Mais de 80% das pessoas que sentem dor de cabeça se automedicam
É o que revela uma pesquisa. Entenda os riscos que estão por trás dessa prática
Quem, ao sentir uma dor de cabeça, nunca recorreu ao uso de analgésicos – desses que passam nos comerciais e prometem alívio rápido – sem orientação médica? Com a pressa do dia a dia, se automedicar e evitar a visita ao médico pode parecer cômodo a princípio, mas quais são os riscos que essa atitude, se frequente, pode trazer à saúde?
Uma pesquisa divulgada em maio pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) aponta que 81% dos entrevistados se automedicam quando sentem dor de cabeça e que 61% procuram ajuda médica para tratar a dor. O estudo revelou ainda que 50% aceitam indicação de medicamentos feita por quem não é profissional da saúde e que 60% indicam medicamentos. O levantamento foi feito de maneira espontânea, por meio das redes sociais, e obteve 2.318 respostas.
O médico neurologista e coordenador da pesquisa Marcelo Ciciarelli pontua dois aspectos no estudo: o primeiro é que 97% dos participantes afirmaram ter sentido dores de cabeça no último ano; e o segundo é a maneira como eles lidam com a dor, já que a maioria (81%) se automedica.
O neurologista considera o número alarmante e justifica que esse hábito ocorre pela falta de conhecimento dos males, pelo acesso fácil a medicamentos sem prescrição médica e pela grande divulgação de analgésicos pela mídia.
Ele alerta que a preocupação é quanto à frequência com que os medicamentos são consumidos e ao agravamento da dor. “Pessoas que tomam analgésicos mais de duas vezes por semana podem causar uma cronificação do quadro doloroso.”
Ciciarelli explica que existem dores de cabeça primárias, como a enxaqueca – a mais comum entre os pacientes que buscam ajuda médica –, e as secundárias, que são consequência de outras doenças, como, por exemplo, sinusite, meningite ou até quadros mais graves, como hemorragia ou tumor cerebral. A automedicação pode mascarar esses quadros mais sérios como se fossem apenas uma dor de cabeça.
Ainda segundo a pesquisa, entre os que sofrem de enxaqueca episódica (que ocorre de vez em quando), 28% estão desempregados. Para os que têm a doença crônica, o número é maior: 33%. “O impacto da incapacidade profissional, social e acadêmica é grande para pessoas que sofrem com esse tipo de dor”, destaca o neurologista.
Uma campanha chamada 3 é demais, lançada pela Sociedade Brasileira de Cefaleia, alerta que, ao sentir dor de cabeça três ou mais vezes por mês, há mais de três meses, é preciso buscar tratamento médico.
Tratamento
Depois que o quadro de cefaleia é diagnosticado, o tratamento é feito com medicamentos prescritos pelo médico para uso no momento da dor (até duas vezes por semana) e com profiláticos (preventivos), de uso diário, para reduzir as crises.
Ciciarelli finaliza dizendo que os analgésicos podem ser usados, mas de maneira correta e sem exageros e que, em momentos de crise, compressas frias podem trazer alívio.
Para prevenção da cefaleia e redução de crises, ele recomenda atividades físicas (como as aeróbicas) pelo menos três vezes por semana e uma dieta equilibrada, sem longos períodos de jejum. Também é fundamental dormir bem e se hidratar frequentemente.