Linguagem neutra: a Língua Portuguesa sob ataque

Imagem de capa - Linguagem neutra: a Língua Portuguesa sob ataque

A linguagem neutra ou não binária (termo usado para pessoas que não se identificam com o sexo masculino nem feminino) tem sido bastante propagada, principalmente entre ativistas da esquerda. Eles querem obrigar as escolas a usarem pronomes e substantivos neutros no ensino, ferindo a norma culta da língua portuguesa.

Na prática, o que isso mudaria? As palavras deixariam de ter suas flexões de gênero para o masculino e feminino, tendo uma única forma de uso – ou nenhuma, referindo-se às pessoas que se definem como sem gênero. A militância quer, de qualquer forma, empurrar sua ideia: a de que a língua portuguesa não é inclusiva. Assim, substituiriam o “a” e o “o” no fim das palavras por “x” ou “e”, por exemplo.

Seria cômico se não fosse trágico, mas já há pessoas que usam “amigx” (algo que nem é pronunciável), por exemplo, em vez de “amigo” ou “amiga”; e “menine” em vez de “menino” ou “menina”.

A ideologia tem ganhado apoio de jovens, famosos, subcelebridades e políticos. A língua portuguesa já sofre há anos com as linguagens modificadas pela internet e agora passa a bagunçar ainda mais a cabeça das crianças, principalmente daquelas que estão em processo de alfabetização.

Desde sua origem, a flexão masculina de um pronome compreende também o gênero neutro dele. Por exemplo, o pronome “eles” é utilizado para homens e mulheres quando há os dois na mesma frase. Também há palavras utilizadas com aparência feminina, como “testemunha”, que serve para os dois gêneros. Claro que isso sempre foi usado sem problemas, mas passar a dizer que um pronome no masculino ofende ou exclui alguém do sexo feminino e vice-versa ou a quem não se identifica com nenhum dos gêneros não passa de uma falácia para ganhar os votos dessas mesmas pessoas.

A polêmica chegou até ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, reaberto depois das obras de recuperação de um incêndio em 2015.

Em uma mensagem de boas-vindas ao público estava escrito: “Nesta nova fase do Museu da Língua Portuguesa, a vírgula – uma pausa ligeira para descanso, respiro – representa o recomeço de um espaço aberto à reflexão, inclusão e um chamamento para todas, todos e ‘todes’ os falantes, ou não, do nosso idioma: venham, voltamos!”. Muitos seguidores das redes sociais da instituição mostraram desconforto ao lerem isso, pois um museu, a priori, tem o objetivo de preservar o seu objeto, no caso citado aqui a língua portuguesa, e não o de adulterá-lo.

Enquanto alguns políticos usam o tempo em que deveriam trabalhar em prol do povo que os elegeu para apoiar a ideia, outros tentam barrá-la. A deputada federal Geovânia de Sá (PSDB), de Santa Catarina, apresentou recentemente o projeto de Lei 2650/2021, com o objetivo de vetar o uso de pronomes neutros em escolas públicas e privadas brasileiras. Para ela, “não é aceitável que essa ilegítima invenção seja reproduzida justamente no local onde os estudantes deveriam aprender a utilizar a língua portuguesa de acordo com as regras gramaticais”.

Em vez de lutar para bagunçar a língua e a cabeça de crianças e adolescentes querendo arregimentá-los para a atual moda, essa parcela de pessoas deveria lutar para que as escolas fossem mais inclusivas para deficientes, por exemplo. Segundo o Censo Escolar de 2019, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), só 28% das escolas públicas de ensino fundamental e 44,7% das particulares possuem dependências adequadas a pessoas com necessidades especiais. Além disso, muitas escolas continuam sem condições adequadas para receber de volta os alunos durante a pandemia da Covid-19.

Apoiadores gastam tempo e saliva para defender seus “pronomes coloridos”, mas essa é mais uma tentativa de confundir a população para, em sua estratégia de sempre, fazer com que ela não debata assuntos realmente importantes.

imagem do author
Colaborador

Redação / Foto: Getty Images