Mentiras virtuais provocam terror real

Boatos disseminados pelo WhatsApp causam onda de linchamentos e mortes na Índia

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As fake news (notícias falsas) são informações infundadas, facilmente propagadas pelas redes sociais e por meios de comunicação de pouca credibilidade. São boatos que podem destruir a imagem de pessoas, influenciar a opinião pública e até causar crimes.

O perigo é evidente quando essas mentiras são absorvidas como verdade absoluta e geram revolta popular, como está ocorrendo na Índia. No Estado de Jharkhand, há cerca de um ano, uma corrente divulgada no aplicativo Whats-App propagou mensagens anônimas que alertavam quanto à atuação de sequestradores de crianças na região.

De acordo com o jornal The New York Times, a existência de sequestradores não foi comprovada nem houve registro de sequestro infantil no período em que os boatos circularam.

Entretanto, por causa do grande número de compartilhamentos do falso alerta, sete indianos inocentes foram mortos. Eles foram linchados por cidadãos revoltados, que acreditaram na possibilidade de eles serem os “sequestradores” citados nas mensagens.

Eles não foram as únicas vítimas na Índia. Uma apuração feita pelo mesmo jornal mostrou que, neste ano, ao menos nove pessoas morreram por conta das falsas notícias disseminadas no país.

Recentemente, imagens que mostram dois homens em uma moto foram amplamente divulgadas na cidade de Bangalore e exibem o veículo se aproximando de um grupo de crianças e um dos homens carregando uma delas.

Contudo o vídeo faz parte de uma campanha feita pelo Paquistão para alertar sobre a segurança das crianças e foi alterado. Nas imagens originais, o homem leva a criança de volta ao grupo e segura um cartaz com os dizeres: “basta apenas um momento para uma criança ser sequestrada nas ruas de Karachi”.

Segundo autoridades indianas, o vídeo editado apenas com a parte em que a criança é retirada do grupo foi compartilhado exaustivamente. A falsa notícia causou a morte de Kalu Ram Bachanram, de 26 anos, que foi amarrado e arrastado pelas ruas de Bangalore, onde procurava emprego. A população achou que ele fosse um dos homens da moto.

Na Índia, mais de 200 milhões de pessoas usam o Whats-App e quase 20% da população é analfabeta. O governo tem tomado medidas para alertar quanto ao perigo das fake news por meio de campanhas publicitárias. Elas orientam sobre a importância de checar as informações, de não fazer justiça com as próprias mãos e de avisar sempre as autoridades em casos suspeitos.

Solução?

Os desenvolvedores do aplicativo WhatsApp estão testando, na Índia, uma ferramenta com marcação gráfica, que mostrará ao usuário se a mensagem recebida foi apenas compartilhada ou elaborada pelo remetente. O objetivo é facilitar a identificação de boatos e evitar a propagação das fake news.

No Brasil

Em 2014, um boato disseminado no Facebook causou a morte da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que foi espancada por dezenas de moradores do Guarujá, em São Paulo. Na ocasião, boatos foram espalhados com a imagem de uma mulher acusada de sequestrar crianças para usá-las em rituais. Os agressores confundiram Adriana com a mulher e decidiram atacá-la. Em 2016, o serralheiro Carlos Luiz Batista precisou se esconder depois de ter sido falsamente acusado de estupro em uma corrente de WhatsApp.

O Brasil ainda não tem uma legislação específica para punir quem produz e compartilha notícias falsas. Quem dissemina esse tipo de informações, entretanto, pode ser responsabilizado e punido.

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Colaborador

Por Kelly Lopes / Fotos: Fotolia e Reprodução