Viciados em videogame

Uma pesquisa indica que um a cada quatro adolescentes brasileiros joga em excesso e está sob risco de ter um vício comparado ao uso de drogas

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Um estudo do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) revelou que 25% dos adolescentes brasileiros jogam videogames em excesso, o que pode levá-los ao que os psicólogos e psiquiatras chamam de Transtorno de Jogo pela Internet (TJI), recentemente classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença.

Os números são preocupantes, pois esse problema é bem maior entre os jovens brasileiros do que entre os de todos os outros países com pesquisas semelhantes (a média entre eles está entre 1,3% a 19,9%). Segundo o estudo da USP, essa questão precisa ser tratada como epidemia e a principal recomendação é que pais e professores controlem o tempo de jogo dos menores.

O IP revelou na pesquisa que o excesso de games desestimula atividades escolares e sociais, além de causar sintomas como agressividade, ansiedade e até tremores quando o jovem fica em abstinência. O adolescente deixa de viver outros aspectos importantes da vida, como a interação familiar e com amigos e até mesmo de dormir e se alimentar para jogar.

Segundo a psicóloga Thaiana Brotto, de São Paulo, há dois tipos de vício em jogos eletrônicos: o em videogames tradicionais, jogados individualmente, que implicam em cumprir uma missão ou atingir muitos pontos; e o vício em jogos multiplayer (dois ou mais jogadores), realizados on-line e que não têm um “final” a ser alcançado, o que o torna ainda mais viciante.

Thaiana diz que em muitos jogos desse segundo tipo o usuário cria uma identidade virtual e corre o risco de “se refugiar” nela, interagindo sob essa máscara on-line com outros internautas e deixando as relações do mundo real em segundo plano ou tornando-as inexistentes.

Uma das principais razões de os games serem tão viciantes, opina Thaiana, é justamente o fato de eles terem sido criados para isso: “designers, programadores e desenvolvedores estão em busca do lucro e, por isso, procuram maneiras de obter mais pessoas jogando seus jogos. Eles usam essa técnica ao fazerem jogos desafiadores o suficiente para manter os jogadores ligados, mas não tão desafiadores para fazê-los desistir”.

Depressão
Assim como qualquer outro transtorno compulsivo, o vício em videogame pode levar a consequências negativas graves a longo prazo, diz Thaiana: “um viciado, muitas vezes, evita dormir ou fazer refeições adequadas para continuar jogando. Embora os efeitos a curto prazo incluam fome e fadiga, eles podem se transformar eventualmente em distúrbios do sono ou problemas de saúde relacionados à dieta, como anorexia, diabetes e desnutrição”.

Ela também cita outros efeitos, como “consequências financeiras, acadêmicas e profissionais” e, além disso, “estudos recentes sobre as relações entre o vício em videogames e depressão mostraram uma correlação alarmante entre os dois”. Thaiana recomenda tratamento especializado e alerta que tratar o vício sem tratar a depressão pode fazer o comportamento compulsivo voltar.

Ela deixa uma recomendação final: “a recuperação nem sempre é fácil, mas é possível. O vício em videogames pode ser tão perigoso quanto qualquer outro e deve ser tratado como tal. O primeiro passo para superar a dependência é ser capaz de reconhecer que ela existe”.

SINTOMAS DO VÍCIO EM JOGOS

Sentimentos de inquietação e/ou irritabilidade quando não está jogando

Preocupação ou ansiedade em relação ao jogo on-line e sentimento de antecipação com a próxima sessão

Mentir para amigos ou familiares sobre quanto tempo passa jogando

Isolamento para passar mais tempo no jogo

Fadiga

Enxaquecas por grande concentração ou esforço dos olhos

Síndrome do túnel carpal (dormência e formigamento na mão e no braço causados por um nervo comprimido no punho), pelo uso excessivo do mouse ou controle

Descuido com a higiene pessoal

Fonte: Thaiana Brotto, psicóloga

Melhor remédio: prevenção

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), assim como citado pelo IP, pais e responsáveis devem controlar (e até restringir, se for o caso), bem como acompanhar o uso dos games (principalmente os on-line) e evitar os que incitem à violência, conforme as dicas:

Restringir de forma absoluta jogos, vídeos e redes sociais para crianças abaixo de 2 anos;

De 2 a 5 anos, permitir no máximo 40 minutos por dia;

A partir dos 5 anos, é possível dar mais liberdade, mas com controle e presença de um adulto responsável;

Definir horários para o uso. Nada de deixar jogar uma tarde toda, virar a noite ou passar o fim de semana
inteiro jogando;

Estimular atividades sociais entre familiares e amigos, incluindo fora de casa e ao ar livre;

Preferir jogos com fundamentos úteis que melhorem as habilidades (música, desenho, escrita, coordenação motora, etc.), em vez dos violentos ou com apelo sexual;

Convidar os amigos para brincarem presencialmente, mesmo com o videogame, para desenvolverem a capacidade de criar laços.

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Colaborador

Redação / Foto: getty images