O preço alto da mentira

Omitir a verdade diante da Justiça pode custar caro para trabalhadores e testemunhas. Entenda por que a sinceridade sempre é o melhor caminho

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Não há dúvidas que mentir nunca foi uma boa ideia. Seja qual for a situação, deixar de falar a verdade não costuma dar certo, pois, em algum momento, a realidade vem à tona.

Diante da veracidade dos fatos, o mentiroso acaba sofrendo consequências negativas e perdas irreparáveis. Além disso, ele pode receber punições mais severas e até ter de arcar com prejuízos financeiros, como é o caso de quem mente para a Justiça brasileira.

Com a reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017, quem mentir no decorrer dos processos pode ser obrigado a pagar multas de valores altos. Isso quer dizer que trabalhadores, testemunhas e até advogados que praticarem atos considerados desleais podem ser condenados se tentarem esconder a verdade.

Em fevereiro deste ano, o juiz Delano de Barros Guaicurus, do Rio de Janeiro, condenou um trabalhador a pagar 15% do valor de sua causa por má-fé, antes mesmo do julgamento da ação.

A punição aconteceu logo após o magistrado saber que o funcionário havia combinado com uma testemunha que se ela depusesse a seu favor receberia uma vantagem. A mensagem encontrada em seu celular dizia “se liga Louco Abreu, a minha audiência é quarta-feira, se quiser ir e, se eu ganhar, você ganha milzinho e já é”.

Outra situação semelhante aconteceu também no Rio de Janeiro. Um ex-funcionário que processava a empresa combinou com um amigo, por mensagem no WhatsApp, que lhe pagaria R$ 70 para que ele testemunhasse a seu favor, prometendo-lhe que faria o mesmo pelo amigo quando ele também movesse uma ação contra a empresa.

Os juízes também penalizam testemunhas que omitem a verdade. Recentemente, em Caieiras, região metropolitana de São Paulo, uma depoente foi multada em R$ 12,5 mil por ter alterado a verdade dos fatos durante uma audiência contra uma ex-funcionária de uma rede de restaurantes.

O caso aconteceu após a trabalhadora ter entrado com uma ação dois meses depois de ter sido demitida. Ela era membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), o que lhe dava o direito à estabilidade no emprego até julho de 2019.

No processo, a testemunha dizia que não sabia da eleição dessa funcionária para a Cipa, mas, depois, reconheceu sua assinatura na ata da assembleia da votação quando o juiz lhe apresentou o documento.

O advogado Carlos Roberto Siqueira afirma que os juízes se tornaram mais rigorosos porque agora a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) prevê a possibilidade de multa de 1% a 10% do valor corrigido da causa por atos de má-fé, além de o indivíduo responder em processo por crime, como já estava previsto em lei. “Agora, estão claras as penalidades e punições a qualquer envolvido no processo, até mesmo um perito.”

Para ele, essa atitude dos juízes fará com que as partes sejam mais cautelosas. “Quando se mexe no bolso das pessoas, todos os envolvidos passam a ficar temerosos. Isso vai coibir os abusos e fazer prevalecer sempre quem tem mesmo razão”, afirma.

Mau negócio

Muitas pessoas omitem a verdade para se proteger de uma situação ou se livrarem de confrontos ou punições. Mas, com base nesses exemplos, vemos o quanto não vale a pena mentir e o risco que se corre de perder algo conquistado quando a verdade for revelada.

Ao inventar uma mentira, a reputação do indivíduo passa a ser questionada porque seu comportamento suspeito provoca desconfiança nas pessoas que estão ao redor e põe em dúvida sua credibilidade. Afinal, como saber quando uma pessoa que sempre mente está dizendo a verdade?

A atitude de mentir consiste em um mau hábito que precisa ser eliminado. Para fazer isso, procure ter em mente pensamentos puros e corretos, reflita antes de falar para não contar inverdades que possam prejudicar os outros e a si mesmo e tenha sempre atitudes sinceras, ainda que isso lhe traga consequências desagradáveis.

Apesar de o comportamento autêntico estar fora de moda, falar a verdade ainda é o melhor caminho para ser feliz. Mesmo que as pessoas não reconheçam em um primeiro momento a veracidade de um acontecimento, o fato de estar com a consciência tranquila lhe trará paz interior e isso não tem preço.

Mentir faz mal à saúde

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Notre Dame, de Indiana, nos Estados Unidos, revelou que quem não costuma mentir apresenta saúde mental e física superior à dos mentirosos.

Os estudiosos forçaram os participantes a diminuir o ato de mentir, usaram detectores de mentiras para comprovar o novo comportamento e monitoraram a saúde de cada um deles.

Quem eliminou a mentira da rotina apresentou bem-estar físico e melhora nas relações interpessoais, enquanto quem continuou mentindo sofreu com dores de cabeça, melancolia e até depressão durante o estudo.

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Colaborador

Por Janaina Medeiros/ Foto: Fotolia