Manter a palavra, apesar dos obstáculos

A hombridade exige que promessas sejam cumpridas, atitude de um homem de fato

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Quando um homem dá sua palavra em relação a alguma coisa – e de fato é um homem –, ele faz o possível para mantê-la, mesmo que isso seja difícil.

Um episódio do século passado é um retrato fiel disso: ao longo dos séculos e milênios, o controle da cidade de Nazaré, onde o Senhor Jesus morou, foi várias vezes tomado em conflitos entre judeus, cristãos e muçulmanos. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) incluiu Nazaré no território destinado ao Estado árabe, mas Israel discordou, alegando um direito histórico, e ocupou a cidade.

Depois de vários conflitos armados na área metropolitana nazarena, os militares dos dois lados assinaram um acordo de paz que incluía garantias de que nenhum dano fosse causado aos civis árabes locais. Entre esses oficiais estava o comandante canadense de origem judaica Benjamin “Ben” Dunkelman, líder da operação em curso e da 7ª Brigada Blindada, considerada a melhor das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) na época.

Entretanto, o ramatkal (comandante-em-chefe da IDF) Haim Laskov ordenou, pouco depois do acordo, que os civis árabes fossem expulsos. Dunkelman negou-se a seguir tal ordem argumentando que, horas antes, eles (incluindo o próprio ramatkal) haviam empenhado a palavra, lavrada por escrito, de que não fariam aquilo. Horas depois, o general Laskov destituiu Dunkelman do comando da operação, nomeando em seu lugar Avraham Yaffe, comandante do 13º Batalhão.

O canadense, humilde, obedeceu à ordem de afastamento, mas só depois de seu substituto, Yaffe, lhe garantir que não hostilizaria a população árabe nazarena. Diante da recusa da evacuação forçada, Laskov apelou a autoridades políticas superiores para que a ordem fosse cumprida. Porém, o primeiro-ministro israelense na época, David Ben-Gurion, sabendo do caso, vetou-a definitivamente. Os árabes nazarenos não sofreram nenhuma represália.

Dunkelman foi um jovem abastado, filho do fundador de uma das maiores redes de varejo de roupas da América do Norte. O tradicional e esperado seria trabalhar no negócio da família, mas, prestes a completar a idade de alistamento militar, revelou aos pais que queria servir na Marinha Real Canadense. Eles foram contra, mas a decisão do filho era definitiva. No entanto, a Marinha não o aceitou.

Indignado por não conseguir servir seu país, Ben continuou a tentar até conseguir ingressar no Exército. Por ser descendente de israelenses, pôde ingressar na IDF sem deixar de pertencer às forças canadenses, o que o levou ao episódio em Nazaré.

Após a guerra, Ben voltou para casa, em Toronto. Até lhe foi oferecida uma honrosa colocação nas Forças Armadas, em reconhecimento à sua digna forma de combate, mas ele gentilmente recusou e finalmente assumiu os negócios dos Dunkelman, expandindo-os talentosamente. Terminou seus dias em prosperidade e com sensação de dever cumprido, uma consciência que só heróis de verdade conquistam – sem pisar em ninguém.

“Sendo os caminhos do homem agradáveis ao Senhor, até a seus inimigos faz que tenham paz com ele” (Provérbios 16.7), dizem as Escrituras. Coube a um descendente do antigo povo escolhido de Deus tornar essa palavra realidade, assim como cabe a qualquer filho dEle nos dias de hoje. Um homem de Deus muda seu jeito de ver os adversários, pois passa a ver com Seus olhos. Se você ainda vê alguém como pura e simplesmente inimigo e quer derrubá-lo, repense se sua entrega ao Altíssimo foi mesmo real.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty Images