Relações amorosas no trabalho são viáveis?

Entenda as consequências de uma prática comum que pode impactar sua trajetória profissional

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Relacionamentos amorosos no trabalho costumam gerar controvérsias, seja pelos impactos negativos, seja pela discussão sobre sua proibição ou não. Em setembro passado, o CEO da Nestlé foi demitido depois que se envolveu com uma subordinada. Em julho, um suposto caso de infidelidade entre o presidente de uma empresa de tecnologia e sua chefe de recursos humanos, flagrados juntos em vídeo durante um show do Coldplay, nos Estados Unidos, viralizou nas redes. Os dois exemplos nos levam a questionar: é possível manter relações afetivas no ambiente profissional?

Tema sensível

Para Edwiges Parra, conselheira em gestão de pessoas, psicóloga e professora dos programas de Educação Executiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, e do curso de pós-graduação em Dependências Digitais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, esse tipo de relacionamento no trabalho é um tema sensível e não tem regras fixas. “As empresas variam desde proibições estritas até a aceitação com ressalvas. A maioria delas não proíbe, mas estabelece normas de conduta muito claras”, aponta.

Normas objetivas

Edwiges reconhece que os relacionamentos podem surgir por conta do tempo significativo que as pessoas passam juntas no trabalho e, por isso, as normas têm um foco definido. “O objetivo principal é proteger o ambiente organizacional, a imagem e a marca da empresa, especialmente nesta era de redes sociais, evitar conflitos de interesse, garantir a imparcialidade nas decisões, prevenir constrangimentos, assédios, favoritismos ou retaliações e ainda preservar a equipe de impactos emocionais negativos”, analisa.

Imagem dos envolvidos

Ela cita os principais erros cometidos nos relacionamentos que acontecem no ambiente de trabalho: “Misturar funções profissionais com emocionais, o que interfere em decisões, favorecer o parceiro ou agir sem discernimento técnico. Também é comum a falta de discrição, com demonstrações públicas de afeto ou discussões durante o expediente”, pontua.

Comunicado

Ela observa que o relacionamento deve ser comunicado à empresa: “Informar com transparência gera proteção tanto institucional quanto emocional para todos os envolvidos e permite que as partes e a organização façam ajustes necessários, evitando conflitos de interesse, protegendo as pessoas envolvidas e garantindo que avaliações e promoções sejam justas e imparciais”.

Medo de represálias

As pessoas, porém, costumam esconder quando estão envolvidas em um relacionamento no trabalho. “Os principais motivos são o medo de represálias, de serem mal interpretadas e o receio de prejudicar a própria imagem profissional. A preocupação com fofocas é legítima, já que não se consegue controlar o que se passa na cabeça das pessoas e o que elas proferem. E, se o homem tem um papel de liderança, sempre recai na mulher uma questão de descrédito”, analisa.

Isso gera demissão?

Muitos casais também não comunicam à empresa que mantêm uma relação por receio de serem demitidos. “A demissão não deve ocorrer pelo relacionamento em si, mas sim pelos seus efeitos ou pela violação de políticas internas, envolvimento em assédio ou abuso de poder, afetação negativa do ambiente de trabalho e das entregas, conflitos de interesse não tratados ou não conformidade com as regras de compliance e a recusa de um dos lados em aceitar ajustes de função para evitar influência hierárquica”, esclarece.

Preparo emocional

Ela recomenda ainda separar claramente o papel profissional e o pessoal. “Evitar liderar ou ser liderado pelo parceiro é essencial para manter a imparcialidade e impedir conflitos. O respeito mútuo e o diálogo constante são fundamentais, assim como não levar problemas pessoais para o ambiente corporativo. É importante manter a postura profissional, priorizar a razão e conhecer as políticas da empresa. Na ausência de regras claras,
deve-se agir com ética, maturidade e responsabilidade, avaliando se há preparo emocional para lidar com esse tipo de relação”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: Thomas Northcut/getty images / Arte: Edi Edson