Terceirização da culpa: um obstáculo espiritual à transformação

Por que culpar os outros se tornou o caminho mais fácil – e o mais nocivo – para a vida espiritual?

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Muitas pessoas vivem um ciclo repetitivo de problemas, sempre atribuindo a terceiros a causa da própria dor. Afinal, é mais fácil culpar os outros pelo próprio erro do que assumir a responsabilidade. Esse comportamento não nasceu ontem e passou a fazer parte da natureza humana no Éden. Logo depois do primeiro pecado, Adão culpou Eva e, de forma indireta, o Próprio Deus, ao alegar que fora Ele quem lhe dera aquela mulher. Eva, por sua vez, apontou que a culpada era a serpente. A cena descrita em Gênesis 3:12 é a primeira prova do quanto o coração humano, ao se afastar de Deus, tenta se blindar da verdade e usa justificativas.

Ainda repetimos o padrão do Éden

Milênios já passaram, mas o padrão permanece o mesmo: as pessoas apontam as circunstâncias, as pessoas e até Deus como responsáveis pelos seus erros. Muitas afirmam que, se Ele realmente existisse, não permitiria o sofrimento e outras dizem que se afastaram da fé porque foram magoadas ou porque viram maus exemplos na igreja. A lista de desculpas é interminável.

No fundo, tudo se resume à antiga tentativa de se isentar da responsabilidade. A terceirização da culpa é, na verdade, uma forma de usar o livre-arbítrio, que é o maior poder que o ser humano possui, de uma forma completamente equivocada: contra si mesmo.

Quando justificamos nossos erros, perdemos a oportunidade de ter uma experiência real com o Espírito Santo e de viver a plenitude das bênçãos de Deus. O problema não é apresentar o pretexto de que fomos feridos, injustiçados ou prejudicados, pois isso acontece com todos nós. O erro é negar nossa parcela de responsabilidade na reação, nas decisões e nos caminhos que tomamos a partir desses acontecimentos.

O ciclo espiritual do autoengano

A terceirização da culpa segue uma sequência de fatos nocivos: o problema surge e, quando a pessoa é confrontada, ela se defende com justificativas e, com isso, o resultado é a estagnação. Não só a emocional ou comportamental, mas a espiritual. Esse ciclo fortalece o autoengano, que é um dos maiores inimigos da fé, já que cada desculpa cria uma camada a mais de cegueira espiritual.

A Bíblia é clara: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos…” (1 João 1:8). Quando alguém se convence de que não errou ou de que a culpa é sempre do outro, perde a capacidade de enxergar o próprio coração. Surge então uma vida baseada em justificativas, mágoas, ressentimentos e acusações e, espiritualmente, isso transforma a pessoa em vítima permanente e em alguém incapaz de avançar.

Responsabilidade: o primeiro passo para a transformação espiritual

Você precisa se fazer uma pergunta simples, mas profunda: qual é a minha responsabilidade na desordem da qual me queixo? Assumir a responsabilidade não é se culpar, mas retomar o controle da vida espiritual.

Enquanto a pessoa culpa terceiros, ela se torna refém das circunstâncias. Se o problema é do outro, resta apenas esperar que o outro mude – e isso pode não acontecer nunca.

Responsabilizar-se é reconhecer que, mesmo em situações de injustiça, há uma escolha a fazer: alimentar a mágoa ou buscar o perdão; justificar a inércia ou buscar a Deus; esconder o erro ou se confrontar com ele.

Arrependimento: a porta para o perdão e para a restauração interior

O arrependimento verdadeiro exige coragem espiritual. Ele ilumina o que estava escondido, destrói as desculpas e abre caminho para uma nova vida.

A Palavra de Deus garante em 1 João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar…”. O perdão de Deus não é automático, mas é concedido àqueles que reconhecem suas falhas e desejam mudar. O arrependimento genuíno sempre produz novas atitudes.

Assumir a responsabilidade diante de Deus não modifica apenas nosso comportamento, mas transforma nossa alma. É essa ação que produz maturidade espiritual, restauração interior e uma fé sólida.

No fim, tudo se resume a uma escolha: culpar o mundo e permanecer estagnado ou reconhecer a própria responsabilidade e experimentar a transformação que só Deus pode realizar.

A raiz espiritual do problema

  • Por trás da terceirização da culpa, existem raízes
    profundas:
    • orgulho;
    • medo de consequências;
    • insegurança;
    • desejo de proteger a autoimagem; e
    • dificuldade de lidar com a própria imperfeição.

Todas essas raízes têm algo em comum: são barreiras espirituais que impedem a entrada da luz de Deus. O orgulho, especialmente, é a mais perigosa delas.

Deus afirma em Tiago 4:6: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.”
O orgulho impede que as mudanças e o arrependimento ocorram, mas, acima de tudo, impede a ação de Deus.

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Colaborador

Núbia Onara / Foto: wildpixel/getty images