“Não teve velório, mas eu já estava morta”

Afogada na depressão durante 28 anos, Andreia Martins tinha planos de tirar a própria vida, mas algo que ouviu no rádio mudou seu pensamento

Imagem de capa - “Não teve velório, mas eu já estava morta”

Durante 28 anos ininterruptos, a autônoma Andreia Romero Martins, de 50 anos, sofreu com a depressão. Ela começou a apresentar sintomas aos 6 anos. “Quando nasci, minha mãe tinha 47 anos e, na infância, as pessoas diziam que ela era minha avó. Meus irmãos não tinham muita paciência comigo, pois já tinham a vida e a rotina deles. Éramos 12 filhos e hoje somos sete. Eu me isolava, tinha vergonha de conversar com os outros e me trancava dentro de mim mesma. Na adolescência, tive muitos problemas. Meu pai, que era um heroi para mim, teve um AVC e ficou cinco anos em cima de uma cama. Na porta da escola, conheci e passei a consumir bebida alcoólica. Quando bebia, eu chegava a mudar meu próprio nome. Eu falava que era Vanessa porque, de fato, me transformava em outra pessoa”, detalha.

Já na vida adulta, ela sofreu um abuso em uma noite regada à bebida. Desse abuso, posteriormente, surgiu um relacionamento. “Descobri que a pessoa com quem eu estava era um bandido, mas já estava totalmente envolvida. Fiquei com ele quase três anos, acabei aceitando o erro e participei um pouco dessa vida também. A cada dia que passava, fui me enrolando mais. Eu o traí e quando ele descobriu quis me matar. Ele até me levou para um lugar afastado para fazer isso, mas não teve coragem. Eu, no entanto, não contava o que acontecia para ninguém e, por isso, bebia muito. Era para anestesiar os problemas e a dor”, descreve.

Depois de sofrer um acidente grave de carro, ela teve sequelas no braço esquerdo, que atrofiou. “Precisei colocar uma placa com cinco pinos e os médicos disseram que meu braço não voltaria ao normal. Eu me afundei na depressão e minha situação piorou. Fui medicada com remédio tarja preta, sofria com dores de cabeça constantes e insônia. Eu passava as noites em claro”, relata.

Além de não abandonar as escolhas erradas e sentir um vazio interior exacerbado por causa do acidente, ela se tornou ainda mais vulnerável: “comecei a ver vultos e a ouvir vozes que sugeriam que eu me jogasse do apartamento que, na época, eu morava sozinha. Então eu me trancava em um quarto escuro”.

Andreia sentia como se não tivesse ninguém no mundo, pois não podia contar nem com a família nem com os a quem chamava de “amigos”. Esse fato aumentava seu desejo de se suicidar. “Cheguei a escrever uma carta de despedida. Ali escrevi que não teve enterro, não teve velório, mas eu já estava morta, eu só precisava formalizar”.

Ela não se suicidou, mas sua dor continou até que, um dia, ela ouviu um homem descrevendo uma situação exatamente como a dela. “Ele dizia que existia jeito para mim. Demorou um pouco para que eu fosse à Universal, mas, a partir do dia que fui, foi como se eu tivesse visto uma luz. Eu consegui dormir”, conta.

NOVA CHANCE
Apesar de frequentar as reuniões da Universal e desfrutar de algumas bênçãos, ela não se entregava a Deus completamente. Ao contrário: ela se afundava nas dúvidas e não cria na Palavra de Deus. Por isso, embora estivesse na Igreja, seus conflitos persistiam. Ela, que chegou à Universal em 2007, só se libertou em 2011, quando entendeu que crer não era como ela achava que fosse e que só veria uma transformação em sua vida se houvesse obediência Quando compreendeu isso, ela decidiu realmente mudar seu comportamento. “Minha libertação foi difícil, pois, em razão da vida errada que eu levava, eu não acreditava que poderia ser perdoada por Deus. Finalmente entendi que isso era possível, mas não sabia muito bem por onde começar. O que eu sabia é que eu queria a Deus e que Ele me queria e isso foi o suficiente. Em pouco tempo, meu braço voltou ao normal, me libertei dos vícios, das dores e dos conflitos. Ao ter um encontro com Deus, matei a ‘Vanessa’, abandonei os erros e me entreguei a Deus.”

Ela recebeu o Espírito Santo em um Jejum de Daniel e conta o que ocorreu: “tudo mudou. É como se, ao receber o Espírito Santo, eu tivesse ganhado uma vida nova. Tudo ficou para trás: os pensamentos, a tristeza, achar que todo mundo era culpado pelos meus problemas e aquela pessoa que era emotiva e um fantoche das emoções. Hoje eu ajudo a minha família e, graças a Deus, me tornei um exemplo, me casei e tenho uma nova vida. Sei, porém, que sem o Espírito Santo nada disso seria possível. Continuo a enfrentar lutas, mas agora é diferente: consigo ver a situação sem levá-la para dentro de mim. É uma força realmente Divina. Ele é a peça principal e, sem Ele, nada tem razão nem sentido”.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: cedida / artistee/getty images