Querem te calar em nome da liberdade

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Nos últimos anos, a comunicação brasileira teve uma grande evolução. Comunicadores e alguns veículos passaram a expor seus posicionamentos e, hoje, é possível encontrar jornais e revistas que assumem que são conservadores. Assim, quem quiser acessar conteúdos com esse tipo de linha editorial sabe que caminho deve seguir. Influencers, youtubers, comentaristas e até jornalistas estão deixando claras suas visões liberais, mas parece que esse comportamento não está sendo visto de forma positiva por aqueles que pensam de modo diferente, uma vez que a censura tem aumentado, sobretudo, no Brasil.

A perseguição à mídia e à liberdade de expressão não decorre apenas de civis, mas diretamente do Supremo Tribunal Federal (STF) e até do Congresso Nacional. Exemplo: Renan Calheiros, que tem pelo menos nove processos que envolvem corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pediu, por meio da CPI da Covid, a quebra do sigilo bancário da rádio Jovem Pan (que recuou após pesada repercussão negativa, mas avançou sobre vários jornalistas). Além disso, no dia 17 de agosto, o Instagram removeu uma postagem do apresentador e escritor Renato Cardoso que continha um vídeo do comentarista Augusto Nunes criticando uma medida da Escócia que envolve crianças a partir dos 4 anos e a escolha de gênero. É curioso, para não dizer absurdo, porque Augusto Nunes opinou sobre uma medida real (e não fake news). Trata-se de um ataque claro à democracia.

Além disso, o ministro-corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Felipe Salomão, emitiu uma ordem que suspende a monetização de páginas de canais e perfis do YouTube, Facebook, Twitter, Instagram e Twitch.TV consideradas conservadoras ou de direita. Segundo ele, elas estariam propagando a desinformação. E não para por aí. Todos os valores arrecadados por elas deverão ser encaminhados a uma conta vinculada ao TSE.

A Associação Brasileira de Juristas Conservadores (Abrajuc) afirmou em nota que o Brasil vive um “Estado de Exceção”. “A ordem, manifestamente abusiva, inconcebível em uma democracia, fere de morte o Estado de Direito (…). A decisão em questão, somada às recentes prisões ilegais de um jornalista, de um deputado federal e de um presidente de partido político, configuram inescusável usurpação de todos os poderes do Estado que, em última análise, pertencem ao povo e foram erigidos à categoria de inalienáveis pelo Constituinte de 1988”. O documento reforça a urgência do TSE e do STF mudarem de postura. “Temerosa da dimensão das inevitáveis consequências que essas crescentes incursões nos demais Poderes do Estado ocasionarão e, no intuito de evitar indesejáveis convulsões sociais, a ABRAJUC vem, ainda uma vez e, muito respeitosamente, EXORTAR o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal a retomarem o cumprimento de suas missões constitucionais, com o objetivo de, ladeando o Legislativo e o Executivo, contribuírem para o crescimento e engrandecimento da nação brasileira”.

Dois pesos e duas medidas?
Você já pensou o quanto é difícil ser uma pessoa pública, ainda mais de direita, em um País onde as crianças são ensinadas que quem é conservador é a favor da ditadura e da repressão e os bonzinhos são os que pensam no povo, intitulados “da esquerda”? Uma ignorância propagada que, infelizmente, tem gerado frutos podres.

Precisamos combater a desinformação e respeitar a liberdade de pensamento. E ela só é conquistada em um ambiente democrático.

Quando falamos de censura, falamos de condutas inconstitucionais presenciadas no dia a dia. Não adianta fingir que nada está acontecendo porque esse tipo de ditadura atinge a todos. As instituições brasileiras não estão mais sendo levadas a sério porque estamos sendo obrigados a nos calar “em nome da liberdade” e aceitar comportamentos como esses. Trata-se de defender a democracia e mostrar a importância de lutar pelas instituições da República. Temos o direito de nos manifestarmos, independentemente da nossa visão política.

Aceitar ser influenciado por essas condutas é agir como gado de um sistema tendencioso que não quer perder o controle da massa.

Ana Carolina Cury é jornalista.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty images