O que, para você, é uma questão de honra?

Por vezes, títulos, conquistas, influência, reconhecimento e notoriedade distorcem o entendimento do que a honra realmente significa

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Em um mundo ávido e ágil em novidades e futilidades, nada é mais premente do que falar de honra. Afinal, à prova do tempo, a honra está presente nos pequenos impulsos, nas grandes ações e em detalhes que parecem imperceptíveis. Há, porém, uma distorção no sentido da palavra, que, por vezes, acaba limitada a uma visão embaçada por preocupações que consomem a vida de muitos, como a necessidade incessante de honrar as promessas feitas a si mesmo e arregimentar o próprio legado, como se fosse questão de honra provar a si e ao mundo uma exímia capacidade intelectual.

Em uma dimensão tacanha como essa, a palavra honra se abastece com favores,  títulos, diplomas, influência, reconhecimento e notoriedade e, com isso, o que realmente significa e o que carrega em seu cerne se dilui (e se reduz) a uma régua volúvel. Não é de hoje que a filosofia, que se debruça nas questões humanas, aborda a honra. Sob o viés filosófico, quando se fala em honra, “naturalmente vem à mente a boa conduta ou a probidade; uma pessoa honrada seria fiel, reta e honesta”, descreve em um artigo Felipe de Azevedo Ramos, que explica honra como “um sentimento em relação ao caráter de alguém (…) construído e conquistado através de comportamentos esperados e admirados pela sociedade. Assim, trata-se de um título que dão a alguém. Um título que esperam que as pessoas alcancem”.

Aristóteles, filósofo da Grécia Antiga, cita que o prazer e a honra são duas motivações para as escolhas humanas. No entanto ele rechaça qualquer status ligado à palavra, uma vez que a honra que é dada “não está sob nosso controle” pois, como um título, “pode ser tirado de nós”. Para ele, “atos nobres ou honrosos opõem-se a atos vergonhosos por meio de uma contraposição absoluta, de tal modo que um ato honroso pode definir-se negativamente como um ato que não é vergonhoso, e um ato vergonhoso negativamente definir-se como um ato que não é honroso.” Em sua obra Ética a Nicômaco, o estudioso diz que “a honra é a demonstração da reverência em testemunho da virtude” e, portanto, aquele que é iníquo não é digno de honra, uma vez que a mesma deve ser o “prêmio da virtude”.

Honra e fama, para Peter Olsthoorn, da Academia Militar Real Holandesa, são recompensas e “ações motivadas por um desejo de honra ou fama não devem ser chamadas de virtuosas” por existir uma linha tênue que desemboca na vaidade humana. Ele acentua ainda que “a honra sempre envolveu a escolha entre interesses superiores e interesse próprio”, sendo que esta última tornaria a honra um motivo menos altruísta. Quanto a isso, o filósofo Tomás de Aquino acreditava que a honra não podia ser o fim pelo qual os virtuosos agem, embora recebam “dos homens a honra como prêmio, como se não houvesse coisa alguma melhor para dar.” Ao agir em nome da honra, a mesma deixa de ser virtude para se tornar ambição. À vista disso, ambição seria o “apetite desordenado pelas honras” – algo que o filósofo e matemático Platão também reputava e dizia que “nenhum homem bom deveria buscar honras”.

Causa honoris

Entendendo a importância do servir ao outro, Olsthoorn correlaciona honra com a disposição para fazer sacrifícios, afirmando que “a honra é tanto o valor que atribuímos a nós mesmos” como o valor que “os outros atribuem a nós”. Já para o professor francês Joseph Jacotot, a causa da honra (causa honoris) é a razão pela qual ela é prestada por alguma excelência. Assim, “se premia aqueles que se destacam no esporte ou nas artes; se conferem galardões a quem se sobressai nas ciências; se instituem comendas ou insígnias (ou seja, um sinal) para condecorar atos heroicos ou modelares (ornamenta honoris). Por isso, a honra é prestada apenas a quem merece, ou seja, aos honestos, em razão de certos méritos”, ressaltando que essa seria a origem da palavra “honesto”, que viria do termo “ser digno de honra” (honos). A honra, portanto, ganharia papel social ao demonstrar que determinado indivíduo ou ação devem ser considerados referência pela sociedade ou  comunidade de pessoas, como Aquino descreveu – daí muitas instituições adotarem níveis de honorificência como acontece no meio acadêmico norte- americano. Em uma graduação, por exemplo, aquele que a conclui com cum laude se forma “com honra”; com magna cum laude, “com grandes honras”; e com summa cum laude, “com a maior das honras”.

Já vimos isso

A Bíblia é exímia ao tratar de honra e o primeiro exemplo que pode ser visto nela são os irmãos Caim e Abel. Enquanto Abel desejou honrar a Deus com “os primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura” – algo que fez o Senhor se atentar a Abel e a sua oferta” (Gênesis 4.4) –, Caim quis ser honrado pelo que não fez (Gênesis 4.5-10).

Angariar honras, glórias e aplausos tem enchido os olhos de muitos e, um dia, perverteu a Hamã, homem importante e influente no império do rei Assuero, como narra o Livro de Ester em uma história que mostra o quanto o coração inclinado à honra é articuladamente perigoso e, geralmente, não suporta enxergar no outro o reconhecimento que queria para si: “Naquela mesma noite, o rei não conseguiu pegar no sono; então mandou buscar o livro em que se escrevia o que acontecia no reino e ordenou que os seus funcionários lessem para ele. A parte que leram contava como Mordecai tinha descoberto o plano para matar o rei (…). Hamã entrou no pátio (…) e o rei lhe disse: Eu quero ter o prazer de prestar homenagens a um certo homem. (…) Hamã pensou assim: “Quem será esse homem a quem o rei tanto quer honrar? É claro que sou eu!” E Hamã disse ao rei: Mande trazer as roupas que o senhor usa e também o cavalo que o senhor monta e mande colocar uma coroa real na cabeça do cavalo. Então entregue as roupas e o cavalo a um dos mais altos funcionários do reino e ordene que ele vista as roupas no homem que o senhor deseja honrar. Depois, que ele leve o homem,  montado a cavalo, pela praça principal da cidade e que diga em voz alta o seguinte: “É isto o que o rei faz pelo homem a quem ele quer honrar!” Então o rei disse a Hamã: Vá depressa, e pegue as roupas e o cavalo, e faça com o judeu Mordecai tudo o que você acaba de dizer (…)” (Ester 6.1-10, NTLH). Vale ressaltar que Hamã, antes disso, se agigantou ao contar “a glória das suas riquezas, a multidão de seus filhos, e tudo em que o rei o tinha engrandecido.” Porém, conforme as palavras dele, nada disso o satisfez. (Ester 5.11-13)

Abraão honrou a Voz de Deus sem nem mesmo conhecê-Lo. Ao ser instado a deixar o seu conforto aos 75 anos, tudo que ele fez foi crer suficientemente que Deus honraria a Sua promessa. Em Gênesis 12.1-2 lemos: “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra,  para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.” O nome Abrão – ironicamente – significa “pai honrado” e “pai exaltado”, mas qual honra exatamente Abrão tinha? Nenhuma e nem pai ele era. Foi por honrar sua família, se manter fiel a uma esposa até então estéril e crer contra a esperança que ele, já com o nome de Abraão, passou a ser chamado Pai da Fé (Tiago 2.21). Ao honrar a Deus, Abraão foi honrado por Ele em tudo. Interessante notar que durante 25 anos Abraão não questionou a Deus sobre a promessa ainda não cumprida.

A nossa ansiedade, por vezes, exige que sejamos honrados à altura e o quanto antes. Entender, porém, que o tempo não nos pertence nos dá bagagem espiritual para aprendermos a confiar em Deus. Diante das injustiças, mães imploram a Ele para que sua Fé seja honrada e seus filhos, recuperados da ingratidão e das drogas; mulheres choram pelo maridos que trazem desonra para casa; e aqueles que carecem de uma resposta profissional enxergam diante de si um agir sobrenatural que os possa reerguer. Essa honra é Divinamente arquitetada na honra que damos a Deus. A honra natural faz com que o patrão acredite que a postura ilibada e comprometida de um funcionário honrará a porta que foi aberta a ele, assim como o funcionário que trabalha fielmente espera receber o seu salário – é um anseio bilateral. Mas, quando por meio da Fé cremos e esperamos a resposta sobrenatural, entregamos ao Criador o que compete a Ele fazer com maestria. A honra Divina está na Sua Palavra, já que Ele não é homem para mentir (Números 23.19), tampouco Sua honra é tolhida pelas fragéis possibilidades humanas.

A honra divina e uma dívida

O trecho em Apocalipse 4.11 observa: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas”. Durante a reunião do Encontro com Deus, o Bispo Renato Cardoso disse que esse reconhecimento está, inclusive, na oração do Pai-Nosso ensinada por Jesus. “Essa consciência de que Deus é o Criador é o que nos faz querer honrá-Lo”, citou. Quanto a esse entendimento, ele citou que, quando uma pessoa cria algo, naturalmente surge o desejo de honrá-la. “Quando um médico ou um cientista criam um remédio ou uma vacina para vencer uma doença, muitas vezes, o nome dele vai no próprio remédio e todo mundo o aclama, dá (a ele) o Prêmio Nobel pela cura. O ser humano é reconhecido, mas Deus é muito mais do que o criador de uma coisinha aqui ou ali. Deus é o Criador de tudo”, ressaltou. Honrá-lo, no entanto, não deve se restringir a agradecimentos e palavras, mas a um caráter atrelado a uma conduta que O reflita. “A honra é um princípio que habita dentro daqueles que são de Deus. A honra é uma dívida que a gente paga a quem de direito. Graça é uma coisa imerecida, mas a honra é conquistada”, reforçou o Bispo.

No programa Inteligência e Fé, o Bispo Renato destacou um conselho que vemos em Romanos 13.7-8: “Deem a cada um o que lhe é devido: Se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra. Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros (…).” Honrar, disse o Bispo, “é cumprir com aquele que você deve o que é esperado, o que está prometido, o que está comprometido. Uma pessoa honrada faz o que tem que ser feito, o que é certo, mesmo quando é difícil. Ela está mais preocupada com o seu, em proteger a sua honra do que com o sacrifício necessário para manter aquela honra. Isso é ser uma pessoa honrada: ter honra à sua palavra. É o que Deus faz com a Palavra dEle. Ele honra a Palavra dEle e promete honrar a quem O honra também”.

Traições regadas a vícios

O empresário do ramo imobiliário Paulo Benedicto de Souza, (foto abaixo) de 53 anos, é casado com Eliana Dias desde quando os dois tinham 17 anos. Eles se conheceram aos 14 anos. Ele conta como era a vida conjugal e familiar: “me envolvia em relacionamentos fora do casamento, maltratava minha esposa com palavras e fisicamente e chegava a bater nos filhos que, muitas vezes, defendiam a mãe da agressão. Me envolvi no vício da bebida e buscava uma maneira de ser feliz e daí vieram os relacionamentos extraconjugais, outros vícios e a depressão”, diz.

Aos 15 anos, Paulo já estava inclinado ao vício da maconha, mas aos 18 anos conheceu e se afundou na cocaína. Ele recorda dos problemas: “quando ela tinha 16 anos, ela ficou grávida. Eu a amava e quis honrá-la e não deixá-la ser mãe solteira. Quis honrar minha palavra como homem. No entanto me perdi quando quis conhecer o mundo e passei a gostar do que ele me apresentava. Quando tinha 18 anos, me envolvi com uma pessoa 10 anos mais velha e a engravidei. Eu escondia esse fato da minha esposa de todas as maneiras, mas os indícios a deixavam deprimida. Ela sempre sofreu e eu sempre a enganei. Cheguei a ter três amantes ao mesmo tempo”, relata.

Aos 26 anos, Paulo sofreu um acidente. “Eu já estava em ascensão naquilo que fazia, ganhando bem, mas era muito dependente da cocaína. Estava com fissura e, ao me deslocar para ir buscá-la, não vi o sinal vermelho e atravessei o cruzamento em  alta velocidade. Bati de frente com um carro, fiquei com parte do meu corpo destruída e meu olho direito foi arrancado”, declara.

Apesar de honrar suas vontades, ele, segundo revela, tinha pensamentos de morte. “Quase me joguei na frente de um caminhão, embora estivesse financeiramente bem e, de certa maneira, realizado. Eu não tinha paz”, destaca. Ele conta que foi dessa forma que chegou à Universal. “No terceiro dia, ouvi uma Palavra: se eu honrasse a Deus, Ele me honraria. Então, tomei a decisão de honrá-Lo em todos os sentidos e de colocá-Lo em primeiro lugar. Imediatamente, perdi todos os desejos pela bebida e pela prostituição e a tristeza foi embora”, afirma.

Ele diz qual é sua maior honra: “é a minha Salvação e, hoje, ser um enviado por Deus para levar as boas-novas a quem sofre como eu sofri um dia. Tive minha família reconstruída e passei a amar minha esposa como amava quando tínhamos 14 anos e a tratar meus filhos com dignidade. Isso é o mais prazeroso. O que me satisfaz é o Espírito de Deus dentro de mim”, relata.

Seis falências

Os empresários Anderson Rodrigo Pomponio, (foto abaixo) de 37 anos, e Luciane Aparecida da Silva Pomponio, de 43 anos, estão casados há nove anos e chegaram à Universal em 2019. “Cheguei na Universal com a vida destruída, com um oficial de Justiça atrás de mim. Tive um casamento  anterior de dez anos que acabou porque ela morreu de câncer. Destruído emocionalmente, entrei em depressão”, narra Anderson.

Além disso, ele enfrentou seis falências. “Em questão de seis meses, eu mudava de segmento e quebrava de novo. Na minha mente, Deus não existia e eu me perguntava qual era o motivo de viver. Eu tentava achar um culpado”, avalia. Mas, ao conhecer a Deus, ele conta o que mudou: “aprendi que tinha que obedecer e não era uma obediência qualquer. Entendi que tinha que honrá-Lo principalmente quando ninguém estava me vendo, nas primícias, nos votos, no caráter. Também entendi que eu tinha que ser íntegro, pois eu enganava para me dar bem. Se precisasse mentir, eu mentia e falava mal de uma pessoa só para prejudicá-la. A verdade é que eu passava por cima de tudo por dinheiro e o dinheiro era meu foco. Eu achava que as pessoas olhariam para mim em razão disso. Hoje, vejo que a maior honra de todas é ter Deus na minha vida e experimentar um encontro com Ele. É saber que, nos momentos mais difíceis, Ele vem e me dá a resposta”. Essa confiança fez com que Rodrigo se reerguesse e constituísse uma nova família. “A sabedoria do Alto faz a diferença e hoje temos quatro empresas no ramo ótico”, finaliza.

Durante este mês, os ensinamentos sobre a honra serão propagados em todas os templos da Universal. Para entender mais a esse respeito, procure a Igreja mais próxima de você.

 

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: Tudiocaspe, ArlawkaAungtun, ThomasVogel/GettyImages; Cedidas, Reprodução, Edu Moraes e Demétrio Koch