“Melzinho do amor”: mania com sérios riscos

Produto consumido em festas é vendido como inofensivo, mas possui substância contra impotência sexual perigosa para alguns usuários 

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Verdadeira febre entre jovens que frequentam “baladas”, o produto apelidado de “melzinho do amor”, em forma de gel em sachês, tem chamado muito a atenção da opinião pública, sem que as autoridades brasileiras de saúde tenham se pronunciado oficialmente até o momento.

O melzinho, consumido sobretudo em bailes funk – que, curiosamente, continuam a acontecer em tempos de pandemia, apesar da proibição de aglomerações –, possui a substância citrato de sildenafila, usada no tratamento de impotência sexual. Ela dilata os vasos sanguíneos e oferece riscos a quem a usa sem orientação médica, podendo levar a sérios problemas de saúde e à morte.

Um sachê do melzinho tem o dobro da quantidade de citrato de sildenafila presente em um comprimido de Viagra, o medicamento para impotência sexual mais conhecido.

O produto, também chamado de “melzinho da revoada”, é comercializado livremente por sites de venda internacionais e nacionais bem conhecidos por cerca de R$ 30 o sachê. Sua procedência é duvidosa e algumas embalagens indicam que o produto vem da Malásia.

No começo de maio, o programa Domingo Espetacular, da Record TV, submeteu o melzinho a uma análise laboratorial que confirmou a presença da grande quantidade de citrato de sildenafila – que nem mesmo consta da descrição na embalagem. A perita farmacêutica Paula Carpes Victório disse à reportagem que se trata de “uma dose seguramente tóxica”, capaz de “causar diminuição da pressão arterial, o que pode ser fatal”.

Muitos e sérios riscos
Segundo publicou o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, (NHS, na sigla em inglês), o citrato de sildenafila geralmente é indicado no tratamento de hipertensão pulmonar, mas, por seu efeito vasodilatador, também é usado contra a disfunção erétil. Ele só deve ser tomado por homens com 18 anos ou mais e com orientação médica. Não é recomendado para mulheres ou menores de idade, mas, no caso do melzinho, esses dois grupos o estão consumindo sem reservas.

O NHS destaca que a sildenafila também é muito perigosa para quem usa medicamentos para tratar dores no tórax; sofreu recentemente acidente vascular cerebral (AVC) ou ataque cardíaco; tem problemas no coração, no fígado, úlcera estomacal ou pressão baixa; possui doenças hereditárias nos olhos (como a retinite pigmentosa); e tem anemia falciforme, entre outras enfermidades.

Mesmo quem não tem esses problemas também pode sofrer efeitos colaterais da sildenafila, segundo o NHS: dor de cabeça, visão turva (ou perda temporária), tontura, entupimento do nariz, indigestão, rosto avermelhado, dor no peito, ereções prolongadas demais (até dolorosas), vermelhidão ou descamação da pele, febre e inchaços pelo corpo.

É mais uma das muitas substâncias perigosas consumidas e “indicadas” por leigos de forma irresponsável que podem levar até à morte ou mesmo gerar problemas de saúde que a pessoa vai enfrentar por toda a vida.

Além disso, com seu forte efeito sexual, muitas vezes misturada a álcool e outras drogas em algumas festas, ela pode elevar o risco de relações sexuais sem proteção, aumentando o risco de gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis.

Mesmo perigoso, o produto vem sendo largamente “indicado” por youtubers e funkeiros, sem que se saiba exatamente sua participação no comércio do mesmo. Como essas “celebridades” têm muitos seguidores, a influência pode ser perigosa.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty images