Quem você pensa que é x Quem você realmente é

Os desafios da vida não apenas testam nossa capacidade e força, mas revelam quem realmente nos guia e expõem o que existe dentro de nós

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Qual é a sua reação ao se defrontar com uma situação difícil? Todos estamos sujeitos a desafios que, muitas vezes, provocam uma dor intensa na alma. É durante os períodos de fragilidade que revelamos o que realmente habita em nosso interior.

O Senhor Jesus também enfrentou algo assim enquanto viveu como homem na Terra. Apesar de ser perfeito e sem pecado, Ele foi traído, julgado injustamente e condenado. Pouco antes de ser preso, Ele se dirigiu ao Jardim do Getsêmani, ao pé do Monte das Oliveiras – lugar onde as azeitonas eram prensadas para extrair o azeite, símbolo essencial e espiritual do Espírito Santo.

Ali, Jesus também foi “prensado”. Ele viveu uma batalha profunda entre Sua vontade humana e a Vontade de Deus. Angustiado e tomado por uma tristeza profunda, orou três vezes: “… Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a Tua” (Lucas 22:42). Mesmo sentindo o peso da dor e da solidão, Jesus escolheu obedecer plenamente e o que foi extraído dEle naquele momento não foi fraqueza, mas entrega e confiança absoluta no Pai.

A reação dos discípulos

Pouco antes de seguir para o Getsêmani, Jesus compartilhou com Seus discípulos uma revelação dolorosa: “… Todos vós, esta noite, vos escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão” (Mateus 26:31). Era como se Ele dissesse: “Vocês ainda não estão prontos para o que está por vir”.

Pedro, sempre impulsivo e confiante, foi o primeiro a reagir à pressão daquele momento: “… Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei” (versículo 33). Ele acreditava que estava preparado: afinal, tinha caminhado com o Mestre por três anos, presenciado milagres e aprendido sobre a fé em vários cenários: no mar, no deserto, no monte, nas casas e nas multidões.

Mas Jesus, que vê além das palavras e conhece os corações, afirmou que, naquela mesma noite, ele O negaria três vezes. Pedro, por sua vez, insistiu: “… Ainda que me seja necessário morrer contigo, não te negarei” (versículo 35). Os demais disseram o mesmo. Pouco tempo depois, Pedro O negou e todos os discípulos O abandonaram.

Palavras não bastam

Quantas vezes alguém já declarou: “Eu entrego minha vida ao Senhor”, “Nunca Te abandonarei”, “Eu Te amo”, “Vou Te servir até o fim”. Mas, ao viver uma injustiça, uma perda, uma decepção ou até o silêncio de Deus, essas palavras se perderam. A pressão foi maior do que a convicção e ele virou as costas para o Senhor Jesus, assim como os discípulos fizeram.

Pedro também respondeu com firmeza que jamais negaria o Mestre. Vemos, ao ler as Escrituras, que ele se destacava pela iniciativa, pelas obras e até pela fé que inspirava outras pessoas. Ele tinha boa intenção, disposição para agir e coragem para se expor, mas sua natureza ainda não fora transformada pelo Espírito Santo. Pedro se apoiava no que fazia e no tempo que esteve ao lado de Jesus.

Hoje, muitos vivem dessa mesma forma: acreditam que estão bem espiritualmente, mas ainda não receberam o Espírito Santo – ou deixaram que Ele se apagasse dentro deles. Eles vivem um autoengano perigoso: pensam que estão preparados quando, na verdade, não estão. Eles confiam nas obras, no tempo de igreja, nas palavras que dizem, mas não reconhecem sua real condição. E, por isso, correm o risco de parar no meio do caminho.

Vencidos pelo tempo

O Getsêmani também revelou o que havia dentro dos discípulos que acompanharam Jesus naquele momento decisivo. Enquanto o Senhor enfrentava a mais intensa agonia de Sua vida, Pedro, Tiago e João – os três que estavam mais próximos – não resistiram ao cansaço e dormiram. Jesus precisou acordá-los
três vezes.

Isso é curioso se nos lembrarmos que eles eram pescadores. Acostumados ao trabalho duro, muitas vezes passavam noites em claro enfrentando o mar, mas, quando Jesus pediu que estivessem com Ele em oração, não conseguiram permanecer firmes. O peso da hora os venceu!

A mesma situação ocorre hoje em dia. Quantas pessoas dão tudo de si no trabalho, na família, no cumprimento das responsabilidades do dia a dia, mas, quando se trata de fé, não têm a mesma disposição? Elas não conseguem manter uma rotina de meditação na Palavra de Deus ou sustentar um propósito de oração. E até as que vestem um uniforme e ocupam um cargo na igreja, com o passar do tempo, desanimam.

O Getsêmani revela que a força física e o histórico de serviço não sustentam alguém na hora da pressão. É a comunhão viva com Deus que nos ampara. Sem ela, qualquer pessoa pode adormecer quando deveria estar acordada.

A máscara da hipocrisia

Judas foi outro discípulo que teve o interior exposto. Sua história é conhecida: ele traiu Jesus. Antes disso, ele caminhou com o Mestre, ouviu Seus ensinamentos e, poucas horas antes de entregá-Lo, sentara-se à mesa da Santa Ceia.

Durante aquele momento sagrado, Jesus revelou: “Um de vós me há de trair” (Mateus 26:21). Mesmo já tendo acertado o valor da entrega com os sacerdotes, Judas teve a ousadia de perguntar a Jesus se seria ele. Seu erro, contudo, não começou ali: ele roubava ofertas, enganava e alimentava intenções ocultas que ninguém via, mas Deus via tudo.

Quando a pressão chegou, ele revelou o que carregava: abandonou a fé, entregou o Mestre e, tomado pelo remorso, tirou a própria vida. Seu fim mostra alguém que, ao ser prensado, tem extraído o pior. Esse exemplo nos ensina que não adianta manter uma aparência de fé se nosso interior estiver vazio e corrompido. Ele prova que, quando tiramos os olhos do que é eterno e buscamos só o que é material e passageiro, o risco de nos perdermos espiritualmente é enorme e que, na hora da pressão, certas decisões podem nos afastar definitivamente de Deus.

Como suportar a pressão?

Conhecimento, presença na igreja e boas obras não sustentam ninguém perante as pressões da vida. Para suportar a “prensa” é indispensável ter o azeite, que é o Espírito Santo. É Ele Quem fortalece, guia e sustenta o ser humano quando tudo parece desabar. Sem Ele, qualquer pessoa, por mais instruída ou experiente que seja, cede diante das dificuldades.

Foi somente depois que receberam o Espírito Santo que os discípulos se tornaram verdadeiramente fiéis. A partir daquele momento, nasceu uma igreja forte, capaz de enfrentar prisões, açoites, perseguições, injustiças e tentações sem negar a fé. Isso porque o azeite estava dentro deles.

O mesmo ocorre hoje: quem tem o Espírito Santo pode até passar por pressões, mas permanece firme, pois não vive guiado por emoções ou opiniões, mas por uma fé sólida e enraizada na entrega total a Deus. Essa pessoa já abriu mão da própria vontade e confia que, independentemente das circunstâncias, o Criador está no controle e a sustentará até o fim.

Uma vida de sacrifício

Jesus reagiu com obediência durante a pressão no Getsêmani porque conhecia o propósito de Deus. E, assim como Ele Se entregou completamente para garantir a salvação dos que creem, quem deseja receber e manter o Seu Espírito também precisa sacrificar a própria vontade.

Esse sacrifício não é um ato único: a vida espiritual é sustentada por renúncias constantes. Diariamente surgem desejos, tentações e circunstâncias que tentam desestabilizar a fé, mas é justamente a decisão de abrir mão da própria vontade que se torna o combustível da verdadeira comunhão com Deus.

Ninguém está imune às pressões. Os discípulos acreditavam que jamais cairiam e, ainda assim, falharam. Isso mostra que, por mais sincera que seja a intenção, existe em nós uma natureza que resiste à Vontade de Deus. Por isso, Jesus veio para nos salvar também de nós mesmos – do impulso de seguir nosso próprio coração. A vida com Deus exige entrega contínua, ou seja, colocar a própria vontade no Altar dia após dia.

Um propósito para todos

Reflita com humildade diante de Deus e permita que Ele revele o que há dentro de você. Afinal, só o Senhor pode extrair o “melhor azeite” – uma vida que exale fé, obediência e sinceridade – e não o “cheiro de morte” que nasce da desobediência e da aparência religiosa vazia.

Aproveite a oportunidade de realização da Fogueira Santa no Jardim do Getsêmani para sacrificar a própria vontade em prol do Espírito Santo e da renovação que só o Criador pode oferecer. Lembre-se: é na prensa que se revela o que é verdadeiro dentro de nós.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Gettyimages