Os reais perigos do trânsito
Só no Brasil cerca de 45 mil pessoas morrem por ano em acidentes com veículos terrestres. Entenda por que isso acontece
Você já deve ter visto pelas ruas e na mídia a existência de um movimento chamado Maio Amarelo. É uma ação promovida pelo Poder Público e pela sociedade civil para diminuir os índices de acidentes no trânsito no Brasil e em outros países. A diferença é que, desta vez, os organizadores tentam não ficar só na teoria com mais uma campanha inócua, mas discutir a fundo o assunto para conscientização real de um mal de proporções mundiais. Além disso, seu objetivo é pedir atitudes práticas não só das autoridades, mas de todos os cidadãos, estejam eles na direção de um veículo ou a pé.
Já que falamos em atitude, qual é a sua em relação ao trânsito nosso de cada dia? Infelizmente, muitos se indignam ao ver manchetes de acidentes, vídeos de flagrantes de pessoas sem noção ao volante, ao guidão ou mesmo atravessando a rua fora das faixas de pedestres ou passarelas – e todos desobedecendo à sinalização. Não é raro quem nem mesmo pense no assunto e até se ache certo, mas que também faz besteira, ainda que sem intenção.
Índices do perigo
Segundo instituições conceituadas como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde brasileiro, o Brasil atinge níveis vergonhosos quando a questão é segurança no trânsito. Em nosso país morrem todo ano, em média, 45 mil pessoas em acidentes com veículos terrestres. No mundo, 1,2 milhão de pessoas perdem a vida pelo mesmo motivo.
O Brasil também está em quinto lugar no ranking dos países com mais vítimas de acidentes de trânsito – perde apenas para Índia, China, Estados Unidos e Rússia – quase sempre devido à imprudência, ao excesso de velocidade e ao pouco ou nenhum respeito às leis. A intolerância e a impunidade também contribuem para aumentar esse tipo de violência.
Os feridos no tráfego diário são mais de 376 mil no território nacional. E cerca de 55% dos leitos de hospitais são ocupados por acidentados no trânsito. A OMS estima que mundialmente 60% deles causem danos permanentes
à saúde.
Os índices de acidentes não têm relação com a quantidade de veículos. A OMS aponta que os países em desenvolvimento concentram 90% das vítimas fatais no trânsito mundial, apesar de apenas 54% dos automóveis estarem em seus territórios. Já em nações com regras mais rígidas – e mais obedecidas – , como Reino Unido, Holanda e Suécia, os mortos são menos de 4 para cada 100 mil habitantes anualmente. É mais uma questão ligada às pessoas e às suas atitudes do que ao equipamento.
Causas insuspeitas
Imprudência, imperícia e negligência continuam a ser as maiores causas de acidentes no tráfego. A frouxidão das autoridades em alguns locais gera a certeza da impunidade, o que torna tudo mais perigoso pelo óbvio egoísmo de quem acha que seu direito é maior que o dos outros, mesmo que terceiros fiquem em perigo por isso.
Contudo, as causas das tragédias talvez não sejam tão óbvias e podem dizer respeito a coisas que acontecem no seu dia a dia, leitor. Quer saber como? De acordo com a empresa de pesquisas norte-americana ORC International, 76% das pessoas confessaram maus hábitos ao volante que, embora pareçam inofensivos, já resultaram em acidentes fatais. Entre eles estão apartar brigas de filhos (26%), apagar ou acender cigarro (22%), usar notebook (21% faz isso, embora pareça absurdo), conversar com alguém (18%) ou falar ao celular (13%).
Exemplos na prática
Há quem seja tranquilo, com tendência a obedecer à risca as regras de trânsito e, mesmo assim, se vê em situações de conflito ou de risco à vida, algo que pode acontecer com qualquer um. Outros, de cabeça quente, parecem procurar um acidente de propósito, de tanto que aprontam.
Se encaixam nesses padrões três entrevistados, que aprenderam na prática que suas atitudes fazem a diferença nas infelizes estatísticas, cujas histórias você conhecerá a seguir. Note, entretanto, que essas três pessoas foram positivamente influenciadas por uma característica em comum – que vai muito além do plano físico, natural.
Impulso de discutir
Um dia eu ia de carro à Universal para uma reunião do Godllywood, levando algumas mulheres do grupo comigo. Em certo ponto do caminho, o tráfego deu uma parada. Achei que uma fila ao lado da minha andava melhor e dei a seta pedindo passagem para aquela pista, mas o motorista que vinha não cedeu e avançou.
Minha fila começou de novo a andar e passei com vantagem pelo carro do homem que não deu passagem. Ele não gostou. Ao emparelhar com meu carro, ele quis bater boca. Senti preconceito por eu ser mulher e a raiva que ele sentiu por eu ter passado à frente dele – como se aquilo fosse uma corrida, uma disputa, e houvesse obrigação de alguém ser primeiro em alguma coisa.
Argumentei que fiz o certo, dei seta, mas ele dizia que não dei. Senti um impulso de começar a brigar, mas, além de eu nunca ter sido disso, estava com as meninas do Godllywood ali no carro e não podia dar mau testemunho. Um conflito desnecessário iria contra tudo o que sempre aprendemos não só no grupo, mas na Universal como um todo. Consciente disso, falei que estava tudo bem, subi o vidro e continuei nosso caminho.
Sim, a tentação de sair do carro e discutir foi grande. Mas agora sei que fiz a coisa certa e evitei consequências ruins. Dei preferência à razão, não caí na armadilha da emoção do momento. Ouvimos falar de cada coisa horrível que acontece por brigas de trânsito! Graças a Deus não houve nada e fico feliz por ter me contido por mim e pelas mulheres que estavam comigo. Mostramos com nossas atitudes o que somos. Relatou Veridiana Gonçalves da Silva (foto acima), de 29 anos, artesã em São Paulo.
Influência de Deus e da família
Ao dirigir, muitas vezes me pegava querendo, de forma agressiva (ao volante e com palavras), dizer às pessoas que elas estavam erradas, como numa situação em que fui obrigado a frear bruscamente porque uma pessoa me fechou durante uma ultrapassagem. Eu o persegui por uns 13 quilômetros até conseguir pará-lo e mostrar que era ele que estava errado.
O “porém” é que minha mãe estava comigo como passageira. Muitas vezes em que ela me acompanhava, se agarrava ao banco e ficava com as mãos doendo, pois eu ia ao extremo – ela e minha irmã trabalhavam comigo e por causa do trabalho precisávamos estar juntos no trânsito. Fui fechado outras vezes e minha atitude era sempre parecida.
Após o casamento, mudei bastante. Minha esposa um dia me fez raciocinar. Ela falou: ”já parou para pensar que sua mãe e sua irmã também estão no carro e que você não conhece a pessoa com quem discute nem sabe o que ela está passando para ter uma atitude como aquela? E se ela estiver armada? Você já pensou nas consequências de um acidente?”
Outra questão que pesava na minha consciência era que meu nervosismo no trânsito não agradava a Deus. Sempre pedi a Ele que me ajudasse, mas percebi que a atitude partia de mim, eu precisava “respirar”. Aos poucos, as palavras ouvidas na Universal foram trabalhando em meu interior. O Senhor Jesus ensinou a dar a outra face. Sendo assim, por que não “deixar para lá”? O que aprendi nas reuniões e com a família foi um conjunto. Atualmente, até oriento outras pessoas.
Agora temos uma filhinha. Minha pequena tem apenas nove meses, mas, graças a Deus, já chegou numa fase de “papai tranquilo” (risos). Relembrou Thiago de Souza Dias, de 32 anos, comerciante em Santa Isabel, interior de São Paulo.
Surpreendida na calçada
Era um dia normal com o trânsito de sempre. Atravessei na faixa de pedestres com o sinal fechado para os carros, como é o certo. Mas, de repente, alguém que havia parado no sinal depois da faixa resolveu voltar de ré. A motorista perdeu o controle do veículo automático e avançou a calçada. Um motociclista, ao perceber que o carro o atingiria, conseguiu pular da moto a tempo.
A moto ficou debaixo do carro. E eu debaixo dos dois, com as pernas presas. Repentinamente me vi, no meio daquela confusão, pedindo socorro aos presentes na rua. As pessoas saíram dos carros, pedestres acudiram, vários vieram ao meu socorro. Eu, em meio ao desespero, me percebi orando a Deus para que não morresse. E, se sobrevivesse, que não ficasse com sequelas, pois ainda tenho muita vida pela frente.
A motorista estava tensa, principalmente por estar com uma criança. Conseguiram empurrar o automóvel, levantar a moto e me tirar. Orientaram-me a esperar pelo resgate. Fiquei ali, no chão, com dores, até a ambulância chegar. Tive várias escoriações. Lutei contra uma séria infecção bacteriana hospitalar. Estou em recuperação, afastada do trabalho por ordem médica. Ainda ando com um pouco de dificuldade, mas já me locomovo melhor.
Isso aconteceu há dois meses. Agora, com as ideias mais claras, percebi como a fé me ajudou naquele momento, foi um verdadeiro livramento de Deus. E a fé me ajuda até hoje. Durante a confusão não senti vontade de brigar com ninguém, o que seria natural, pois esse tipo de coisa mexe com a cabeça da gente. A mulher do carro reconheceu que estava errada: tentou passar com o sinal amarelo, não conseguiu e tentou voltar de ré, mas se descontrolou. Sei que poderia ter sido eu no lugar dela.
Percebi na prática que, se estivermos em dia com a fé, temos mais força para nos controlarmos num momento difícil. Além disso, tomo bastante cuidado ao atravessar a rua hoje em dia e aconselho o mesmo aos mais próximos. Um simples descuido pode ser fatal. Débora Bahia de Oliveira (foto acima), de 31 anos, professora em São Paulo
Questão de atitude
Nos três casos citados acima fica claro como a fé verdadeira pode moldar o caráter e influenciar até mesmo em ocorrências que pareciam não envolver nada relacionado ao espiritual. Um relacionamento estreito com Deus e a obediência aos Seus ensinamentos transformam a nossa vida em todas as áreas, inclusive nas atitudes que temos no trânsito cotidiano.
O que essas pessoas aprenderam sobre a fé contribuiu não só para que elas e muitos outros tomassem consciência de seu lugar perante Deus (obedientes a Ele) e a sociedade (o respeito pelo próximo, característica essencial de um verdadeiro cristão), mas também para que voltassem vivos para casa, o que os entes queridos agradecem.
Pode parecer insignificante para alguns, mas seu modo de agir de acordo com o seu aprendizado espiritual também pode ser percebido em situações simples, como por quem lhe vê dirigindo um carro, um ônibus, um caminhão, uma moto, uma bicicleta ou mesmo quando está a pé. Podemos contar com a proteção Divina, mas, como bem disse o comerciante paulista Thiago Dias, a atitude parte de você. Ou melhor, de todos nós.
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