Já parou de se comparar?

A mania de comparação faz parte do cotidiano de muitas pessoas. Quem sofre com ela acredita que a vida do outro é mais interessante do que a própria existência

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Muitas pessoas não se dão conta de que se comparar com os outros é a receita infalível para se sentir mal consigo mesmas. Afinal, o outro sempre parece mais talentoso, mais bonito, mais bem-sucedido e com um cargo mais interessante que o seu. Geralmente é o outro que vive no País das Maravilhas, um lugar que nós, que não nascemos Alice, ficamos de fora observando com um binóculo. Mas essa fantasia esconde um fato importante: não cabe a nós nos compararmos com o que o outro mostra da própria vida ou com aquilo que, muitas vezes, idealizamos em nossa cabeça.

Quando comparamos a nossa vida à de outras pessoas, desperdiçamos tempo e muito de nós mesmos. Será que é possível se encaixar no “padrão sob medida” do outro? Certamente não. Então, ao observar que um amigo ou parente conquistou o lugar que merecia, reconheça isso, mas lembre que esse palco não é seu. Por vezes, as comparações nos nivelam por baixo.

ESPELHO SEU
A psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental e CEO da PsicoPass, Rosângela Casseano, explica que se comparar a outras pessoas faz parte de um processo de aprendizagem inerente a todos. “Observamos o comportamento do outro e os mínimos detalhes que podem ser percebidos, analisados, comparados e armazenados em nossa memória. Afinal, para nos avaliarmos e sabermos se estamos indo em um bom caminho, obtendo bons resultados, precisamos de referências. O que transforma isso em um problema é termos um olhar mais competitivo, que gera um sentimento derrotista, nos impulsionando para baixo e mexendo com a nossa impotência, especialmente quando desejamos nos tornar alguém que não somos somente para agradar ou estar igual ao outro. Ao nos depararmos com a busca de um corpo ou um trabalho perfeito, por exemplo, podemos deixar de validar as conquistas até aqui realizadas por nós, focando em resultados inatingíveis”, esclarece. Desta forma, estabelecemos rótulos que, “muitas vezes, dificultam nossa comunicação e atrapalham as relações”.

A comparação se trata, portanto, de um hábito que pode custar caro, uma vez que leva “desde um aumento da ansiedade a uma possível depressão, podendo gerar transtornos psíquicos quando a pessoa se confronta com o outro e percebe que está muito longe de chegar ao modelo desejado. Além de despertar inveja, isso pode aumentar de forma significativa a baixa autoestima, momento em que o sujeito perde a confiança em si e valoriza somente o que está fora”, enumera.

DEITADO NA “REDE” DA COMPARAÇÃO
Há quem esteja confortavelmente deitado na “rede” da comparação e nem se dê conta de como a exposição às redes sociais digitais influencia nisso. Hoje, graças ao botão “publicar”, disponível em várias plataformas de internet, qualquer mortal pode divulgar as próprias conquistas e viagens – tudo sob a ótica de um bom filtro, claro! Mas quem vê tela não vê vida real: quem garante que, por trás de uma foto reluzente, não há angústias e problemas comuns? “As pessoas tendem a mostrar somente momentos maravilhosos e chegam a montar cenários de felicidade e prosperidade que nem sempre representam sua realidade. Ao mesmo tempo, é como se a mente de quem vê aquela imagem acreditasse 100% nela, que logo se torna idealizada”, diz Rosângela.

HÁ SOLUÇÃO?
Como lidar, então, com as comparações que constantemente batem à nossa porta? Primeiramente, devemos entender que existe um aspecto positivo na comparação, algo que nos incentiva a sermos melhores como pessoas, a aprendermos a receber e dar feedback e a usarmos esse mecanismo como algo que nos impulsiona para cima, como observa a especialista. Ela também aponta que o caminho das pedras é e sempre será o autoconhecimento. “Embora seja importante buscar referências, o mais importante é nos aceitarmos, criarmos um plano de melhorias e colocá- lo em prática. É fácil? Não, mas é possível”, garante.

Já Eliana Barbosa, psicoterapeuta, palestrante e autora de livros de autodesenvolvimento, acrescenta que usar o processo comparativo a seu favor consiste em “um modo eficaz de manter a saúde emocional. Utilizando a via do autoconhecimento, você pode trilhar o caminho da autocomparação, ou seja, comparar os sentimentos e as atitudes que você tem hoje com os que manifestava no passado. Dessa forma, poderá concluir se está evoluindo ou apenas perdendo tempo. Sempre encontraremos pessoas mais adiantadas do que nós, seja social, física, psicológica, financeira, moral ou espiritualmente”, pondera Eliana, que também aconselha trocarmos as comparações pelo hábito de agradecer todos os dias pelo o que somos e temos.

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Colaborador

Flavia Francellino / Foto: Eoneren/getty images