Procedimentos estéticos aumentam durante a pandemia

Uma pesquisa aponta que muitas pessoas estão insatisfeitas com a própria aparência. O que está por trás disso?

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A insatisfação com a própria aparência está levando mais pessoas a fazerem cirurgias plásticas e procedimentos como a harmonização facial. Modificações no nariz, na boca, nas curvas do corpo e no formato do rosto são cada vez mais comuns entre famosos e anônimos. Nem a pandemia do novo coronavírus foi capaz de espantar os pacientes, muito pelo contrário: a estimativa de especialistas é de que houve aumento de pelo menos 30% no número de procedimentos estéticos durante a quarentena.

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial dos países em que mais se faz cirurgia plástica, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (Isaps). Contudo esse recorde pode estar camuflando um problema mais profundo, invisível aos olhos. Afinal, por que tanta gente está insatisfeita com o próprio corpo? O que as pessoas estão buscando ao se submeterem a procedimentos invasivos que podem colocar a saúde em risco? Será que todas essas cirurgias são mesmo necessárias?

Recentemente, a modelo brasileira Tati Minerato ficou 11 dias internada por causa de complicações depois de se submeter à troca de próteses de silicone e a uma lipoaspiração. Em entrevista ao Domingo Espetacular, da Record TV, ela falou que se arrependeu e lembrou dos dias que passou no hospital. “Foi algo terrível, que eu não desejo para absolutamente ninguém”, disse.

“Fantasia”
A psicóloga e especialista em desenvolvimento humano Vania Campos diz que o desejo de cuidar do corpo e da aparência não é um problema em si, mas é preciso compreender as motivações por trás da busca por uma suposta “perfeição”.

Para ela, o padrão de beleza imposto pela mídia e por redes sociais e seus filtros embelezadores ajuda a explicar parte da questão. “Hoje nós temos de lidar com o excesso de informação, pois estamos a todo momento conectados. Nas redes sociais, todo mundo aparece feliz, belo, com a pele perfeita e muitas pessoas começam a se comparar e a se perguntar ‘por que eu não estou assim?’ A própria mídia coloca como referência de beleza e de ‘sucesso’ mulheres que passaram por cirurgia plástica, então as pessoas criam essa fantasia da perfeição”, avalia.

Vania acredita que o período de maior isolamento social por causa da pandemia levou muitas pessoas a encararem questões mais pessoais, que estavam esquecidas por causa da rotina agitada. “Durante a pandemia, muitas pessoas tiveram que ficar ‘mais próximas de si mesmas’, passaram a se olhar mais e a identificar algumas frustrações. Entretanto algumas preferiram olhar só para fora. Pode ser mais cômodo corrigir algo estético do que olhar para dentro, para o interior”, analisa.

Para a psicóloga, cada pessoa precisa se questionar sobre os motivos da insatisfação com a própria aparência para encontrar um equilíbrio e, se necessário, buscar ajuda especializada. “A busca por perfeição pode camuflar questões como ansiedade, depressão e uma série de outras doenças nas quais um dos sintomas pode ser a insatisfação com a aparência”, afirma.

Perfeição impossível
A ilusão da aparência perfeita e de um suposto milagre feito pelas cirurgias plásticas pode levar muitas pessoas a arriscarem a própria vida. Nas redes sociais, é fácil encontrar propagandas com fotos de “antes e depois” que acabam enganando muitos usuários. Para combater esse tipo de informação falsa, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) lançou em outubro a campanha Cirurgia Plástica: não existe milagre. Existe ciência, responsabilidade e especialização!

Em seu site, a SBCP destaca que as redes sociais estão repletas de truques para iludir os usuários, como iluminação, ângulo das fotos e uso de maquiagem. A SBCP alerta que muitos profissionais não qualificados oferecem procedimentos estéticos invasivos na internet e geram um aumento nos casos de deformações em pacientes e mortes.

Beleza real
Diante de padrões de beleza impostos pelo mercado, como encontrar a verdadeira beleza? Uma coisa é certa: a aparência exterior não é capaz de suprir o vazio interno que muitas pessoas sentem. Ou seja, não adianta cuidar apenas do que os olhos veem.

Durante uma das edições do programa Entrelinhas, na plataforma Univer Vídeo, a escritora e apresentadora Cristiane Cardoso destacou que a verdadeira beleza não depende de moda, artifícios ou da opinião de outras pessoas. “Isso que a gente vê com os olhos, na verdade, é vaidade. Enquanto as pessoas valorizarem a beleza física e viverem em função dela, estarão sempre insatisfeitas. Por isso, muitas mulheres que vivem fazendo cirurgias plásticas nunca estão satisfeitas consigo mesmas”, afirmou.

Para superar a insatisfação, é preciso cuidar do interior e da vida espiritual. A principal restauração deve ser interna, como sugere a Bíblia: “não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” (2 Coríntios 4.18). O que você faz todos os dias para fortalecer o seu interior e curar a sensação de vazio? Lembre-se: a beleza interior é a única à prova do tempo.

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Colaborador

Rê Campbell / Foto: Getty Images