O feiticeiro de Jericó

Em entrevista exclusiva, o ator Marcos Winter fala sobre o desafio de fazer parte do núcleo antagonista da novela A Terra Prometida

Imagem de capa - O feiticeiro de Jericó

Na sinopse da novela A Terra Prometida, da Rede Record, Merodaque é descrito como um “feiticeiro sinistro”. A julgar pela maquiagem pesada e pelo figurino de trajes negros, a afirmação é verdadeira. Mas, para interpretar o personagem, o ator Marcos Winter (foto abaixo)conta que o segredo é evitar julgamentos.

Em entrevista exclusiva, ele explica que essa é a estratégia adotada pelos atores do núcleo do reino de Jericó, que inclui também a rainha Kalesi (Juliana Silveira), a temida “senhora das serpentes”, e o rei Marek (Igor Rickli). “É complicado mexer com esse universo e poder dar um pouco de verossimilhança e credibilidade à história. A coisa básica é não julgar. Não julgamos se é certo ou errado para que possamos colocar esse texto da forma mais natural possível”, afirma.

Antagonismo

Questionado se o sacerdote Merodaque é um vilão, Winter pondera e diz que ele faz parte de uma sociedade diferente da do núcleo hebreu da trama. “Ele não é um cara mau para Jericó. Ele faz coisas para a cidade dele de acordo com as crenças dele e como ele foi criado”, afirma.

Embora a maioria dos personagens de Jericó não esteja na Bíblia, Winter lembra que eles ajudam a dar veracidade à história de Josué (Sidney Sampaio) rumo a Canaã. “Sabemos que Merodaque e outros personagens estão em um universo completamente distante do nosso, é uma grande fantasia. Mas é bacana porque, ao mesmo tempo, temos liberdade de transformar fantasia em algo possível. As pessoas olham e pensam que pode até ser verdade o que estamos fazendo. E é importante que seja assim, até para fazer um antagonismo verdadeiro com os hebreus e para que a história bíblica seja bem contada. A gente só abrilhanta essa história toda se fizer com que o universo antagônico aos hebreus seja também verdadeiro”, analisa.

Bastidores

Winter diz que o figurino elaborado ajuda a compor o personagem. “O pessoal do figurino e da maquiagem criou uma coisa radical, meio extravagante e pertinente ao mesmo tempo.” O ator revela que a transformação radical antes de entrar em cena provoca algumas situações engraçadas. “Quando eu ficava pronto para trabalhar, o pessoal não me reconhecia! Muitas pessoas demoram para saber que sou eu (risos). Mas tem sido muito gostoso. Os vizinhos e as pessoas que encontro nas ruas falam comigo e comentam”, relata. Winter ainda destaca o clima de amizade nos bastidores. “É muito bacana rever e trabalhar com gente que conheço há muito tempo e com essa turma nova cheia de talento. Tem sido bem gostoso”, finaliza. A novela A Terra Prometida vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 20h30, na Rede Record.

Na Bíblia

O sacerdote interpretado pelo ator Marcos Winter não existe na Bíblia. Entretanto, o personagem parece fazer referência a magos, feiticeiros, adivinhos e encantadores citados nas histórias bíblicas.

Enquanto o personagem de Winter realiza rituais com serpentes e sacrifica virgens e crianças a deuses pagãos, a Bíblia não descreve em detalhes todos os cultos desses sacerdotes. Apesar disso, o texto indica que a atividade dos feiticeiros não era aprovada por Deus. E mais: a adoração de deuses pagãos era totalmente oposta à fé do povo de Deus. O deus Baal, venerado por Merodaque e outros personagens da novela A Terra Prometida, é citado em diversos trechos bíblicos, como nos livros Números, Juízes, Reis, Jeremias, Oseias e Crônicas.

Na história do rei Manassés é possível identificar a atividade de feiticeiros. Filho do rei Ezequias, Manassés começou a reinar em Jerusalém aos 12 anos. Segundo a Bíblia, suas ações fizeram “muitíssimo mau aos olhos do Senhor”. Em 2 Crônicas 33. 2-10, o texto sagrado explica que Manassés desfez o que seu pai havia feito para acabar com a idolatria do povo. Ele restaurou altares de outros deuses e levantou altares aos Baalins. Ele ainda usou adivinhações e feitiçarias, consultou encantadores e profanou a casa de Deus ao instalar no local a escultura de um ídolo.

A Nova Versão Internacional da Bíblia vai mais longe e indica claramente que Manassés também fez sacrifícios humanos. “Chegou a queimar seus filhos em sacrifício, no vale de Ben-Hinom, praticou feitiçaria, adivinhação e magia e consultou médiuns e espíritas.” 2 Crônicas 33.6.

Após erros, nova chance

As ações de Manassés tiveram consequências. Segundo a Bíblia, o Senhor enviou a Jerusalém os capitães do Exército do rei da Assíria. Manassés foi preso com ganchos, amarrado e levado para Babilônia. Apesar de ter tomado atitudes que desagradaram a Deus, a Bíblia conta que o rei se arrependeu, fez orações ao Senhor e conseguiu uma segunda chance. “E fez-lhe oração, e Deus se aplacou para com ele, e ouviu a sua súplica, e tornou a trazê-lo a Jerusalém, ao seu reino. Então conheceu Manassés que o Senhor era Deus.” 2 Crônicas 33.13.

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Colaborador

Por Rê Campbell / Fotos: Munir Chatack