Vivemos em uma sociedade que se acostumou a valorizar o que é novo. É mais fácil adquirir o novo smartphone do que ficar com o celular obsoleto, trocar o carro do que gastar com a manutenção do veículo ou comprar roupas novas do que reparar as peças que um dia foram as favoritas.

Mas há algo que não é possível trocar: o corpo. O ciclo natural da vida é nascer, crescer e envelhecer. Esse processo é gradual, contínuo e irremediável. Por isso, devemos nos preparar para viver bem por mais anos antes mesmo de atingirmos a melhor idade, que, segundo o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei 10.741/2003), é a idade igual ou superior a 60 anos.

Um mundo cada vez mais idoso
Ao mesmo tempo que a expectativa de vida aumenta, as taxas de natalidade diminuem. A estimativa é que em 2030 o Brasil tenha a quinta população mais idosa do mundo e, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2050, que o número de idosos seja maior do que o de crianças e adolescentes.

O geriatra Syuichi Fujisaki ressalta que a demanda na área da saúde tende a aumentar: “como o organismo vai perdendo a vitalidade com o passar dos anos, todas as patologias ficam mais evidentes, mas, adotando os cuidados preventivos, podemos postergar ou até evitar muitas doenças, como deficiências hormonais, osteoporose, Parkinson e Alzheimer”.

Sabendo disso, é importante que pensemos desde já nessa realidade e estabeleçamos hábitos que contribuam para a prevenção de doenças e para viver os anos vindouros de forma saudável e autônoma. A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou, em 2020, que estamos na Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), uma iniciativa global que prevê ações para mudar a forma como a sociedade pensa o envelhecimento e garantir cuidados à pessoa idosa.

Chegando lá
“A longevidade só é uma realidade com uma qualidade de vida saudável”, lembra o doutor Fujisaki. E cuidar da saúde desde sempre é a melhor maneira de garantir a chegada à terceira idade da melhor forma. Além de aderir a hábitos saudáveis, a medicina é uma aliada. Mesmo que a população esteja mais informada quanto à importância de exames preventivos, muitas pessoas só procuram um especialista quando surge algum sintoma de doença. “As mulheres cuidam melhor da saúde, o que não ocorre com os homens, que procuram atendimento tardiamente”, reflete Fujisaki.

Passar por consultas e check-ups periódicos desde a infância é uma das recomendações do médico. Vale citar que, para quem já tem 60 anos ou mais, a geriatria é a especialidade que trata deles.

Você pode se perguntar “como envelhecer de maneira saudável?” Fujisaki responde que esse investimento começa ainda na infância, mas, obviamente, nunca é tarde para investir no futuro: “se, desde o nascimento, a pessoa tem uma dieta saudável, faz exames médicos periodicamente, procura seguir as orientações dos pais e tem equilíbrio emocional, com certeza terá uma boa saúde física e mental e uma qualidade de vida saudável”.

Cuidando da melhor idade
Enquanto a sociedade se prepara para envelhecer de forma saudável, também devemos ficar atentos a quem já chegou lá e muitas vezes sofre não apenas com o envelhecimento do corpo e com problemas de saúde, mas também com a falta de interação familiar e social. “A tendência do idoso é ficar isolado por diferentes motivos, como perda de audição, que dificulta a interação, ou dos movimentos. É importante manter a interação, se encontrar com amigos e familiares e participar de atividades como jogos e passeios porque o isolamento e a rotina podem levar ao estresse e à depressão”, diz Fujisaki.

Por isso, há 10 anos, nasceu o Calebe Universal, um grupo destinado a cuidar dos campos social, físico e espiritual daqueles que já estão na melhor idade. O Bispo Valter Pereira, coordenador do grupo, explica que o objetivo é levar vida, dignidade e interação aos idosos: “nos importa uma evolução constante, inspirando a vivacidade com projetos e eventos que trabalham na autoimagem do idoso e com dinâmicas que enaltecem a atividade física, social e mental”.

Além de participarem de encontros semanais, eventos, palestras e atividades físicas e manuais, os integrantes e voluntários do Calebe também visitam asilos e hospitais. Eles ainda têm contato com profissionais de nutrição, enfermagem e psicologia enquanto participam de projetos que visam promover sua interação social e autonomia.

Para fazer parte ou ser um voluntário, procure o coordenador do Calebe na Universal mais próxima. O Bispo Valter cita por que o grupo é fundamental: “no Calebe, eles são vistos como gente, são abraçados e cuidados como almas e recebem atenção e ajuda social. Isso, para um idoso que se sentia sozinho ou incapaz por conta da idade, é importantíssimo e mostra a eles a importância da vida novamente”.

Os pilares do envelhecimento com qualidade de vida

Nesta década, as Nações Unidas estão promovendo ações sustentadas em quatro áreas que garantem os recursos básicos tanto para os idosos quanto para a sociedade:

Mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos: essa proposta tem o objetivo de eliminar os estereótipos, o preconceito e a discriminação contra os idosos.

Garantir as capacidades das pessoas idosas: ambientes físicos, sociais e econômicos amigáveis aos idosos oferecem mais oportunidades e inclusão a esse grupo e influenciam positivamente no envelhecimento.

Entregar serviços de cuidados integrados: eles devem ser oferecidos nos sistemas de saúde, com foco nas capacidades funcional (saúde) e intrínseca (habilidades físicas e mentais) da pessoa idosa.

Propiciar acesso a cuidados de longo prazo: dessa forma, os idosos podem desfrutar dos direitos humanos básicos e viver com dignidade.