Quais os riscos de fazer skincare infantil? 

Essa prática, que usa produtos de beleza, pode maquiar o surgimento de problemas sérios de saúde nas crianças

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O uso de produtos de beleza por crianças é cada vez mais frequente e elas são incentivadas principalmente pela disseminação de vídeos infantis de skincare (cuidado com a pele) em plataformas como TikTok, Facebook e Instagram. Os vídeos costumam compartilhar rotinas em que são usados produtos que contêm retinol, colágeno e ácido hialurônico, entre outros. Contudo, além de introduzir novos vocábulos à vida das crianças, eles também podem estar motivando um consumo que pode ser prejudicial à saúde delas.

Em 2023, por exemplo, no Reino Unido, a adolescente Amelia Gregory, de 13 anos, quase perdeu a visão do olho esquerdo ao usar uma técnica de skincare (com uma mistura de produtos para esfoliar a pele) aprendida no TikTok. Essas práticas também podem estar mudando hábitos: se antes era normal que as crianças comemorassem seus aniversários fazendo uma festinha para parentes e amigos, agora a moda é chamar as colegas de escola e passar o dia se embelezando em spas com serviços voltados a elas.

Para Juliana Saboia, médica dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), membro da atual diretoria da SBD no Distrito Federal e responsável pelo setor de dermatologia pediátrica do Hospital da Criança de Brasília, é preciso cautela ao usar cosméticos e cremes. “Podem surgir dermatites, principalmente as de contatos e atópicas, porque o contato recorrente dessas substâncias com a pele gera como sintomas irritação, vermelhidão, coceiras e placas”, explica.

Ela aconselha ainda que os pais fiquem atentos à escolha das embalagens e faz outras recomendações: “prefira perfumes, por exemplo, sempre em recipientes de vidro ou outro material. Devem ser evitados produtos com fragrância e preferir sempre cremes hipoalergênicos. Outro item que deve ser evitado e que tem sido uma febre são os óleos essenciais, principalmente de melaleuca e de lavanda”.

Para Juliana, em geral, a publicidade recorre a cores para atrair esse público: “mas precisamos ter muito cuidado, principalmente com o fitalato, o bisfenol, o fenoxyetanol e o ácido fenoxyacético. Há vários estudos que mostram que esses elementos causam implicações negativas no desenvolvimento infantil, inclusive no transtorno do espectro autista, e alterações de memória e de aprendizado, bem como no desenvolvimento cognitivo das crianças”.

Já para Carmela Silveira, psicóloga da Santa Casa de São José dos Campos (SP), a imposição de um padrão de beleza pode trazer para a primeira infância problemas relacionados à autoestima até o desenvolvimento de distúrbios relacionados à autoimagem. “A criança passa por diversas fases de desenvolvimento e o cuidado com a saúde mental é algo de extrema importância e necessário para que todas as fases dessa criança sejam vividas de maneira saudável, sem interrupções, para que seu desenvolvimento natural não seja alterado”, analisa.

Carmela afirma que a busca por padrões de beleza pode afetar a saúde mental. “Eu destaco a influência de pessoas nessa busca excessiva de uma forma de se igualar a um modelo corporal idealizado. Isso acaba influenciando determinadas patologias, como depressão, bulimia, ansiedade e transtorno dismórfico corporal, porque cada ser humano é único e padronizar essa beleza por meio de comportamentos causa uma certa descontinuidade do desenvolvimento da criança como um todo”, ressalta.

Ela avalia que a criança precisa construir essa identidade a partir dos exemplos e do histórico familiar da sua base. “Quando ela começa a desenvolver a sua identidade na superficialidade das comunicações de TikTok e redes sociais, ela esconde a sua essência e vai buscar nos conceitos rasos uma identidade que não se suporta na psique”, pontua.

Carmela orienta a como lidar com crianças que costumam pedir determinados produtos porque os viram nas redes ou receberam indicação de colegas: “as famílias precisam expor as regras da casa aos filhos e, principalmente, se a criança pede maquiagem, trabalhe nessa criança a fantasia da maquiagem”, diz.

Juliana concorda que as crianças tendem a imitar os adultos. “Os pais devem observar o comportamento das crianças, restringir o acesso a conteúdos do TikTok, monitorar seus filhos e limitar maquiagem e cosméticos levando em conta a faixa etária e adquirir produtos específicos para cada uma delas”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Fotos: lisegagne/getty images / reprodução: Daily mail