O que as telas podem fazer com você e sua família?

Veja como usar o celular e os tablets sem se tornar escravo da tecnologia

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As tecnologias surgiram para revolucionar a vida das pessoas e muitas delas acabam ditando novos costumes e mudando até a forma como elas se relacionam. A roda, o rádio e a televisão são alguns exemplos. Hoje, o celular também desempenha um papel impactante e praticamente se tornou um item essencial, pois facilita as transações bancárias, o acesso a informações e ao entretenimento, além da comunicação entre as pessoas. Contudo a ferramenta também tem influências negativas sobre quem a usa.

No Brasil, onde a população é de pouco mais de 203 milhões de habitantes, existiam, até 2022, 242 milhões de celulares inteligentes em uso, segundo uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Quando considerados também notebooks e tablets, eram ao todo 352 milhões de dispositivos portáteis, o equivalente a mais de 1,7 aparelho por pessoa. Outro estudo, realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) em 2019, mostrou que 89% da população de 9 a 17 anos está conectada. Deste total, 23 milhões de crianças e adolescentes usam o celular como o principal dispositivo para acessar sites e aplicativos.

Para Rosângela Casseano, psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental e CEO da PsicoPass, plataforma de atendimento psicológico em São Paulo, a experiência humana passou a ser mediada pelas telas desde a chegada da TV e dos computadores. “Criamos um elo com elas. A evolução natural da tecnologia tem nos trazido cada vez mais recursos audiovisuais mais acessíveis e respostas a um clique, o que é maravilhoso e acelera nossa evolução”, avalia.

Segundo ela, hoje somos seduzidos pelas possibilidades disponibilizadas por elas: “o grande impacto negativo disso é uma distorção da realidade virtual com a vida real. Muitas vezes, a tela, especialmente nas mídias sociais, nos apresenta um mundo imaginário e fantasioso. Há filtros gerados nos aplicativos que são um sucesso, pois podemos com um clique ter um corpo perfeito, roupas incríveis e até estar em cenários desejados, porém, de forma virtual e temporária, e ali podemos vivenciar o sonho fora do mundo invisível”.

Muitos pais também estão usando o celular como uma espécie de babá eletrônica para cuidar dos filhos: “sabemos que o excesso e o uso muito prematuro da tecnologia afetarão tanto o desenvolvimento cognitivo quanto o raciocínio, a criatividade e a inteligência das crianças. Precisamos estar muito atentos e postergar ao máximo possível o acesso de crianças ao celular. Elas têm a mente aberta e estão muito mais disponíveis para se arriscar a viver o desconhecido. Por outro lado, os aplicativos e as máquinas, cada vez mais intuitivos, são a combinação perfeita para o aprendizado mais rápido e para despertar o interesse das crianças”, analisa.

Porém, na Holanda, por exemplo, celulares e tablets serão banidos das salas de aula a partir de 2024, como forma de afastar as distrações que esses aparelhos trazem. “Estamos todos aprendendo e ainda tentando entender e classificar o malefício do uso excessivo de telas e, por isso, é necessário e urgente criarmos regras quanto ao uso, para não alimentarmos uma geração de pessoas com inabilidades naturais. O desafio é estabelecer limites, especialmente para os adultos, para que não se percam no modelo que vão transmitir para as crianças”, observa.

Entretanto o uso equivocado do celular também está presente em diversas situações cotidianas, em que as pessoas não conseguem largá-lo nem mesmo em encontros presenciais. “Ficar procurando algo no celular, mesmo sem motivo, pode ser um sinal de vício. Toda compulsão produz analgesia ou anestesia de dores inconscientes e até funciona como companhia para passar o tempo. Quem nunca comeu demais porque estava triste ou simplesmente para passar o tempo? As telas podem promover esse mesmo ‘benefício’, porém podem criar a dependência física e emocional que pode gerar isolamento social”, afirma.

Muitas vezes demora bastante tempo para que as pessoas percebam que estão viciadas. “Quando percebemos que nós ou nossos amigos e familiares iniciamos um processo de afastamento social, estamos com dificuldade nos relacionamentos afetivos e profissionais e apresentamos sintomas de ansiedade, transtornos com o sono e irritabilidade e quando nos afastamos das telas apresentamos sinais de abstinência pelo uso excessivo da tecnologia, é hora de ficarmos alertas e indicarmos ou procurarmos ajuda, sugerirmos novos hábitos, como atividade física, novos hobbies, limites de horários para trabalhar e acessar telas, meditação e, se necessário, ajuda com tratamento psicológico”, orienta.

Rosângela salienta que as telas podem ser boas aliadas, mas que nós é que devemos estar no controle delas. “Devemos fazer bom uso delas, mas não desprezar a importância da experiência real com a arte, a música, a literatura, as atividades lúdicas, a dança, os encontros, os laços de amizade e a família. As telas mudaram e facilitaram nossa vida, mas não são nossas donas. Os pais têm que compreender que faz parte do processo da educação dos filhos ensiná-los a ter autocontrole, experimentar a diversidade, explorar a natureza e criar laços de afeto e que o uso excessivo das telas impedirá esse desenvolvimento”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Fotos: JGI/Jamie Grill/getty images