Regras são indispensáveis à sociedade
Pesquisa mostra que brasileiros reconhecem que é fácil violar as leis no País
Para quase tudo que fazemos existe algum tipo de regra. Imagine dirigir em um trânsito sem leis ou assistir à partida do esporte preferido sem um juiz. Como seria uma escola sem leis e parâmetros educacionais?
É comum ver os brasileiros se manifestarem quando os políticos se envolvem em corrupção. Seja na rede social ou em órgãos públicos, as pessoas têm exigido seus direitos cada vez mais. Entretanto, a transgressão das leis pela população também é frequente e abarca desde o consumo de pirataria até a embriaguez ao volante.
Um estudo recente da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas, chamado Índice de Percepção do Cumprimento das Leis, avaliou a percepção dos brasileiros sobre o compromisso com as leis. Segundo os entrevistados, a violação das regras é cometida e motivada pelas falhas nas leis e pelo mau exemplo de autoridades. Pesquisadores entrevistaram 3.300 pessoas de oito Estados brasileiros no primeiro semestre de 2015. Segundo o levantamento, em uma escala de 0 a 10, os participantes com mais de 60 anos possuem mais comprometimento com o cumprimento das normas (7,4%), enquanto os mais jovens, com idade entre 18 e 34 anos, apresentam o menor índice (6,6%). Ainda de acordo com a pesquisa, 80% reconhecem que é fácil desobedecer às leis no País e 81% concordam que o cidadão sempre apela para o “jeitinho brasileiro”.
A partir dos dados do relatório, os pesquisadores concluíram que a possibilidade de desrespeitar a lei é inversamente proporcional à probabilidade de ser punido, ou seja, quanto menor a chance de ser punido, maior é a frequência de condutas desrespeitosas.
No relatório, os indicadores de imoralidade no trânsito foram os mais altos. Infelizmente, o desrespeito às leis de trânsito tem gerado graves consequências. Em 2016, o Brasil foi considerado o quarto País com mais mortes no trânsito na América, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), com uma taxa de 23,4 mortes para cada 100 mil habitantes. E, segundo o balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2016, foram emitidos 5.589.851 autos de infração nas rodovias federais.
Natureza humana
Em uma sociedade capitalista, a regra que aparentemente não tem utilidade para si mesmo é um atrativo à infração. E, se fazer o certo consumir tempo, o indivíduo provavelmente optará pelo mais prático. Um exemplo cotidiano é não pisar na grama. Mesmo com a indicação da placa, muitos insistem em passar por ela para chegar mais rápido ao local desejado. Cumprir regras, às vezes, exige um sacrifício maior, então qual a importância delas?
Para Andrea Gadea Heringer, psicóloga e coach, as regras conscientizam, educam as pessoas e ajustam os relacionamentos, seja no contexto profissional, familiar, amoroso ou social. “Respeito e ordem são valores fundamentais para nossa existência. As regras refinam a atitude e a intenção humana. Elas lapidam nosso lado primitivo para uma performance mais elaborada.”
A psicóloga afirma que a transgressão às leis e regras é uma questão de ordem social, causada pelo produto de um processo incompleto de socialização. “A aproximação com nosso lado primitivo tem relação com nossa parte instintiva, que é reprimida em função da civilização. A falta de referências, a falsa sensação de liberdade e a falta de controle motivam o desrespeito à ordem e promove o caos nas relações. A transgressão também pode ser uma resposta direta ao tédio e ao vazio interior.”
Todas as ações humanas trazem consequências, sejam elas boas ou ruins. É a lei da ação e reação. Segundo a especialista, quando os limites não são impostos em casa, o indivíduo recebe as “punições” das transgressões fora do contexto familiar. “Isso se reflete nas relações interpessoais. Então, para que tenhamos uma boa convivência em todas as esferas da vida, é importante aprender a ter limite desde cedo”.
É preciso ser moldado
Os valores ensinados nas primeiras fases da vida são os que nortearão o adulto no futuro. A psicóloga pontua que a criança tratada com amor, respeito e limites possivelmente será um adulto seguro e respeitoso. “Os pais são os responsáveis por ensinar comportamentos apropriados e adequados. As regras e limites funcionam como uma rede de segurança, pois asseguram os direitos e deveres de todos e contribuem para a formação do futuro adulto.”
Para os que cresceram sem esse ensinamento o conselho é colocar-se no lugar do outro. “Esse é o passo principal para entender a importância das regras. Da mesma forma que aprendemos a andar, comer, falar, interagir e conviver nas relações interpessoais, aprendemos também a desenvolver novas habilidades e competências, isso é treino. A assertividade e o respeito também são aprendidos com o tempo e a maturidade emocional.”
Se os mais de 7 bilhões de seres humanos já nascessem educados, não seria necessário estabelecer normas ou instituir leis. Portanto, as regras contribuem para o bom funcionamento da convivência social, pois instruem o comportamento do indivíduo e proporcionam segurança a todos.
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