Os dois lados do vício
Familiares de dependentes químicos também estão envolvidos com o problema e arcam com suas consequências. É a chamada codependência. Mas sua solução diz respeito a todos
Muitos usuários de drogas podem pensar “se prejudico alguém, é só a mim mesmo”. Ou então “não sou viciado, paro quando quiser”. Mas ambas as afirmações estão muito longe de serem verdade.
A verdade é que a família e as amizades mais próximas de quem usa drogas sofrem as agruras do vício, isto já é comprovado por especialistas. Pelos laços afetivos com o usuário, os mais chegados se tornam também presos ao vício: eles viram codependentes.
Segundo a psicóloga Lizandra Arita (foto a baixo), as dificuldades já começam na hora de detectar o vício no seio familiar. “Entender que o parente desenvolveu um processo de dependência talvez seja um dos principais fatores para a demora no pedido de ajuda. As pessoas vivem juntas, desenvolvem uma rotina diária com o dependente e, mesmo que percebam algumas diferenças, ter um parâmetro do que é comum ou incomum naquele comportamento é muito complexo.”
A especialista explica que geralmente a situação só é percebida quando já está no limite. “Quando a família se dá conta, é porque as atitudes do dependente estão sendo nocivas para ele e os mais próximos. Aí, normalmente, já é um estado de vício, ou seja, a dependência está instalada.”
Juntos rumo ao fundo
Os parentes não usuários de drogas modificam suas vidas e se comportam como “viciados no viciado”, pois passam a viver em função da recuperação dele, deixando-se de lado. “O codependente é aquele que sente que sua felicidade depende da pessoa que ele tenta ajudar. Claramente vemos um quadro de dependência emocional e, a partir daí, ocorrem outros desdobramentos”, define Lizandra.
O problema da codependência acomete mais gente do que muitos imaginam. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), a média de pessoas codependentes no Brasil é de quatro para cada viciado. Isso levando-se em conta somente os usuários de cocaína e crack. A média seria muito maior se consideradas as demais drogas.
Como os envolvidos são muitos, há a tendência de se olhar para o quadro de forma extremamente negativa, mas isso pode ser revertido para uma situação de “a união faz a força”, desde o começo, como Lizandra explica: “assumir que um vício é um problema se faz totalmente necessário, já que álcool é fatal, crack é fatal, cocaína prejudica atividades básicas e maconha pode causar sérios quadros psicóticos, isso para citarmos apenas alguns males que essas drogas causam. É preciso olhar para o problema de frente e entender que essa é uma luta de toda a família é o grande passo para tratar a dependência química”.
Dados alarmantes
Outro estudo realizado pelo Inpad em parceria com a Universidade Estadual de São Paulo, a Unifesp, mostra que “as experiências cotidianas vividas pela família com parente usuário de drogas são devastadoras nos aspectos físico, financeiro, de relações interpessoais e sociais”. A pesquisa complementa que o impacto também causa esgotamento físico e emocional.
E quem é atingido geralmente na família? Segundo o Inpad e a Unifesp, são os mais próximos, como “cônjuges, pais e filhos”, resultando em “violência doméstica, abuso infantil, roubo de bens familiares, condução de veículos em estado de embriaguez e ausências prolongadas”.
A psicóloga Lizandra cita quem é o parente codependente que mais procura auxílio para o viciado: “é quem ama de verdade o dependente. Quem mais procura ajuda externa é a mãe, muito mais do que o pai.; ou ambos, quando o casal é muito unido”.
Os familiares pedem socorro para o parente. Mas eles percebem que também precisam de ajuda? A especialista afirma que dificilmente. “É muito difícil que a família perceba que precisa de ajuda, justamente porque entra em um processo de simbiose: a codependência”.
Entretanto, há quem tenha conseguido se livrar dessa maldição com a ajuda eficaz e reconquistado a paz para sua vida e a dos entes queridos.
Na saúde e na doença
O técnico em contabilidade Adriano Mendes (foto ao lado), de 37 anos, é um desses casos. “Eu os via cheirando cocaína e diziam que era bom. Não resisti muito e comecei a usar.” Durante um ano ele consumiu apenas duas vezes na semana. Mas a necessidade da droga passou a ser diária. “Certo dia, eu estava jogando futebol com os meus colegas e tinha cheirado muita cocaína, fiquei muito louco. Me disseram para fumar um pouco de crack que ‘cortaria o efeito’. Foi aí que comecei a perder o rumo da minha vida completamente”, diz.
Sua esposa, Flávia Mendes (foto acima), de 37 anos, não sabia lidar com a situação. “Seu café da manhã, almoço e jantar era cocaína e, para se sentir feliz e poderoso, ele usava cada vez mais. Chegava em casa ‘chapado’ ou esperava eu chegar do trabalho para usar a droga na minha frente. Aquilo me deixava muito triste, envergonhada e ferida”, relata.
Adriano perdeu o senso de realidade, tinha alucinações, estava depressivo, gastava todo o salário e realizava pequenos furtos para manter o vício. “Uma vez peguei a minha esposa, meu cachorro e os coloquei debaixo da cama, achando que tinha alguém atrás de mim.”
Sua esposa vivia desesperada sem saber o que fazer. Na tentativa de acabar com aquela situação, ela chegou a tentar matá-lo. O vício a deixou vulnerável e dependente emocionalmente do esposo. A codependência de Flávia a fez anular sua vida para tentar ajudar o marido.
Contudo, o problema de Adriano só piorava. Ele teve princípio de overdose mais de uma vez. E tentou suicídio diversas vezes. Chegou a se esfaquear por 13 vezes, ficou gravemente ferido na traqueia e no pulmão, com hemorragia interna, mas sobreviveu.
Flávia presenciou a maioria das tentativas de suicídio, ele sobreviveu devido ao rápido socorro da esposa e ela já estava esgotada. Até que procurou ajuda em uma Universal e começou a passar por um tratamento, pois ela precisava estar bem para ajudá-lo. A cada reunião que ela participava, recebia mais força e esperança para mudar sua vida.
Adriano notou a mudança na esposa e passou a acompanhá-la nas reuniões da Universal. Sua gana em ter uma nova vida ultrapassava o desânimo e as lutas interiores, até que se libertou dos vícios. Hoje ele ajuda outros dependentes químicos e sua vida está transformada em todas as áreas.
Mãe em depressão
No caso do cabeleireiro Edson Marinho (foto ao lado), hoje com 40 anos, sua queda começou após descobrir que sua esposa o traiu, o que causou o divórcio.
Ao vê-lo cabisbaixo e depressivo, um colega lhe ofereceu um pino de cocaína para cheirar. Depois de experimentar, não parou mais com a droga, até ser apresentado ao crack.
Edson gastou tudo o que tinha para fumar crack, era uma necessidade diária. Mesmo morando com a mãe, Anadil, ele não tinha controle dos seus atos. “Eu ficava dias pela rua usando drogas e consumindo bebida alcoólica. Vivia como mendigo”, conta. Sua mãe estava desesperada por ver o filho definhando.
O cabeleireiro foi internado em várias clínicas, mas nada resolvia. Além das clínicas, ele passou por tratamento no Centro de Atenção Social (Caps), instituição pública para ajudar pessoas com problemas psicológicos e de dependência química.
As atitudes do filho começaram a afetar a mãe drasticamente. Ela passou a ser uma pessoa deprimida, começou a perder a vontade de viver. Sem forças nem esperança de vê-lo mudado, entrou em severa depressão e precisou ser internada num hospital psiquiátrico.
Depois desse período, Edson conseguiu uma breve melhora e arrumou um emprego, “mas sempre tinha uma recaída”, confessa. Seus patrões descobriram que ele era viciado. Mas, em vez de o mandarem embora, ofereceram ajuda convidando-o para as reuniões da Universal.
Mesmo frequentando as reuniões, ele não conseguia deixar o vício. Edson não aceitava estar naquela vida, até chegou a parar com as drogas, porém apelou para o álcool para saciar sua vontade.
Na Universal, ele conheceu o Tratamento da Cura dos Vícios. O Tratamento o ajudou a entender a luta que estava travando. Edson compreendeu que tinha de se livrar do mal que estava causando tudo aquilo, pela raiz. “Quando abri a visão para o verdadeiro problema, eu rejeitei tudo aquilo que estava dentro de mim”, diz.
Então a vida de Edson mudou e a sua mãe também foi ajudada, pois, ao ver a diferença no filho, ela decidiu lutar contra a depressão e vencer.
Hoje Edson hoje tem a vida reestruturada em todas as áreas, se restabeleceu financeiramente, casou de novo e descobriu a genuína felicidade.
Anularam-se pelo filho
Se não fosse pela forte união com o marido, contaríamos aqui a história de outra mãe que caiu em depressão ao descobrir o vício do filho.
O designer Mariel Martucci (foto ao lado), de 34 anos, era DJ em festas e casas noturnas paulistas e não tinha problemas com vícios mas, numa festa, um ‘amigo’ o apresentou ao ecstasy. A partir de então, o rapaz não teve mais domínio de suas vontades e passou a experimentar outras drogas. Virou usuário de cocaína e passou a necessitar da droga todos os dias. Vendo que a sua situação estava se agravando, encontrou forças para confessar tudo aos pais, Sonia e Luiz Carlos (foto acima).
Os pais se questionavam sobre sua responsablidade. Em meio ao desespero de ver o filho naquelas condições, Sonia foi buscar ajuda com vários médicos e clínicas. “A primeira internação foi muito difícil para mim, pois tive que interná-lo à força, não tinha como lidar com ele com toda aquela agressividade”, conta.
O que os pais não enxergavam é que o vício de Mariel os fez codependentes, pois eles colocaram o foco exclusivo no filho e deixaram suas vidas de lado. No desespero, o prendiam em casa e acabavam se prendendo também.
Foram sete anos de luta. Sonia conta que internaram o filho em seis clínicas, sem sucesso. Buscavam “medicina e religiões alternativas” e sempre se frustravam. Até o dia em que Luiz Carlos assistiu ao programa da Universal pela televisão e conheceu o Tratamento da Cura dos Vícios.
Ele convidou o rapaz a ir a uma Universal. “Meu filho estava muito depressivo naquele dia e aceitou o convite. Na primeira reunião vi pessoas curadas e isso me deu esperança. Naquele dia eu percebi que ele tinha uma chance”, lembra. No início, Mariel não acreditava que aquele tratamento pudesse mudar sua vida, então só seguia os pais. Mas, com a perseverança e a fé que os os dois desenvolviam, o jovem começou a despertar e a obedecer aos ensinamentos.
Quando passou a entender que Deus podia mudar sua vida, entregou suas vontades a Ele e pôde ser liberto dos vícios. “Hoje meu filho é calmo, nós três somos unidos. O mais importante, porém, é que temos paz. Toda a nossa família foi transformada”, diz Sonia.
O tratamento eficaz
Após muitas tentativas, várias famílias só chegam à solução definitiva ao entenderem o problema espiritual da questão. Os três casos citados, de Adriano, Mariel e Edson, refletem essa solução, o que, na visão da psicóloga Lizandra, mostra a importância da ajuda espiritual. “Muitas pessoas quando se apegam à fé, à ajuda espiritual, conseguem ter mais ânimo para lutar contra a dependência.”
Lizandra ainda comenta a influência das companhias. Assim como as más levam ao vício, as boas têm suma importância no processo de recuperação. “Esses locais têm como frequentadores muitos ex-dependentes que dão seus depoimentos de como saíram do vício. E unem-se, dando forças a quem chega, retroalimentando-se.”
Para a sociedade, o vício é uma doença sem cura, mas para a Universal existe saída e a porta está aberta para o acesso de todos. “Queremos mostrar ao viciado e a seus familiares que ele só entrou nas drogas porque lhe apresentaram um efeito que a princípio seria bom, mas não falaram nas terríveis consequências. Aqui ele recebe um efeito mais forte do que as drogas e que não passará, que é a Palavra de Deus”, diz o bispo Claudio Lana (foto abaixo).
No Tratamento da Cura dos Vícios a codependencia é tratada para o familiar deixar de depender emocionalmente do viciado. Somente quando ele se liberta desse mal é que poderá ajudar o familiar.
As quatro fases da codependência
Os três casos relatados na reportagem evidenciam muito bem, cada um a seu modo, as perigosas etapas pelas quais os familiares de viciados passam até que cheguem à codependência. O bispo Claudio Lana, que trabalha com a Cura dos Vícios na Universal, explica quais são essas fases:
1ª. Quando se descobre – A tendência da família quando descobre o vício de um de seus membros é de retaliação, imposição, agressividade e muita cobrança. Esse tipo de reação vem pelo fato de, no início, associarem o vício ao desvio de conduta e de caráter. Se de fato o vício fosse apenas uma questão de escolha, essa reação da família poderia até funcionar. Mas não é bem assim. Entrar é uma escolha, sair é uma necessidade.
2ª. Tentativa de agradá-lo – Por pensarem que falharam em algum momento, os pais procuram se transformar nos melhores pais do mundo. E, dentro de suas condições, começam a oferecer tudo o que podem, como viagens, carro, dinheiro, cursos, escolas melhores e muito mais. Tudo com o objetivo de mostrar ao familiar viciado o quanto se importam com ele e que querem o seu bem. Ele até aceita e promete que vai mudar, mas não consegue cumprir o que se propôs.
3ª. Tentativa de ajudá-lo – Essa fase normalmente acontece quando o próprio viciado pede ajuda. Então ocorrem as internações, os tratamentos com psiquiatra, psicólogos, grupos de autoajuda, etc. Mas isso tudo, infelizmente, na sua grande maioria, não consegue recuperar o viciado. Ou, por que não dizer, todos, uma vez que esses tratamentos afirmam que o vício é uma doença incurável, progressiva e fatal. A verdade é que chega a hora em que as internações deixam de ser uma tentativa de cura e passam a ser uma espécie de “refúgio” para a família que, diante do quadro incontrolável do familiar viciado, acaba optando por interná-lo mais uma vez, na tentativa de pelo menos livrá-lo de algum mal maior.
4ª. A codependência – Sim, a propriamente dita, pois é quando a codependência se manifesta de uma forma mais intensa. Nessa fase, a família, depois de tentar de tudo, entra em depressão, angústia, tristeza e é controlada por emoções negativas. Muitos integrantes adoecem, passam a viver à base de medicamentos, mudam sua rotina. Nesse desespero, deixam de viver suas vidas, seus sonhos e seus objetivos para viver a vida do viciado. E se tornam tão necessitados de ajuda quanto o familiar envolvido com o vício.
Procure ajuda
Se você tem um familiar ou amigo dependente de drogas, procure auxílio para ele e para você na Cura dos Vícios da Universal, acesse o site www.viciotemcura.com.br, saiba mais sobre o tratamento e os locais em que você pode procurar ajuda. Entre em contato também por outros canais. Por e-mail: atendimento@viciotemcura.com.br. E pelo Instagram: @bpclaudiolana
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