Violência contra crianças: como identificar e o que fazer

Caso da morte do menino Henry Borel abre os olhos da população para uma triste realidade que pode estar mais perto do que muitos imaginam

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Nas últimas semanas, o noticiário brasileiro deu destaque ao caso do menino Henry Borel, de 4 anos, morto em 8 de março, no Rio de Janeiro (RJ). Segundo o laudo da polícia, o corpo da criança apresentava várias lesões indicativas de agressões. O menino foi levado a um hospital, mas já estava morto quando chegou à unidade. O padrasto de Henry, o vereador e médico carioca Jairo Souza Santos Júnior, conhecido como Dr. Jairinho, e a mãe do menino, Monique Medeiros, namorada dele, foram presos temporariamente por 30 dias, suspeitos da morte da criança. A polícia revelou que encontrou mensagens de celular que indicam que o vereador agredia o menino e que a mãe sabia. As investigações continuam.

De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), mais de 95 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes foram feitas em 2020. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostra que a mãe é a autora mais frequente de violência física, mas os casos mais graves são praticados pela figura paterna (pai, padrasto ou namorado da mãe).

A realidade pode ser ainda pior, pois esses números se referem aos casos denunciados, enquanto muitos nem mesmo chegam ao conhecimento das autoridades ou do público – e podem ser conhecidos tarde demais.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) explica que xingar, humilhar, ser negligente e bater (além de outros castigos físicos) em criança ou adolescente são formas de violência contra o menor de idade.

Verdade ou “birra”?
O psicólogo Yuri Busin, de São Paulo, cita que “quando há filhos, um casal que se separou tem que entender que, embora deixe de ser marido e mulher, nunca pode deixar de ser pais. Eles devem continuar a se comunicar e a se respeitar. A existência de padrastos e madrastas não anula o papel original dos pais. Eles passam a ser peças a mais nessa dinâmica. Tudo que está relacionado à criança deve ser conversado pelos pais e ela deve participar. Não se deve só levar o filho para estar com o outro sem que conversem, por causa de raiva ou algo mal resolvido”.

E o que fazer quando a criança resiste a ir para a casa de um dos pais, como acontecia com Henry, segundo revelaram as investigações? “Deve haver uma conversa sobre isso entre os pais e tudo deve ser perguntado. É óbvio que crianças fazem ‘birra’ – como não querer ir para a casa de um deles porque existem muitas regras e na do outro não – e por isso mesmo é importante que haja essa comunicação entre os pais e com a criança para diferenciar o que é uma ‘fuga’ do pequeno ou um relato real, principalmente quando isso se repete muito”, orienta Busin. Segundo ele, os adultos devem prestar atenção ao que a criança fala em casa e também na escola, com os amigos e em outros ambientes.

Caso os pais entendam que é um relato real, “devem procurar ajuda especializada para o menor, como um psicólogo infantil, pois muitas vezes o pequeno não sabe verbalizar bem o que houve e o profissional tem métodos para ajudá-lo a se expressar. Caso a violência seja comprovada, é necessário procurar as autoridades e não tentar resolver a situação por conta própria, o que pode trazer mais consequências negativas”, diz Busin.

Após saber, o que fazer?
O Unicef aponta que os casos de violência contra menores em casa podem ter aumentado durante a pandemia do novo coronavírus, pois as crianças ou adolescentes estão longe da observação dos colegas, amigos, professores e familiares que moram em outras casas e não conseguem relatar o que está acontecendo a eles.

Violência contra crianças: como identificar e o que fazer
Mesmo assim, caso algo seja notado, o Unicef considera que os casos sejam denunciados às autoridades locais. Para a instituição, o Conselho Tutelar de seu bairro pode ser o canal mais rápido para proteger os menores da violência, mas veja no quadro abaixo outros órgãos que devem ser acionados para realizar denúncias.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty images