Quantas chances você tem?

Por mais difícil – ou mesmo impossível – que possa parecer, todos nós podemos experimentar recomeços

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Quando Deus criou o Céu e a Terra, a Terra estava sem forma e vazia (Gênesis 1.1-2). Mas os céus, não: a rebelião espiritual que houve gerou a separação entre os seres celestiais e os anjos caídos, que foram expulsos. Quanto à Terra, Deus a refez afastando o caos e deu início à Sua criação esculpindo o homem à Sua imagem e semelhança. Contudo o relacionamento harmonioso que havia entre o Deus-Criador e Sua obra mais primorosa foi interrompido com a chegada do pecado e da desobediência e, dessa vez, foi o Éden que presenciou a rebelião espiritual que encontrou lugar na Humanidade. Porém, mesmo diante desse tropeço e de tantos outros que vieram depois, a descendência humana não deixou de ser alvo da misericórdia Divina, pelo contrário: histórias que pareciam destinadas a um ponto final ganharam, na verdade, um recomeço.

Não à toa, no início de tudo, Deus procurou cobrir a nudez espiritual que o pecado expôs (Gênesis 3.21). “Deus permite recomeços. Ele, ao longo de toda a história da Humanidade, sempre tentou ajudar o ser humano caído depois dele tropeçar e errar, às vezes, de forma até imperdoável. Nós vemos isso em todas as Escrituras Sagradas, do Antigo e do Novo Testamento”, disse o Bispo Renato Cardoso em uma edição recente do programa Inteligência e Fé, da Rede Aleluia de rádio, disponível no YouTube.

Ainda em Gênesis, vemos outro exemplo importante na história de Abel e Caim, que protagonizaram, respectivamente, o temor e o desdém pela oferta. Mas, afinal, o que é a oferta? “Quando você faz alguma coisa por sua esposa, seu marido, seus filhos, seus pais ou seu patrão, seu cliente, o que você faz por outra pessoa é a sua oferta. E, se você não vai fazer o melhor, é melhor não fazer. Quem gosta de receber um trabalho malfeito?”, indagou. Assim, ao pensar no que ofereceria para Deus-Pai, o Criador, Abel separou o melhor do seu rebanho. “Abel pensou e preparou sua oferta querendo agradar a Deus, fazendo o melhor para Ele. Ele não pegou a ovelha doente, manca. Ele pegou a ovelha perfeita, a melhor que tinha e colocou no Altar. Já Caim, tratando aquele acontecimento como um fardo, certamente pensou: ‘bom, sou lavrador da terra. Quais os frutos de que eu não vou precisar, que jogaria fora mesmo de qualquer maneira? Ah, vou pegar isso aqui e vou dar para Deus.’ Pronto! Ele foi lá e fez uma oferta defeituosa. Por isso, Deus não a aceitou”, afirmou o Bispo.

Ao ver que o que fez não foi aceito por Deus, Caim se irou. Ainda assim, o Senhor foi até Caim e perguntou: “Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” (Gênesis 4.6-7).

Em outras palavras, Deus permitiu que Caim tentasse de novo. “Deus não castigou Caim ou mandou um raio na cabeça dele. Ele simplesmente disse que aquela oferta não era o melhor que Caim poderia oferecer. Deus deu a chance para Caim recomeçar. E assim tem sido desde o início da Humanidade: Deus dando ao ser humano uma nova oportunidade”, pontuou o Bispo.

TEM JEITO
Mesmo com o pecado entranhado na Humanidade, Deus a deseja para Si. Foi nessa condição que Ele projetou recomeçar Seu relacionamento com Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, Davi e tantos outros que puderam viver experiências assim. Porém, inegavelmente, o mais importante recomeço foi com Seu Próprio Filho, na cruz. Foi o Senhor Jesus que, em Seu ministério, orientou uma mulher pega em flagrante adultério para ir e não pecar mais (João 8); já ressurreto, Jesus pediu a Pedro para apascentar Suas ovelhas, dando-lhe a chance de recomeçar mesmo que ele O tivesse negado três vezes. São pessoas e histórias que nos mostram que não há situação ou passado tão difícil que Deus não tenha condições de dar um jeito. Afinal, “(…) se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5.17).

CONTRA (OU CONTA) O TEMPO?
Existem pessoas que pensam que Deus já deu chances demais a elas e que uma nova oportunidade, portanto, é nula; já outras acham que Deus sempre vai permitir o recomeço e, assim, não são disciplinadas para parar de errar. Mas esse recomeço tem limite: o da misericórdia de Deus, como salientou o Bispo Renato. Há quem se agarre ao fato de a misericórdia de Deus ser infinita, uma vez que está escrito que a misericórdia dEle se renova a cada dia (Lamentações 3.22-23). Assim, confortavelmente debruçados sobre a misericórdia Divina, muitos se esquecem de fazer a parte que lhes cabe, como se houvesse “perdão a perder de vista”. Mas há um detalhe que não deveria ser ignorado: “as misericórdias de Deus se renovam a cada dia, mas você, não. Um dia você vai morrer. Então, apesar da misericórdia de Deus durar para sempre, você não dura para sempre e, por isso, ela tem um limite”, expôs.

Para recomeçar, portanto, é necessário aproveitar a oportunidade que é dada agora e fazer melhor. “Em vez de você ficar se culpando e se castigando com frases como ‘ah, eu fiz isso’, ‘eu caí’, ‘eu decepcionei’, ‘as pessoas vão me julgar, vão me acusar’, ‘ninguém vai olhar para mim do mesmo jeito’; em vez de você ficar achando que está tudo acabado, coloque seu esforço em fazer melhor daqui para a frente: zere sua vida, zere a ficha dentro da sua própria cabeça. Comece hoje como se você estivesse começando do zero. Até quando você vai ser Caim e viver com esse semblante descaído? Desperte para a vida. Deus permite recomeços, mas eles dependem daquele que quer recomeçar: de você. O que você vai fazer? Qual é a área da sua vida que você precisa recomeçar e pode hoje, agora, neste momento, dar o primeiro passo?”, questionou o Bispo.

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Colaborador

Flavia Francellino / Foto: DNY59/gettyimages