Procrastinação: por que é tão difícil vencê-la?

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Você se interessou por este artigo, mas está pensando em fazer a leitura dele depois? Se a resposta for sim, você acaba de entrar para o rol dos procrastinadores! Basicamente, a procrastinação é o adiamento de tarefas, desde as mais simples às mais importantes, sem que haja um motivo real e apesar de saber que essa atitude terá consequências. No Brasil, a prática é muito comum e tão aceita que já pode ser considerada parte da cultura. Não é à toa que dizem que brasileiro deixa tudo para a última hora.

Isso é um fato comprovado: uma pesquisa conduzida em 2012 pela Triad Productivity Solutions, empresa especializada em produtividade, mostrou que 97,4% dos entrevistados admitiram adiar o cumprimento de tarefas do dia a dia, sendo que as mais citadas foram os exercícios físicos (68%), a leitura (64,5%), os cuidados com a saúde (52,7%) e o planejamento financeiro (46,8%).

A procrastinação gera dois tipos de consequências: as externas, como atrasos na agenda e baixa produtividade; e as internas, como estresse, sentimentos de culpa, vergonha, fracasso e até de incompetência diante de um costume que parece impossível mudar. Isso porque grande parte dos procrastinadores não consegue quebrar o ciclo apenas seguindo as estratégias que deveriam resolver o problema, como aplicar técnicas de gerenciamento de tempo, buscar motivação e estabelecer recompensas após o cumprimento de uma tarefa. Embora sejam táticas positivas e, em muitos casos, comprovadamente eficazes, a neurociência explica o motivo delas não serem tão efetivas para os procrastinadores.

Segundo a neurociência, a procrastinação, embora não esteja apoiada em motivos racionais, é uma decisão consciente e intencional com o objetivo de obter recompensas imediatas. Trata-se de um recurso usado pelo cérebro quando a realização de uma determinada tarefa é interpretada como uma dor e, por isso, deve ser evitada. Essa espécie de mecanismo de defesa cerebral tenta criar justificativas – ainda que irracionais – para protelar a tarefa que, quanto mais complexa for, mais fácil será de ser adiada.

Esse pode ser o motivo pelo qual algumas estratégias de produtividade surtem pouco ou nenhum efeito no combate à procrastinação. Ao considerarmos que o adiamento vem de uma decisão intencional, podemos entender que as técnicas de gerenciamento de tempo não são a solução, afinal o problema não é falta de tempo. O mesmo ocorre em relação à motivação e às recompensas.

O procrastinador não está desmotivado, ao contrário, ele sente-se altamente impelido a não fazer algo e também não está em busca de recompensas, pois evitar a dor da tarefa já é a sua melhor e imediata recompensa. A maneira de vencer problemas, quaisquer que sejam, é atacá-los pela raiz e, no caso da procrastinação, que se origina em fatores emocionais, medidas externas só serão efetivas se as questões internas forem resolvidas primeiro.

Por exemplo: uma criança que tem medo de escuro evitará a todo custo entrar em um ambiente sem luz, como o seu quarto, e, à noite, mesmo sabendo que é hora de dormir, ela vai dar um jeito de evitar o local. Seu cérebro cria a fantasia de que há alguma ameaça, como um bicho-papão, e sua defesa será adiar essa dor enquanto puder. Quando não for mais possível adiá-la, ela cede, mas não sem fazer aquele drama. Essa experiência é tão traumática que, mesmo depois de entrar, dormir e levantar pela manhã sem ter sofrido nenhum ataque, assim que anoitece de novo, é provável que ela repita sua atitude. Isso porque, mesmo que suas fantasias não tenham se concretizado, suas emoções foram reais e ela precisa evitar tudo aquilo novamente.

Sendo assim, em alguns casos, a motivação e a oferta de recompensas à criança não resolvem. Afinal, ela já está altamente motivada a evitar o local por um sentimento muito forte: o medo. E sua maior recompensa é sentir-se segura longe dali. Os adultos procrastinadores agem de forma semelhante, movidos por algo que desperta uma forte motivação e ainda oferece recompensa imediata. Sendo assim, uma solução para vencer a procrastinação pode ser a descoberta de quais sentimentos e emoções estão por trás desse comportamento e lidar com a situação sob um ponto de vista racional. Uma vez vencida essa etapa, as estratégias de produtividade e técnicas de gerenciamento de tempo tendem a ser muito mais efetivas.

É importante dizer que a tentação da procrastinação é comum a todas as pessoas, inclusive àquelas que exercem cargos de alta performance. Por isso, é necessário que todos nós estejamos alertas e vigilantes para combatê-la diariamente.

 

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Colaborador

Patrícia Lages, jornalista / Foto: Peopleimages/getty images