O fim não é a solução para o seu problema
Dificuldades financeiras têm sido motivadoras de casos de suicídio. Pessoas que pensaram em desistir contam como mudaram de ideia
O consultor de marketing Anísio Alves Fonseca Junior, de 44 anos, trabalhou para uma multinacional durante 24 anos. (foto abaixo) Ele começou a ter dificuldades para controlar as altas dívidas que adquiria, mas os problemas financeiros eram apenas um dos fatores que o angustiavam.
Ele também vivia frustrado na vida amorosa por ter se divorciado duas vezes. Por conta disso, se viciou em álcool e drogas. “O fato de trabalhar muito e chegar no final do mês e não ter o que comemorar era o que mais me afetava”, relembra.
Como não via perspectiva de mudança, Anísio consumia bebidas e cocaína para tentar deixar de viver. “Cheguei a ter três overdoses e quase morri. Uma vez, no banheiro de um bar, de madrugada, dobrei o meu joelho e pedi a Deus para tirar minha vida”, relata.
Se Anísio tivesse dado fim à própria vida, ele seria mais um caso na triste estatística. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos ocorre um suicídio no mundo. No Brasil, três pessoas tentam se matar a cada 45 minutos, segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação que combate o suicídio e que funciona desde 1962.
Mas Anísio entendeu que havia solução para seus problemas. Em uma palestra no Templo de Salomão, ele ouviu alguns testemunhos de pessoas que diziam ter conseguido superar as dificuldades com o uso da fé inteligente. “Então, coloquei minha fé em prática como era ensinado. Foi aí que tudo começou a mudar.”
Anísio conseguiu organizar sua vida financeira e profissional, livrou-se dos vícios e das angústias, abriu a própria empresa e casou-se com Daniela Monteiro Fonseca. “Hoje, os negócios caminham de vento em popa, sou palestrante, consultor e um homem realizado”, comemora.
Enfrentando a crise
A psicóloga Maria Alice Fontes, doutora em saúde mental e diretora da Clínica Plenamente, aponta que a crise econômica afeta a saúde mental do indivíduo, pois prejudica seu bem-estar. “Saúde mental corresponde a todos os recursos que sustentam a saúde em geral e o bem-estar para ser produtivo, como emprego estável e rendimento seguro. Por isso, momentos de crise são de alto risco para afligir essa sensação de bem-
estar e, consequentemente, a saúde mental da população”, informa.
Ela alega que esses problemas podem levar as pessoas a ter pensamentos destrutivos. “Existe um risco documentado de aumento das taxas de suicídio frente às crises financeiras. Geralmente, quem tem esse risco já possui sintomas de depressão ou um problema psiquiátrico anterior”, explica.
Com base nisso, é possível entender que o suicídio nunca é motivado apenas por um único fator. A crise financeira, por exemplo, pode ser a “gota d’água” para a concretização do ato, mas ela pode estar associada a outros problemas que apresentam sintomas baseados no descontrole das emoções, como esquizofrenia e transtorno bipolar. “Quando se tem medo, o lado emocional do cérebro é ativado. Com isso, a pessoa fica impossibilitada de tomar decisões usando a razão. É como se ela perdesse o juízo. Então, ela está mais propensa a ter atitudes de sobressalto, como ser violenta ou cometer suicídio”, ressalta Maria Alice.
Angústia
A fotógrafa Carolina Gasi, de 26 anos, ( foto ao lado) se viu sozinha quando mais precisava aliviar as angústias causadas por problemas financeiros e profissionais. “Todos os amigos sumiram e não havia nenhum para me apoiar”, se recorda. Ela tinha um estúdio em que fazia ensaios fotográficos, mas seus clientes eram, em sua maioria, pessoas de má índole e que pouco a pouco a prejudicaram. “Essas pessoas queriam só me sugar. Eu dava festas no estúdio, usava drogas, bebia muito e tudo o que eu ganhava, gastava”, conta.
Por causa das noitadas, Carolina diminuiu o ritmo de trabalho e contraiu dívidas altas. “Estava indo de mal a pior, devia para funcionários e vários meses de aluguel. Até que fui despejada e intimada em dois processos trabalhistas”, diz.
Essa situação a desestabilizou emocionalmente. A fotógrafa passou a ter depressão e síndrome do pânico. “Me lembro de um dia que parei na frente da janela para me jogar. O telefone tocava sem parar e eram pessoas cobrando, não tinha trabalho agendado e minha mãe estava cansada de trabalhar para me ajudar a pagar as dívidas. Eu só pensava em me atirar pela janela.”
Sua mãe era a única que sempre esteve ao seu lado e quem a incentivou a buscar ajuda. Ao participar de uma reunião do Congresso para o Sucesso Financeiro, na Universal, a fotógrafa aprendeu que sua vida poderia mudar. “Aprendi que a mudança vem quando tudo é colocado sob os cuidados de Deus e Ele fica à frente”, afirma.
Ela desenvolveu coragem e sabedoria para tomar atitudes e recebeu uma inspiração na área profissional. “Comecei a trabalhar com ensaios fotográficos infantis e estourei. Atendo mais de 50 crianças por mês. Hoje sou forte, decidida, superei os medos e consigo dormir tranquilamente”, testemunha.
É preciso falar sobre isso
O suicídio não afeta apenas a vítima e sua família, mas toda a sociedade, sendo considerado um problema de saúde pública. Apesar disso, tem sido um mal silencioso, pois muitas pessoas fogem do assunto. “Por medo ou desconhecimento, as pessoas não veem os sinais de que alguém próximo pode estar com ideias suicidas”, declara o psicólogo Antônio Mello Vargas.
Isso significa que o silêncio em torno do assunto agrava ainda mais a situação. “Na imprensa, poucos detalhes sobre o problema têm sido divulgados, o que dificulta o compartilhamento de experiências. Quando um tema é tabu, ele não é discutido, estudado e pesquisado abertamente como deveria”, justifica Vargas.
Eliane Alves, voluntária do CVV, alega que existe um mito de que falar sobre suicídio vai incentivá-lo. “Falar abertamente em todas as oportunidades conscientiza sobre o problema, mostra que ele é real e que existe prevenção. Isso facilita para que as pessoas busquem ajuda”, argumenta. Ela destaca que um diálogo com um potencial suicida dá a ele a chance de pedir socorro. “Sentir-se acolhido e respeitado é essencial para que a pessoa mude de ideia nessa situação. Basta oferecermos nosso tempo e nossa atenção”, ensina.
Na mídia
Era uma manhã de segunda-feira, dia 29 de agosto, quando o corpo do motoboy Carlos Ti On Martins Kon, de 41 anos, foi encontrado abraçado ao do filho Bryan, de 4 anos, no saguão do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, em São Paulo.
De acordo com a polícia, ele havia se jogado do parapeito de um dos andares do prédio com o filho no colo. Os dois morreram na hora. Em seu bolso havia um bilhete com o número de telefone de parentes e a informação de que o menino era seu filho. Nele, também estava escrito: “às vezes tem um suicida na sua frente e você não vê”.
Aos policiais, a família disse que Kon estava desempregado e passava por problemas financeiros. Um dos irmãos alegou que ele usava drogas, mas que não parecia estar depressivo.
No mesmo dia, no Rio de Janeiro, Nabor Coutinho, de 43 anos, e seus filhos de 6 e 10 anos foram encontrados mortos na área da piscina do condomínio onde moravam. No quarto da residência, a esposa também estava morta. As suspeitas são de que ele teria esfaqueado a mulher enquanto ela dormia e depois pulado do 18º andar do prédio com os filhos.
Coutinho de
ixou uma carta em que relatava falta de dinheiro e medo do futuro. “Me preocupa muito deixar minha família na mão. Sempre coloquei eles à frente de tudo ante essa decisão arriscada para ganhar mais. Mas está claro para mim que está insustentável e não vou conseguir levar adiante. Não vamos ter mais renda e não vou ter como sustentar a família. Sinto um desgosto profundo por ter falhado com tanta força, por deixar todos na mão. Mas melhor acabar com tudo isso logo e evitar o sofrimento de todos.”
Entre uma notícia e outra sobre suicídios, como esses mais recentes, muitas pessoas podem se perguntar: como a crise financeira pode justificar atitudes tão bárbaras?
Se ela explica ou não essas tragédias, ainda há muito a ser investigado. Mas a menção dada às dificuldades financeiras mostra que muitos andam desesperados porque não encontram a solução para seus problemas e veem no suicídio a única saída.
Não se subestime
O bispo Edson Costa, em uma palestra do Congresso para o Sucesso Financeiro, no Templo de Salomão, afirmou que o modo como a pessoa se enxerga é determinante para que os problemas externos sejam resolvidos. “Quando você começa a se enxergar maior e melhor e coloca em prática a fé, Deus começa a trabalhar na sua vida”, orienta.
Ele deu o exemplo de Davi, que era subestimado por seu tamanho e força, mas venceu o gigante Golias. “Ele era o patinho feio da turma, o coitado que só cuidava de ovelhas. Contudo, ele se enxergava maior que os outros. E Deus também o enxergava maior, como rei de Israel. Por isso, ele derrubou o gigante. Do mesmo jeito, Deus não o enxerga chorando pelos cantos e perdendo noites de sono por causa de dívidas. Ele o enxerga maior, mas, para isso, sua fé não pode estar em crise”, diz.
Ele salienta que Deus não se limita às circunstâncias. “Não se curve diante do problema. Assim como toda caminhada exige um calçado diferente para que você consiga andar, no mundo espiritual também. Se eu calçar algo inadequado para a situação, vou ficar ferido e parar no meio do caminho, mas, se eu estiver calçado na fé, terei sustentação e equilíbrio para continuar”, conclui.
“Renasci e estou em paz”
A administradora Vanda Cecilia Amorim, de 57 anos, (foto ao lado) teve problemas financeiros durante muitos anos. Em 2000, ela se divorciou e perdeu tudo o que havia conquistado em 22 anos de casamento. Quatro anos depois, quando já estava em um novo relacionamento, perdeu o emprego e entrou em depressão. “Eu queria ficar sozinha. Os antidepressivos faziam com que eu dormisse 14, 15 horas por dia. Emagreci mais de dez quilos.”
Sozinha novamente, Vanda passou a depender da ajuda de sua irmã para se sustentar. Mudou de cidade, pensando que a situação iria melhorar. Mas, quando tudo parecia bem, ela ficou desempregada mais uma vez. Ela não conseguia se manter em nenhum emprego.
A vontade de desistir da vida era grande. “As vozes que eu ouvia diziam: ‘você não consegue, para você não tem jeito, tudo o que fizer vai dar errado’. Acreditando nisso, eu me entregava ao problema”, afirma. Um dia, sua filha a levou a uma reunião no Templo de Salomão e ela passou a entender o que estava por trás dos problemas financeiros e emocionais. A partir daí, Vanda decidiu buscar em Deus a mudança para a sua vida. “Renasci e estou em paz, trabalhando, na certeza de que tudo o que conquistar estabelecerei”, diz.
Um futuro diferente do que o pai teve
Quando o empresário Fábio Ferreira da Mota, de 36 anos, (foto ao lado) era adolescente, recebeu a notícia de que seu pai, que estava desaparecido, havia se suicidado por causa dos problemas financeiros. Ele tinha perdido tudo devido aos vícios em álcool e jogos. Sua mãe já tinha se separado de seu pai havia alguns anos e, por isso, Fábio já ajudava no sustento da família. Mas, após a morte do pai, pessoas próximas afirmavam que ele e seu irmão teriam o mesmo futuro paterno. “Elas viam nossa situação difícil, dizendo que seríamos como nosso pai. Então, eu tinha que provar a todo tempo que eu não seria igual a ele.”
As dificuldades financeiras eram grandes. “Morávamos onde tinha tráfico de drogas, em uma casa de fundo de quintal de três cômodos, onde moravam 15 pessoas. Quando chovia, o esgoto transbordava”, conta.
Mas Fábio tinha dentro dele a ideia de que sua vida precisava ser diferente. Em uma sexta-feira, ele aceitou o convite de sua namorada na época para ir à Universal. “Ali entendi qual era o causador de todos os problemas, inclusive o do suicídio do meu pai”, explica.
Ele começou a aprender como se tornar forte. Aos poucos, foi estruturando sua vida profissional e hoje desfruta de um caminho traçado pela fé. “Passei a ter otimismo e perspectiva de mudança. Sou casado, temos uma fábrica bem estruturada de confecção em um prédio de sete andares e lojas. Mas temos o principal: a presença de Deus”, completa.
Ajuda pelas redes sociais
Em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Facebook disponibilizou neste mês uma ferramenta que permite aos usuários emitirem sinais de alerta ao notarem que um amigo publicou algum conteúdo que demonstre tendência ao suicídio.
Ao notar um comportamento estranho, é possível clicar na opção “Denunciar a publicação”, depois em “Acredito que não deveria estar no Facebook” e, em seguida, em “Mostra alguém se ferindo ou planejando se ferir”. Dessa forma, a rede social envia o contato do CVV para oferecer ajuda à pessoa.
“Setembro Amarelo”
É uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio que, desde 2014, ocorre no mês de setembro, com a iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O objetivo é alertar a população sobre o problema, por meio de ampla divulgação de informações e da identificação de locais públicos e privados com a cor amarela. Neste ano, integrantes do Força Jovem Universal (FJU) também se mobilizaram na campanha, realizando ações sobre o tema em todo o Brasil. Confira mais sobre esse trabalho social clicando aqui.
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