Isso assusta você?

"Guerras e rumores de guerra" nos fazem questionar o rumo que o mundo está tomando. Enquanto o terror e as desavenças se espalham pelos quatro cantos, uma pergunta nos assombra: afinal, o que os recentes e simultâneos acontecimentos têm a nos dizer?

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Os desdobramentos de um ataque atribuído a Israel contra a Guarda Revolucionária Iraniana na capital da Síria, Damasco, em 1° de abril, colocou diante do olhar público mundial um novo capítulo entre um dos conflitos mais persistentes das últimas décadas. Isso porque, a 1h40 da madrugada de 14 de abril em Israel (19h40 do dia 13 de abril no horário de Brasília), o Irã realizou um ataque com mais de 300 drones e mísseis balísticos contra o território israelense e esse ataque direto cruzou uma fronteira que nunca antes havia sido ultrapassada por nenhum dos dois países. As sirenes “começaram a soar em Israel por volta de 1h40 do dia 14 de abril, enviando pessoas de todo o país para abrigos antiaéreos e salas seguras”, publicou o The Jerusalem Post, que também descreveu que esse atentado iraniano “ameaçou se transformar em uma guerra regional entre os dois arqui-inimigos.” A Força Aérea Israelense e aliados de outros países abateram 99% dos projéteis. A tentativa de agressão inédita levou o governo israelense a uma resposta retaliatória no dia 19.

Esse cenário geopolítico, que coloca os holofotes mais uma vez no Oriente Médio, conclama para que observemos o que vem ocorrendo nos últimos tempos e desperta uma pergunta: afinal, a Terceira Guerra Mundial, ainda que não declarada, estaria batendo à porta? Para obter uma resposta satisfatória, é bom entender primeiramente que toda forma de violência coletiva, de grandes ou pequenas proporções, é incitada por um fator político – e para afastar quaisquer preconceitos ligados à palavra, política envolve visão de mundo, assim como princípios e valores enraizados. Nas palavras de Carl von Clausewitz (1780-1831), um general prussiano, o vínculo entre guerra e política é indissolúvel, uma vez que “a guerra é a continuação da política com ou por outros meios”. Clausewitz considerava a guerra, “do ponto de vista epistemológico, um ato do intercurso humano, um choque de interesses resolvido pelo derramamento de sangue”.

Há pouco mais de seis meses, Israel viveu o maior atentado desde o Holocausto, movimento majoritariamente antissemita que promoveu o extermínio de ao menos 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Em proporções menores, mas igualmente assustadoras, em 7 de outubro de 2023, o mundo viu cenas aterrorizantes após o Hamas assassinar com requintes de crueldade cerca de 1,3 mil pessoas, muitas decapitadas e queimadas vivas.

FIO DE ALTA TENSÃO
Tensão e clima de guerra eclodem em várias partes do mundo. Desde 2022, a invasão russa na Ucrânia tem promovido um conflito armado de grande escala. A Armênia e o Azerbaijão, por exemplo, lutam há décadas pelo território de Nagorno-Karabak e a China busca reunificar Taiwan ao continente – ainda que seja à força. País vizinho ao Brasil, a Venezuela reivindica a integração de um pedaço substancial do território da Guiana, um dos países que, hoje, mais crescem economicamente no mundo. Não é descartada a possibilidade de que a via pacífica que até então imperava seja abandonada.

O QUE ESTÁ SENDO ESCRITO AGORA
Com um pouco mais de 88,5 milhões de habitantes, até 2022, o Irã era o 17° país mais populoso do mundo. Ele já foi uma das maiores civilizações da história e, no passado, foi o grande império persa. Ao sul do Irã está situado o Golfo Pérsico, onde parte considerável das exportações de petróleo acontece. O Irã é oficialmente um estado xiita, braço do islamismo que apoia que apenas membros da família de Maomé ocupem posições de liderança. Já do Exército de Guardiães da Revolução Islâmica, conhecido como Guarda Revolucionária Iraniana, emanam doutrinas ideológicas que fazem uma discordância velada à hegemonia norte-americana e à legitimidade do movimento sionista. A palavra sionista tem origem nos termos “tzion”, “sion” (ou Sião) – monte onde a cidade de Jerusalém está estabelecida. O movimento sionista, portanto, materializa o desejo do povo judeu, depois de inúmeras dispersões arroladas na história, de voltar ao seu lar.

A inimizade entre Irã e Israel vem sendo costurada “a partir de uma formação ideológica”, como explica Vladimir Feijó (foto abaixo), doutor em direito e analista político. Israel, um país de 9,5 milhões de habitantes, teve que lutar por sua independência e existência ao longo da história – algo que acontece até hoje. “Especificamente depois da revolução islâmica, essa rivalidade aumentou e Israel teve que lidar não só com grupos governamentais lutando contra si, mas com o aparecimento de movimentos não estatais, de entidades religiosas e laicas”, observa. Com a emancipação de Israel como Estado, o Irã, explica ele, “passou a colaborar com grupos não estatais como Hamas, Hezbollah e outros tantos que só foram reforçando essa rivalidade. O que vimos a partir de 7 de outubro foi só um novo capítulo desse conflito que já tem décadas”.

Afinal, existe espaço para a escalada de uma guerra em nível mundial? Para Feijó, existe, como esclarece: “estamos falando do jogo entre grandes potências e que, por serem potências, não só têm interesse, mas atuação em diferentes áreas do mundo. O que falta agora, talvez, é mais uma declaração formal, aquele efeito dominó que possa fazer com que todos acabem se envolvendo”.

Em relação ao que os conflitos podem causar ao mundo, Feijó cita “a normalização da desumanização. São milhões de deslocados internos e, talvez, expulsos para outros países e de pessoas passando fome, sem possibilidade de voltar para o seu lugar, portanto, sem acesso à educação, à saúde e ao emprego. Ainda vemos a retórica política tratando essas pessoas como se não fossem seres humanos e merecessem toda violência promovida contra elas. Tudo parece só cena de videogame, algo distante, e aí se abre um caminho para uma guerra muito maior.”

PARECE FAMILIAR
A animosidade entre judeus e árabes tem raiz histórica e advém de questões territoriais e espirituais também. O Livro bíblico de Gênesis descreve a impaciência de Abraão e Sara, já idosos, quanto à promessa Divina que faria deles uma nação numerosa. Sara, então, sugeriu que Agar, sua serva, gerasse um filho para eles. Foi assim que nasceu Ismael (Gênesis 16.1-11), um homem de guerra, e dele descenderam os árabes (Gênesis 25.12-18). Dessa forma, foi estendida a Isaque a promessa Divina de frutificar grandiosamente a descendência de Abraão e fazer dele nações e reis (Gênesis 17.6).Esses são alguns conflitos que eclodiram ao longo da história que a geopolítica não é capaz de explicar. Até porque a inclinação para fazer o mal parece que acompanha a Humanidade desde o berço. Em Gênesis 4.8 lemos que Caim derramou o sangue do seu sangue ao assassinar o próprio irmão, Abel.

ENTRE GUERRAS, RUMORES E SPOILERS
Em entrevista à Folha Universal, o Bispo Renato Cardoso observa que “tudo que acontece no Oriente Médio tem raízes na Bíblia” e que o conflito entre Irã e Israel faz parte “do antissemitismo existente desde os dias de Ismael até hoje. O Irã é conhecido internacionalmente como um Estado terrorista por apoiar grupos que atacam Israel. Dessa vez, o ataque foi direto”. Sobre os últimos e mais recentes acontecimentos que se aproximam da Palavra de Deus, o Bispo menciona que o profeta Daniel (11.40) anteviu que “‘no fim do tempo, o rei do sul lutará contra ele, e o rei do norte se levantará contra ele’. A profecia menciona que dois grandes poderes se chocarão sobre a terra de Israel. Hoje, acredita-se que este rei do sul seja o Irã e o rei do norte, a Alemanha, que lidera o apoio europeu a Israel atualmente. O que estamos presenciando é literalmente o cumprimento de profecias e a iminência da Terceira Guerra Mundial”, diz o Bispo Renato.

O Evangelho de Mateus 24 (versículos 6-8 e12) também antecipa muito do que vemos hoje ao descrever que: “E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino (…). Mas todas estas coisas são o princípio de dores. (…) E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.” As Palavras do Senhor Jesus também foram descritas em Marcos 13 e Lucas 21 que, no versículo 9, em vez de guerras e rumores de guerras, cita “guerras e sedições.” Sedição é algo capaz de perturbar a ordem pública e minar a paz. O mais curioso é que tudo que Ele apontou foi seguido de uma pergunta: “(…)

Dize-nos (…) que sinal haverá (…) do fim do mundo?” (Mateus 24.3).
Em relação ao amor, quando ele deixou de existir? No Brasil e mundo afora, repercute a notícia da frieza de um filho que foi capaz de matar a própria mãe e, como se não bastasse, cortou a mão dela para realizar um saque bancário. Já o caso “Tio Paulo”, um senhor supostamente morto que adentrou uma agência bancária empurrado em uma cadeira de rodas pela sobrinha para efetivar um empréstimo, nos faz pensar se já não vimos o suficiente. “A iniquidade sempre existiu”, comenta o Bispo Renato, “mas todos podem observar que ela está se multiplicando rapidamente. Ainda não é o fim porque há muitas, muitas dores que ainda estão por vir. Imagine o momento que uma guerra for desencadeada em nível mundial e afetar preços, transportes, sistemas bancários e financeiros, gerar sanções econômicas, falências de empresas, desemprego em massa e falta de comida? As consequências serão assustadoras. Encaramos as tragédias resultantes de guerras e outras ações humanas com um misto de sentimentos: tristeza pela dor dos que as sofrem e alegria pelo cumprimento das Escrituras”, considera.

O QUE ENXERGAMOS?
Em Mateus 16.1-3 está descrito que, “(…) chegando-se os fariseus e os saduceus, (…) pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu. Mas ele, respondendo, disse-lhes: Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro. E, pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis discernir a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos?”

Poucos conseguem discernir e espiritualmente entender que não estamos a passeio vendo a vida acontecer. Os anos isolados pela pandemia que ceifou vidas da noite para o dia parece que nos ensinaram pouco sobre o quanto somos vulneráveis e precisamos de Algo maior. Ninguém imaginava que veria o mundo se tornar palco de guerras declaradas em um espaço curto de tempo, mas a trégua pandêmica cessou e logo saímos de um luto para entrar em outro. Por enquanto, a Terra amarga a indiferença, as injustiças e o rancor enrustido em questões milenares – ou de poucos segundos –, mas difíceis de explicar. Estaríamos diante do fim? O que você vai fazer diante disso?

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: Abd Almohimen sayed/getty images / Demetrio Koch / EvgeniyQ/getty images