Ser valente ou corajoso?

A maioria dos homens está pronta para brigar nas ruas, mas essa atitude está longe de ser coragem ou inteligência

Imagem de capa - Ser valente ou corajoso?

“Dou um boi para não entrar em uma briga, mas uma boiada para não sair dela.” A famosa frase soa como se saísse da boca de alguém valente, mas está longe de ser creditada a um corajoso. Acontece que a valentia não anda de mãos dadas com a sabedoria nos momentos de maior exaltação, quando é preciso coragem para não sair no tapa. Enquanto valentia é coisa de “macho”, a Bíblia define a prudência como coisa de homem: “A ira do insensato se conhece no mesmo dia, mas o prudente encobre a afronta” (Provérbios 12.16).

Para muitos, os menores desacordos são motivos para brigar (ouvir uma buzina no trânsito, ver a camisa de um time de futebol, um olhar atravessado e outras mesquinharias parecidas). Foi o que mostrou uma pesquisa realizada pelo Ipec e pelo Instituto Patrícia Galvão: 69% dos homens dizem que não são violentos, mas revidam quando se sentem ofendidos. Já 45% aderem à frase que abre este texto, enquanto 37% garantem que não levam desaforo para casa.

Em resumo: está cheio de homem por aí se dizendo “pessoa de paz”, mas pronto para resolver no tapa qualquer pequena desavença.

Contudo as consequências disso são sempre ruins. Sempre vemos notícias de brigas que acabaram em morte, infelizmente. E, mesmo quando a briga física não acontece, a simples discussão já causa estresse e ansiedade, o que afeta a pessoa mental, física e espiritualmente. Mas não se prega que um homem precisa se defender? Claro, mas é diferente “fazer algo porque é preciso” e “fazer o que se tem vontade no calor da emoção”.

Sejamos francos: às vezes, bate mesmo aquela vontade de “sentar a mão” em quem comete grandes ofensas ou desrespeito, mas as Escrituras recomendam, em Tiago 1.19-20: “Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”. E pensemos melhor: apesar da vontade de descer o sarrafo, atender a esse desejo nem de longe é tão prazeroso quanto o alívio de não ceder a ele. Foi isso, não exageradamente, que fez a diferença entre a vida e a morte para muitos.

Uma das qualidades de quem tem o Espírito Santo é a sensatez, que, por sua vez, traz equilíbrio. A ira surgirá? Algumas vezes, sim, mas logo ela será abafada por um poder bem maior do que um simples impulso. Quando um homem não tem mais forças (inclusive para resistir à tentação e manter o equilíbrio), procura-a em Quem a tem de sobra e acha.

Ser chamado de “frouxo” ou coisa parecida mexe com o brio masculino, mas quem é cristão, ou seja, um “pequeno Cristo”, na etimologia da palavra, não se importa e segue os preceitos do Messias contra a violência, mesmo que isso gere críticas.

Um personagem que era bem conhecido por ser “sangue quente” e foi transformado pelo Espírito, o apóstolo Pedro, passou adiante seu aprendizado: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1 Pedro 4.14-16). Ou seja, o homem inteligente que possui o equilíbrio do Espírito Santo não age violentamente, independentemente do motivo.

imagem do author
Colaborador

Marcelo Rangel / Arte: Eder Santos