Racismo por toda parte

Ataques ofensivos mostram que a cor da pele ainda é grande alvo de preconceito. A conscientização e a denúncia são armas eficazes para combatê-lo

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Pare para pensar: quando foi a última vez que você soube de algum ataque preconceituoso ou racial? Não é difícil recordar de algum caso. Afinal, os noticiários mostram inúmeros deles em todas as partes do mundo.

Recentemente, a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, foi vítima de racismo em uma rede social após a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas.

De acordo com o jornal The Washington Post, a publicação, escrita no Facebook por Pamela Ramsey Taylor, diretora do Escritório de Desenvolvimento do Condado de Clay, na Virgínia Ocidental, dizia: “Será revigorante ter de novo na Casa Branca uma primeira-dama elegante, bonita e digna. Estou cansada de ver uma macaca com saltos”.

Concordando com a postagem racista, a prefeita de Clay, Beverly Whaling, registrou o seu apoio a Pamela, fazendo o comentário: “Você me fez ganhar o dia, Pam”.

A polêmica publicação não demorou para obter repercussão e foi comentada por milhares de internautas. A onda de indignação se espalhou rapidamente em uma campanha on-line que arrecadou mais de 160 mil assinaturas de pessoas favoráveis à punição das duas mulheres. Por conta disso, Pamela foi demitida e a prefeita, pressionada a renunciar.

Diplomata discriminada

Não é só nos Estados Unidos que os frequentes ataques raciais “dão as caras”, mesmo dentre pessoas com boas condições financeiras ou que ocupem um ótimo cargo em empresas.

Por aqui, a ex-consulesa francesa Alexandra Baldeh Loras, de 39 anos, é um exemplo claro do racismo disfarçado que existe no País. Seu marido, Damien Loras, se tornou cônsul francês no Brasil em 2012, mas o fato não a tornou livre de discriminação racial. Apesar de falar com sotaque e usar roupas de grife, por onde ande ela é discriminada por ser negra. Alexandra já foi tachada de traficante em aeroportos, barrada em hotel cinco-estrelas e clubes, questionada por não estar vestida de branco em shoppings e até tratada como babá do seu filho, porque ele tem pele clara.

Ela já revelou à imprensa brasileira que durante os eventos que recepciona os convidados demoram para perceber que ela é a anfitriã. O espanto das pessoas aumenta ainda mais quando a veem ao lado do marido.

Graças à experiência que tem por ter passado por mais de 50 países, Alexandra aponta que o Brasil é o país mais racista do mundo. Isso porque aqui temos a segunda maior população negra mundial, mas pouquíssimos negros valorizados na sociedade.

Apesar de não ser mais consulesa, mesmo diante de ataques preconceituosos, ela continua vivendo no Brasil com sua família porque conseguiu se tornar uma das mais jovens ativistas da causa negra no País. Estudiosa do assunto, já que fez mestrado no Institut d’Études Politiques de Paris (uma das faculdades de política mais respeitadas no mundo), ministra palestras e faz importantes participações em eventos e programas de TV para falar de igualdade racial.

Cada um faz a sua parte

Todos os dias as pessoas se deparam com manifestações de racismo e preconceito, ora de forma velada, ora de modo explícito e até mesmo violento. Mas apenas algumas ganham a mídia. Outras, pelo fato de não serem divulgadas, caem no “esquecimento”.

Além de ser crime, o racismo pode até matar. Segundo o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, as mortes de jovens negros chegam a 70 mil por ano no Brasil.

A historiadora e pedagoga Maria Clara Adonis Ribeiro afirma que apenas o combate ao preconceito racial faz com que os criminosos sejam punidos. “A falta de um combate direto faz com que a situação se perpetue no País. Por isso, é preciso punir em curto prazo as pessoas que fazem declarações racistas”, esclarece.

Para ela, esse combate é feito por meio das denúncias. “Muitas pessoas têm medo de denunciar, mas, quando não há denúncia, há mais impunidade. Se passar por algo desse tipo, faça uma queixa policial”, recomenda.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 57% da população formada por negros e pardos. Apesar disso, a denúncia não deve partir apenas desse grupo. “Todos devem estar engajados quando virem algum ato criminoso de ofensa discriminatória. Além disso, é importante que os formadores de opinião criem grupos de debate”, defende a especialista.

A historiadora destaca que com o avanço da internet o número de pessoas que defendem ideias preconceituosas nas redes sociais se multiplicou. “As pessoas se escondem atrás de uma tela de computador para falar o que bem entendem. Mas é uma falsa sensação de segurança para encobrir um crime.” Ela lembra que, nesses casos, há punição aos ofensores, mesmo que os comentários sejam apagados. “Hoje em dia existe tecnologia suficiente para rastrear pelo computador quem escreveu os comentários”, justifica.

É importante também educar as crianças e os jovens para que conheçam as formas de discriminação. “Hoje, as crianças descrevem as bonecas negras como maldosas, enquanto as brancas são as boazinhas. Textos, histórias, olhares, piadas e expressões não podem ser discriminatórios. Se perceber isso, indigne-se, contextualize para a criança e sensibilize-a sobre o assunto”, finaliza Maria Clara.

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Colaborador

Por Janaina Medeiros / Fotos: AFP