la é preciso discutir, debater, buscar esclarecimento com espírito crítico e científico”, aconselha.
Talvez essa seja a melhor forma de lidar com a intolerância, em vez de deixar que a violência aflore e cause brigas no trânsito ou até mortes, como a que aconteceu com o vendedor ambulante no metrô de São Paulo. Fatos lamentáveis como esses ou que envolvem racismo, diferenças religiosas e sexismo, só para citar alguns, poderiam ser evitados se todos fossem menos intransigentes em suas posturas e soubessem respeitar o outro.
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