Você arriscaria a sua vida em nome da aparência?

Este ano, o Brasil registrou vários casos de mulheres que morreram ou tiveram sequelas graves depois de se submeterem a procedimentos estéticos perigosos. Saiba como superar a “neura” com seu corpo

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Qual é o limite para a conquista do corpo perfeito? A jovem Jaqueline Machado, de 27 anos (foto a esq.), conta que quase perdeu a saúde por causa da preocupação excessiva com a própria imagem. Em 2015, ela começou a atuar como passista de escola de samba em São Paulo. “Eu era bem magrinha e eles precisavam de uma mulher com curvas mais acentuadas. Então, entrei na academia e ficava pelo menos duas horas lá todos os dias. Se comia algo que achava que não era bom, ia para o banheiro e vomitava”, lembra.
Quando percebeu que os exercícios físicos não eram suficientes para chegar ao corpo desejado, Jaqueline decidiu usar produtos ilegais. “Foi fácil conseguir anabolizantes. É muito caro, mas é muito fácil obtê-los”, revela. A jovem percebeu os efeitos rapidamente. “Em três meses comecei a ver o resultado e também os problemas. Passei a ter dores nos rins, tontura, dor de cabeça, insônia e alucinações. Ficava muito ansiosa e estressada”, detalha. Mesmo com a saúde debilitada, Jaqueline continuou se arriscando.
Em pouco tempo, os problemas de saúde se tornaram frequentes. “Durante um desfile no Sambódromo, passei muito mal e tive que ir para o hospital. Eu tinha conseguido o corpo que queria, todos me elogiavam, mas eu estava doente”, afirma. Jaqueline decidiu mudar de vida depois de ter problemas nos bastidores de um show. “Houve uma briga feia por causa de corpo entre as passistas. Percebi que aquele era um mundo ilusório”, conta ela, que deixou a atividade em 2017 e passou a cuidar da autoestima. “Hoje minha visão é diferente. Vejo o corpo como templo do Espírito Santo e valorizo a minha saúde. Às vezes, nos preocupamos tanto com a aparência que deixamos de lado a vida espiritual, a família e outras coisas importantes”, finaliza.

Tem limite?
Em muitos casos, este desejo pode se transformar em tragédia. Neste ano pelos menos quatro brasileiras morreram depois de se submeterem a procedimentos em nome da beleza. Em outubro, a microempresária Fernanda Assis, de 29 anos (foto a dir.), morreu vítima de uma parada cardiorrespiratória após realizar um preenchimento para aumentar os glúteos e os lábios. Ela deu entrada no hospital com inchaço no corpo, ferida nos glúteos e dificuldade para respirar.
O procedimento ilegal foi feito na casa dela. A autora, Danielle Candido Cardoso, conhecida como “Dani Bumbum” ou “Dani Sereia”, vai responder por homicídio e exercício ilegal da medicina, segundo o portal R7. Dani é suspeita de injetar silicone industrial em dezenas de clientes, embora o uso da substância seja proibido em humanos.
Em julho, a bancária Lilian Calixto, de 46 anos, morreu depois da aplicação de metacril nos glúteos, em uma operação feita na casa do médico Denis Cesar Barros Furtado, conhecido como “Doutor Bumbum”. O médico, sua namorada, Renata Fernandes, e a mãe dele, Maria de Fátima Barros, foram presos e indiciados por homicídio qualificado e associação criminosa. No mesmo mês, a professora Adriana Ferreira Capitão Pinto, de 41 anos, morreu após uma lipoaspiração feita pela médica Geysa Leal Corrêa, que não tem especialização para fazer cirurgias plásticas.
Antes de passar por qualquer cirurgia ou procedimento estético, é importante pesquisar o CRM do médico no site do Conselho Federal de Medicina (CFM), além de buscar o RQE, identificação para que sua especialidade médica seja reconhecida. Além disso, vale lembrar que a popularidade de médicos nas redes sociais não é garantia de credibilidade.
Qual é o motivo?
Afinal, o que leva tantas mulheres a se submeter a procedimentos arriscados? A psicóloga clínica e organizacional Livia Marques explica que as pressões sociais pelo corpo perfeito podem contribuir para essa decisão: “vivemos em uma sociedade que valoriza muito o corpo, às vezes até no trabalho isso é cobrado. Muitas pessoas usam as redes sociais para buscar padrões de beleza irreais”.
A psicóloga pondera que a insatisfação com algum detalhe da própria imagem é normal. O problema é quando o descontentamento leva a pessoa a se preocupar com o tema o dia inteiro e a tomar atitudes perigosas para a saúde. “Precisamos observar o que estamos fazendo com o nosso corpo em busca da perfeição. Muitos procedimentos machucam o corpo e podem trazer sérios riscos. O brasileiro tem vários tipos de corpos, cada um tem sua individualidade e isso deve ser valorizado”, diz.
Livia afirma que amigos e familiares devem ficar atentos a pessoas que se preocupam demais com a aparência. “Essas pessoas não conseguem perceber os riscos. Muitas passam o dia contando calorias, tomando medicamentos ou laxantes para emagrecer, ou fazem dietas malucas. O problema pode estar acompanhado de crises de ansiedade e depressão. Quando as coisas não estão bem, é importante buscar ajuda psicológica”, conclui.

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: Marcelo Alves e Reprodução