O que está por trás da sensação constante de cansaço?

Além de fatores físicos, algumas atitudes cotidianas podem piorar a sobrecarga mental e a fadiga. Saiba como reverter o quadro com ações simples

Imagem de capa - O que está por trás da sensação constante de cansaço?

Qual é o remédio para o cansaço? Uma boa noite de sono, muitos podem dizer. A resposta estaria correta há algum tempo, mas atualmente é cada vez mais comum o relato de pessoas que dormem pelo período adequado, mas, em vez de acordarem com disposição para mais um dia, já despertam cansadas e com vontade de ficar na cama. Para piorar, ao longo de todo o dia, elas são tomadas pela fadiga e a situação se repete dia após dia. Isso é normal? Segundo especialistas, não.

Vários fatores podem explicar esse quadro de fadiga crônica e um deles é a realidade atual. “Estamos passando por um momento bastante diferente, pois tivemos que nos adaptar algumas vezes nos últimos anos. Nós vivíamos num mundo, acordamos em outro e agora, depois de algumas mudanças, temos de nos adaptar mais uma vez. Esses processos, protocolos e novas rotinas que foram estabelecidas de um tempo para cá têm exigido demais do nosso processo mental e isso tem feito com que muitas pessoas entrem em estafa emocional”, diz a psicóloga Veruska Ghendov.

A estafa gera a sensação de esgotamento constante no indivíduo, ou seja, as semanas passam e, por mais que sejam realizadas pausas para descanso, a mente continua trabalhando intensamente.

O resultado disso são sintomas como desânimo, cansaço, dificuldade de lembrar das coisas, insônia, problemas de digestão e até palpitações.

Veruska faz um alerta sobre a atual situação: “temos percebido que o adoecimento emocional e físico tem aumentado muito como resultado dessa estafa e uma das grandes preocupações é que, além do desgaste emocional e do esgotamento mental, temos tido uma quantidade muito grande de pessoas que desenvolvem problemas psicossomáticos, como ansiedade em grau muito elevado, depressão, adoecimento em geral e até surtos. O nosso corpo e a nossa mente precisam ter períodos de recuperação e essas pausas não têm acontecido”, explica.

Sem limites
A pandemia trouxe uma nova realidade no mundo do trabalho: o home office. Se por um lado as pessoas passaram a desempenhar suas atividades no conforto de seu lar, por outro perdeu-se a noção de limite entre o tempo dedicado à vida profissional e à vida pessoal. Essa junção forçada também colaborou para a sensação constante de desgaste, já que foi registrada uma sobrecarga de atividades e pouco equilíbrio. No período mais crítico da pandemia, a situação ainda foi agravada pelo medo da Covid-19, a restrição para sair de casa e as mais variadas preocupações (com os filhos em aulas on-line, com o fechamento das empresas, com o emprego, com as dívidas, etc.). O esgotamento relacionado especificamente ao trabalho ganhou um termo próprio: síndrome de burnout. O problema se tornou tão comum que, desde o início deste ano, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessa forma, os profissionais diagnosticados com a enfermidade passaram a ter os direitos trabalhistas e previdenciários em caso de afastamento para recuperação.

Segundo Veruska, “mais um agravante é a quantidade de tempo que as pessoas estão se sobrecarregando por utilizarem de forma excessiva dispositivos como celular, tablets e computadores, que exigem e amplificam demais as conexões neuronais”. Dessa forma, a sobrecarga mental também estaria relacionada ao fato de o indivíduo viver constantemente em dois mundos: o real e o virtual. Se dividir entre essas duas realidades é cansativo. No mundo físico existem cobranças profissionais e pessoais e no mundo digital não é diferente.

As redes sociais, por exemplo, são plataformas desenvolvidas estrategicamente para manter o usuário o maior tempo possível conectado. Assim, o indivíduo produz conteúdo e consome o que está disponível. A rolagem infinita, na qual a informação nunca acaba, contribui para que a pessoa passe várias horas na rede. O que poucos se dão conta é que o excesso de conteúdo também é prejudicial para a mente, pois causa uma verdadeira “infotoxicação”.

Outro aspecto negativo é o uso dos dispositivos eletrônicos antes de dormir. O hábito afeta diretamente a qualidade do sono e, consequentemente, aumenta a sensação de fadiga. “Se a pessoa não consegue ter qualidade de sono, ela deixa de ter a reparação mental. Algo que atrapalha muito é o hábito de levar o celular para a cama. Dessa forma, as pessoas acabam ampliando a atividade neuronal e com isso não entram no processo de sono considerado saudável. Elas condicionam a mente a ficar olhando as mensagens e prejudicam o que é fundamental, que é a qualidade do sono”, detalha Veruska.

Driblando a fadiga
Há algumas causas físicas que também podem ser responsáveis pela fadiga crônica, como a ausência de ferro e magnésio. Por isso, é importante consultar um médico para eliminar essas possibilidades. O segundo passo é se dedicar ao processo de autoconhecimento e entender quais são os limites necessários para manter sua saúde mental. “Busque definir quanto tempo será dedicado ao trabalho por dia e quanto será separado para descansar ou distrair a mente com algo que possa ser diferente das atividades profissionais e das preocupações. Pode ser uma comédia, um bom filme ou um lazer ligado à natureza. Além disso, o sono é primordial. As pessoas precisam averiguar o quanto elas estão dormindo. Às vezes, a pessoa não tem condição de sair de casa no final de semana, mas tem como melhorar a sua qualidade de sono”, orienta. Segundo ela, esse comportamento é capaz de restaurar o equilíbrio mental.

Além disso, para ter um verdadeiro descanso à noite, é preciso investir na chamada “higiene do sono”, prática que incentiva a organização de hábitos antes de dormir, como reduzir a conexão com a internet uma hora antes de deitar, evitar comer alimentos pesados à noite, etc. “Eu acredito que priorizar a qualidade da saúde mental é uma questão de amor-próprio, pois essa atitude vai determinar o nível de satisfação e de qualidade de vida que a pessoa vai apresentar, seja ela profissional, seja afetiva ou social”, finaliza.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: getty images