No Brasil, 7 milhões seguem em atraso escolar

Segundo o Unicef, estudantes estão um ou dois anos abaixo da série em que deveriam estar de acordo com sua idade

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Temos, no Brasil, mais de 35 milhões de estudantes matriculados nos ensinos fundamental e médio. Desses, 7 milhões estão atrasados cerca de dois anos da série em que deveriam estar, levando em conta sua idade, segundo estudo publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A análise diz respeito às escolas do ensino público.
A proporção é de um a cada cinco alunos. A pesquisa, chamada Panorama da Distorção de Idade-Série no Brasil, mostra que os Estados das regiões Norte e Nordeste são os mais prejudicados, com respectivamente 41% e 36% dos atrasados.
As causas, segundo o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), são as que atingem geralmente as camadas da população com condições mais precárias de vida: instabilidade econômica e familiar, medo da violência, o apelo do mundo do crime, escolas em lamentável estado e dificuldade de acompanhamento individual do estudante por parte dos educadores e dirigentes das escolas, entre outros. Ou seja: todos os problemas que atingem a sociedade refletem na sala de aula – sem considerar, o que é pior, a evasão escolar.
O Unicef não fez apenas uma análise para chegar a esses números. O órgão também elaborou sugestões para melhorar o quadro, como analisar mais precisamente a distorção série-idade para saber as necessidades de cada localidade; incentivar e desenvolver projetos pedagógicos para a atenção especial e individual aos estudantes, antes de ocorrer o atraso ou a evasão; elaborar e implantar políticas públicas para combater os citados problemas sociais que prejudicam o rendimento do aluno, entre outras.
Como nós podemos ajudar
Tanto a ONU quanto sua divisão em prol da juventude, o Unicef, são órgãos competentes e autoridades no assunto desenvolvimento e auxílio social e podem muito bem mostrar os dados, como fizeram, e elaborar estratégias, para depois sugeri-las. Mas e nós, que vivemos bem perto desse problema da distorção série-idade todos os dias e de suas consequências?
Estamos prestes a mostrar nossa voz nas urnas. Antes disso, porém, será que usamos nosso tempo para analisar os candidatos a cargos públicos que merecem nosso voto e têm propostas sólidas para melhorar a educação?
É hora de fazer isso, de “separar o joio do trigo”. Aquele candidato que você pensa em escolher para presidente tem uma estratégia para continuar a gerir o que já funciona bem nas escolas e levar para as regiões mais prejudicadas o que é necessário? Ele já mencionou em quem pensa nomear para ser seu ministro da Educação?
O candidato que você pretende colocar no governo de seu Estado tem propostas que contemplem todos os municípios? Quem você acha que merece seu voto para senador ou deputado tem propostas de lei sérias para a educação?
O papel do Unicef foi coletar dados e lançar o alerta quanto à questão, mas é o próprio cidadão – ou seja, nós, que formamos o País – que deve se mexer para resolvê-la. Para isso é que são necessários os nossos representantes na Presidência da República, no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, nos governos estaduais e nas assembleias legislativas. Eles serão as nossas vozes na cúpula do poder. É exatamente isso que está registrado em nossa Constituição Federal em seu artigo 1º, parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
O tempo passa
Chegou a hora de exercermos esse poder novamente. Não vamos “terceirizar” a responsabilidade, mas escolher quem estará no poder em nosso lugar, quem tenha condições de fazer isso, zelando pela sociedade à qual ele ou ela também pertencem – sim, assim como o poder, o político também vem do povo.
Sigamos o exemplo da Coreia do Sul. Ao ser invadida pela vizinha Coreia do Norte, o país asiático se viu fragilizado e falido. Decidiu em que ponto mais concentraria os esforços para melhorar a triste realidade em que se encontrava: exatamente a educação. Em cerca de meio século, os sul-coreanos são exemplo de desenvolvimento, mesmo diante de uma economia planetária precária e desigual.
Fica aqui a lição dos sul-coreanos, mas não podemos nos esquecer de que, se agirmos com inteligência na hora do voto, também teremos alunos cada vez mais preparados em nossas salas de aula.

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Colaborador

Marcelo Rangel/ Foto: Fotolia