Quase 30% dos brasileiros são analfabetos funcionais

Veja se você não é um deles e o que pode ser feito para resolver esse problema

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O Brasil tem 11,4 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo a estatística oficial não mostra uma informação preocupante: segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgados no início de maio, 29% da população brasileira não sabe ler e escrever ou sabe muito pouco, a ponto de não conseguir identificar números de telefone ou preços. Essas pessoas não conseguem compreender nem pequenas frases. Em outras palavras, três em cada dez brasileiros com idade entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais.

Quadro grave

O Inaf aponta ainda que entre os jovens de 15 a 29 anos o analfabetismo funcional aumentou. Em 2018, o índice era de 14% e, em 2024, subiu para 16%. Segundo os pesquisadores, o aumento pode ser decorrência da pandemia de covid-19, período em que muitos jovens ficaram sem aulas, pois as escolas estavam fechadas.

Ao mesmo tempo, no ano passado, o número de vagas para a educação de jovens e adultos (EJA) diminuiu de 3,2 milhões para 2,3 milhões, o que demonstra uma redução no investimento público na educação dessas pessoas.

Perfil do analfabeto funcional

A pedagoga e professora Ângela Maria Antunes Fonseca, de 57 anos, gestora do CEU Três Pontes, em São Paulo, diz que o analfabeto funcional é aquele que sabe escrever o próprio nome e faz contas muito simples de matemática, como adição e subtração. “Ele tem dificuldade de ler o letreiro de um ônibus de um lugar diferente do que ele está acostumado a ir todos os dias. Ele está acostumado com o desenho das palavras e não necessariamente sabe o que está escrito ali ou o significado delas”, afirma.

Problema complexo

Para Ângela Maria, o analfabetismo funcional é um problema complexo e ela enumera alguns pontos: “As doenças mentais não diagnosticadas também têm a ver com isso. Um hiperativo que às vezes tem dificuldade de ficar sentado tem pensamento acelerado ou um autista nível de suporte 1 que acabam sendo excluídos da escola geram pessoas que são analfabetas funcionais. A fome é outro fator porque quem tem fome não aprende. A violência também contribui para essa realidade: a criança vítima de violência ou que vive num lugar violento tem uma dificuldade séria de aprendizado”.

Pandemia

Ângela Maria explica que o analfabetismo funcional não é um problema novo e que a pandemia agravou ainda mais a situação: “Ela prejudicou a educação no todo, mas principalmente para jovens e adultos. Muitas crianças não tinham acesso on-line para estudar. Até podemos dizer que hoje em dia todo mundo tem celular, mas a maioria não tem um celular que comporte uma aula on-line, por exemplo, ou aplicativos para estudar on-line. Acho que a educação vai demorar de três a cinco anos para voltar ao índice que tínhamos em 2020. É o tempo de que precisamos para reorganizar tudo que aconteceu na pandemia e começar a melhorar.”

Consequências

Os efeitos desse panorama podem ser percebidos no dia a dia das pessoas que buscam por posições no mercado de trabalho ou até para fazer uma graduação. “Se essa pessoa tem o sonho de estudar mais, ela não vai conseguir. Não é porque ela não quer, é porque ela não consegue. O projeto para a educação de jovens e adultos tem que ser algo muito pensado, muito dinâmico, quase individualizado, para conseguir compreender esses aspectos. Será necessário superar essa barreira para depois conseguir uma graduação média”, avalia.

Faça por você

Para quem tem dificuldades na faculdade, por exemplo, Ângela Maria recomenda rever processos básicos: “É preciso voltar e fazer curso de escrita e redação porque só escreve bem quem lê bastante. É possível começar a fazer leitura fácil e, aos poucos, ir aumentando o volume de páginas de um livro. Se não entender, volte e leia de novo. Faça as coisas básicas que fazemos na educação fundamental. Escreva um pequeno texto, olhe o vocabulário, veja se está certo e se preocupe se quem vai ler entenderá o que você escreveu”.

Use a sua mente

Embora a tecnologia possa ajudar, é preciso deixar a preguiça de lado. “O chat GPT é ótimo, mas não vai com você para o vestibular ou quando fizer uma seleção de emprego. Você vai escrever um texto e pode até usar a ferramenta para fazer correções eletronicamente, corrigir concordância, por exemplo, mas a ideia principal, a personalidade do texto em si, tem que sair da sua cabeça. Por isso, leia, leia, leia. Conforme for entendendo, você pode ir aumentando o grau de dificuldade”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Fotos: Nicoleta Ionescu e Olga Evtushkova/getty images