Penitenciária recebe Curso da Cura Interior

Mais de 70 mulheres se inscreveram para participar de aulas em presídio de São Paulo. Elas apostam em uma nova vida sem traumas

Imagem de capa - Penitenciária recebe Curso da Cura Interior

“Sempre vi minha mãe apanhando muito”, disse Thais Murari, de 23 anos. “Fui abusada aos 16 anos”, revelou Alice de Freitas, de 25 anos. “Minha mãe gostava mais do meu padrasto do que de mim”, desabafou Ingrid Joana, de 28 anos. “Guardava muita mágoa da pessoa que me fez chegar aqui”, acrescentou Daieny Santos, de 32 anos. “Eu me achava incapaz”, afirmou Linda Egoes, de 29 anos.

Os depoimentos acima são de algumas das mais de 70 mulheres que iniciaram o Curso da Cura Interior no último dia 6 de julho, no Centro de Progressão Penitenciária (CPP Feminino) Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira, localizado no bairro Butantã, na zona oeste da capital paulista. Essa é a primeira vez que o curso é oferecido dentro de um presídio. As palestras são promovidas pelo Raabe, grupo da Universal que oferece apoio a mulheres que passaram por algum tipo de trauma. O curso tem duração de três meses e os encontros são semanais.

Feridas internas

Criadora do curso, Evelyn Higginbotham explicou que o objetivo das palestras é ajudar mulheres a superar traumas internos que impedem o crescimento delas. “Há muitas mulheres que sofrem feridas emocionais. Ninguém vê essas feridas porque elas são interiores. Mas os resultados disso se manifestam por meio de comportamentos não saudáveis, inseguranças, raiva, mágoa e pensamentos negativos que podem levar a mulher até a praticar crimes”, destacou.

A raiz dos problemas

Durante a primeira palestra, as participantes foram convidadas a analisar o próprio interior para que buscassem fatos que não foram solucionados no passado. A coordenadora nacional do Raabe, Carlinda Tinôco Cis, lembrou que questões mal resolvidas geram “paredes” interiores que bloqueiam a felicidade da mulher. “Todo problema tem uma raiz”, argumentou.

“Quando as mulheres curam essas feridas, elas têm a chance de viver sem cometer os mesmos erros. Nas primeiras aulas, estamos colocando a fundação, que é a fé. A cura interior vem com a ajuda de Deus”, afirmou Evelyn.

“Tudo posso”

Após identificar os próprios bloqueios, as mulheres receberam uma ferramenta simples para combater pensamentos negativos: o versículo bíblico “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Elas foram orientadas a meditar nessas palavras ao menos duas vezes por dia. “Vocês precisam dizer para si mesmas ‘eu vou ser uma mulher bem- sucedida’. Deus nos criou para uma vida abundante”, exemplificou Evelyn. “Nós somos corpo, alma e espírito, cada uma de nós tem fé dentro de si”, completou Carlinda.

Ao fim da primeira aula, as participantes estavam animadas. “Quero sair daqui uma nova mulher”, comemorou Silvana Barboza, de 52 anos, que tem uma filha de 19 anos e um filho de 30 anos. Thais Murari, de 23 anos, revelou que se sentiu “diferente” após o curso. “Senti uma paz dentro de mim. Tive muitos traumas na infância. Sempre senti muita raiva, quero deixar esse passado”, salientou.

Já Alice de Freitas, de 25 anos, disse que quer recuperar tudo o que perdeu por causa do vício em crack. “Perdi família, trabalho, casa, por causa da droga. Já morei quatro anos na rua e estou longe dos meus três filhos”, revelou ela, que conseguiu se livrar do crack há três anos. “Sinto muita solidão, já estava até meio desanimada quando soube do curso. As aulas vão me ajudar a sair daqui de cabeça erguida”, declarou.

Atividades

Além do Curso da Cura Interior, voluntárias da Universal fazem visitas quinzenais ao CPP. “Esse trabalho nos ensina a não ter medo dos desafios”, esclareceu Cirlei Leão Datri, que organiza as atividades realizadas nos presídios femininos do Estado de São Paulo.

“Nunca perguntamos o que as trouxe para cá, o que interessa é a nova direção, é o encontro com Deus”, complementou Marli Vasconcellos, que é voluntária há 16 anos. As aulas do curso da Cura Interior dentro do CPP do Butantã vão até o dia 19 de outubro.

A Universal mantém diversos projetos sociais e, por meio de seus voluntários, atua em vários setores da sociedade, com o objetivo de levar auxílio emocional, psicológico, material e, sobretudo, espiritual aos que necessitam, em asilos, orfanatos, hospitais, presídios, comunidades, entre outros locais.

Clique nos links abaixo e conheça alguns desses projetos:

Projeto Raabe (Auxílio a mulheres vítimas de violência doméstica)

Projeto T-Amar (Apoio a adolescentes grávidas e mães solteiras)

Projeto Ler e escrever (Alfabetização de jovens e adultos)

Anjos da madrugada (Ajuda a moradores de rua)

A Gente da comunidade (Ações sociais em comunidades)

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Colaborador

Por Rê Campbell / Foto: Demetrio Koch