O Brasil tem quase 9 milhões de jovens que não estudam nem trabalham
Como mudar a perspectiva de uma geração que não espera nada do futuro
O número de jovens brasileiros que nem estudam nem trabalham, a chamada geração “nem-nem”, chegou a mais de 8,8 milhões de pessoas em 2024. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o menor patamar registrado desde 2019. Poderíamos até comemorar essa redução, mas, de acordo com um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o quarto país com mais jovens nessa condição, atrás da Colômbia, da África do Sul e da Turquia. Por isso, surgem algumas questões, como qual é a perspectiva de futuro para esses jovens? Há como reverter esse quadro? O que pode ser feito?
Geração em desalento
Para Luciano Gomes dos Santos, doutor em Teoria do Direito e Teologia e professor de Ciências Sociais do Centro Universitário UniArnaldo, as causas para o surgimento da geração “nem-nem” são múltiplas: “Elas envolvem fatores econômicos, educacionais e culturais. A precarização do trabalho, a desindustrialização e o avanço tecnológico reduziram vagas para jovens sem qualificação. A evasão escolar e a desconexão entre ensino e realidade afastam estudantes. Somadas à pobreza e à falta de políticas públicas, essas condições empurram os jovens para a inatividade e o desalento”, avalia.
Tendência de crescimento
Segundo Santos, o crescimento da geração “nem-nem” também está associado às crises econômicas, à pandemia de covid-19 e à falta de políticas de reinserção para jovens que abandonam a escola ou o emprego. “A pandemia agravou desigualdades, interrompeu cursos e empregos e ampliou a insegurança sobre o futuro. Além disso, as novas formas de trabalho, como o emprego por aplicativo, não oferecem estabilidade nem garantias, o que aumenta o número de jovens sem vínculo formal. A tendência é que a geração ‘nem-nem’ continue crescendo, sobretudo nos países com maior desigualdade social”, diz.
Sem perspectivas
Ele avalia que as consequências são graves para o país, como a perda de produtividade, o aumento da dependência social e a redução do potencial de crescimento econômico. “Para os jovens, a exclusão traz sentimentos de fracasso, isolamento, baixa autoestima e risco de envolvimento com práticas ilícitas. A falta de perspectivas gera frustração e pode comprometer o desenvolvimento de toda uma geração, ampliando desigualdades históricas. Por isso, a família tem papel essencial como fonte de apoio afetivo, incentivo e orientação”, explica.
Oportunidades concretas
Para mudar esse panorama, Santos afirma que a sociedade precisa combater preconceitos e compreender que o jovem “nem-nem” não é apenas alguém desinteressado. “Trata-se de alguém que foi excluído de um sistema desigual. Já o Estado deve garantir políticas públicas que integrem educação, emprego e assistência social, oferecendo formação profissional e oportunidades concretas de trabalho. As empresas podem criar programas de aprendizagem, estágio e qualificação profissional. Investir em jovens é uma forma de renovar o ambiente corporativo e estimular a inovação”, salienta.
Caminhos reais
Ele também aponta que políticas de inclusão e diversidade ajudam a integrar grupos que tradicionalmente ficam à margem, como jovens de baixa renda e mulheres. “Pais e familiares devem apoiar, dialogar e incentivar, mesmo diante das dificuldades. A sociedade precisa abandonar o olhar punitivo e enxergar o jovem ‘nem-nem’ como alguém em busca de oportunidades. O futuro do país depende de políticas que unam família, escola, empresas e Estado em torno de um mesmo objetivo: oferecer caminhos reais para que cada jovem possa construir sua própria história”, conclui.
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