Se eu fosse você, não seria tão moderninha

O mundo virtual criou um cenário de felicidade que pode ser só aparência

Imagem de capa - Se eu fosse você, não  seria tão moderninha

Nos dias atuais, graças à tecnologia, trocamos parte da rede de amigos do convívio real pelas amizades virtuais. Você, com certeza, já percebeu a grande frequência de postagens de momentos aparentemente felizes de seus amigos ou pessoas públicas que você segue em suas redes sociais.
A pessoa viaja e posta nas redes; encontra amigos e faz uma postagem; sai para comer algo e publica a imagem do prato; compra algo ou ganha um presente e, claro, anuncia nas redes. E por aí vai.
Não que isso seja um problema ou que a felicidade não exista nessas ocasiões, não! Todos são livres para divulgar o que quiserem da própria vida. A preocupação se relaciona a dois aspectos: o fato de a pessoa condicionar sua felicidade ao número de curtidas e comentários que recebe em suas postagens; e se as pessoas que acompanham tais postagens compararem os posts “felizes” com sua realidade e se frustrarem por não acharem graça na vida que levam.
Visão da fé
Recentemente, no programa Entrelinhas, disponível no site univervideo.com, a apresentadora Cristiane Cardoso e suas convidadas discutiram o tema fé e modernidade. A apresentadora defendeu que, embora as pessoas estejam cada vez mais conectadas, também estão mais insensíveis. “As pessoas deixaram de valorizar momentos simples, a exemplo de uma mãe que leva os filhos ao parque e, em vez de aproveitar esse tempo com as crianças, fica tirando fotos para mostrar para as amigas que esteve no local, que sua família é feliz e que ela é boa mãe”, disse.
Um grande prazer
Para a psicoterapeuta e life coach Eliana Barbosa, esse comportamento de superexposição nas redes alimenta o narcisismo (amor pela própria imagem) e é viciante. “Os neurocientistas explicam que, quando recebemos uma curtida, nosso cérebro gera uma descarga de dopamina, o neurotransmissor produzido quando sentimos prazer, ganhamos dinheiro ou comemos chocolate.”
A especialista afirma que um “like” ajuda a reforçar a autoestima da pessoa, porém, quando ela passa a viver ansiosa e na expectativa de um feedback positivo, de um elogio, de uma curtida, é melhor se policiar e observar se já está “viciada”. “Dependendo da pessoa, isso pode levá-la ao transtorno de ansiedade e até ao estresse, bem como a episódios de tristeza e decepção, se não receber o reconhecimento que espera nas redes sociais”, alerta.
Eliana comenta ainda que esse comportamento revela carência afetiva, baixa autoestima e forte necessidade de ser vista, admirada e aprovada. A consequência na vida dessa pessoa, além dos problemas decorrentes de qualquer vício, pode ser o afastamento da realidade e ainda daqueles que realmente importam em sua vida, ou seja, ela se tornar uma alienada.
Se expor ao ridículo
Eliana diz que essa modernidade pode gerar no público que acompanha tais postagens de “felicidade permanente” um sentimento de inadequação, inferioridade, além de um quadro de ansiedade por basear sua vida no que vê na de terceiros. “De tanto querer a aprovação do outro, a pessoa acaba se tornando um mendigo de likes e, muitas vezes, nem percebe o ridículo a que se expõe na tentativa de ser admirada” , revela.
A realidade por trás de muitos posts
Para Eliana, grande parte das pessoas que se expõe o tempo todo, exceto aquelas que trabalham com as redes sociais, faz isso como uma forma de maquiar a própria realidade. Ela lembra ainda que essa necessidade de serem admiradas em tempo integral as afasta de sua verdadeira essência.
A psicoterapeuta diz que, embora as redes sociais sejam ótimas ferramentas para aumentar nosso círculo de amigos e manter vínculos, hoje em dia, elas se tornaram motivo de preocupação para os profissionais que atuam e estudam o comportamento humano.
3 dicas para usar as redes sociais a seu favor

  • ORGANIZAÇÃO: acorde com todos os seus afazeres do dia anotados em sua agenda e só utilize as redes sociais em horários previamente marcados por você. Seja disciplinada
  • DESAPEGO: durante as refeições e na hora de dormir, deixe todos os seus aparelhos – smartphones, tablets, laptops, etc. – bem longe de você. Dedique aos seus familiares e amigos, sempre presentes em sua vida, a atenção que eles merecem
  • DISCRIÇÃO: cuidado com o que posta nas redes sociais. Pare de se expor, de contar detalhes de sua vida, na ânsia de ser “mais vista” pelos outros. Embora você esteja rodeada de “amigos virtuais”, quando precisar de apoio, os que estarão ao seu lado serão aqueles com quem você conviver melhor em seu dia a dia, em especial seus entes queridos

Fonte: Eliana Barbosa, psicoterapeuta e life coach

imagem do author
Colaborador

Kelly Lopes / Foto: Fotolia