Inclinados às próprias vontades

A má conduta de Joel e Abias, filhos do profeta Samuel, mostra que, muitas vezes, o exemplo dos pais não é suficiente para levar uma pessoa a escolher a Deus

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Os conflitos abordados na série Reis, da Record TV, especialmente os relacionados a dramas familiares, exemplificam a realidade de boa parte do público. Com isso, os telespectadores têm a oportunidade não apenas de acompanhar o desenrolar da trama, mas também de refletir sobre as razões por trás das próprias escolhas.

Nesse sentido, a história dos personagens Joel (Daniel Dalcin) e Abias (Osmar Silveira) oferece muitos ensinamentos. Filhos do profeta Samuel (Roberto Birindelli) e de Eloá (Andrea Avancini), os jovens tomam um caminho completamente diferente do que o pai trilhou. Samuel foi o último juiz de Israel e, desde a infância, se dedicou a servir a Deus sem fazer nenhum questionamento ou acumular frustrações. Embora tenha sido um homem de Fé e espiritualmente realizado, essa característica não foi suficiente aos olhos de seus filhos, que, como juízes, decidiram se escorar em uma conduta reprovável.

Disfarçados com uma máscara de santidade e inclinados às próprias vontades, Joel e Abias gozavam das benesses que supostamente sua posição diferenciada poderia lhes dar, o que pôde ser visto no decorrer da segunda e da terceira fase de Reis. Vale lembrar que, na primeira aparição dos irmãos na série, ambos julgaram a posse de um poço de forma que favorecesse a Joiada (Renato Chocair), um homem que, a mando de Kayla (Hylka Maria), os abrigou em sua casa e lhes ofereceu mimos e conforto.

De certa forma, Samuel já tinha presenciado cenas semelhantes a essa quando viu a maldade de Hofni e Fineias, filhos do profeta Eli, que eram ímpios e “não se importavam com o Senhor” (I Samuel 2.12). Contudo, ao contrário de Eli, que foi tolerante e conivente com o pecado no seio familiar, Samuel não fez vista grossa e não eximiu os filhos da responsabilidade deles. Assim, sem vislumbrar um substituto para Samuel, o povo desejou ter um rei. A Bíblia revela esse cenário de maneira sucinta em 1 Samuel 8.1-5.

UMA RELAÇÃO CONSTRUÍDA
Nos dias de hoje, há quem se encontre em conflito por ser filho de quem é. Isso pode ocorrer especialmente com pessoas que têm pais que foram transformados pela Fé e pela Palavra de Deus. Caso não resolvam seus problemas, algumas delas podem se tornar “Joeis” e “Abias” enrustidas, ou seja, até sustentam uma aura de santidade e devoção a Deus por certo tempo, mas depois, contrariadas pela Palavra, se rebelam contra o exemplo que tiveram em casa e buscam o “próprio caminho”. Como Joel e Abias, muitas sonham com a emancipação da tutela espiritual para “aprender com os próprios erros” e fazer o que quiserem.

A verdade é que os pais podem mostrar o exemplo mais espiritualmente ilibado do mundo e, mesmo assim, seus filhos podem decidir enveredar por outro caminho. Isso comprova o fato de que o relacionamento com Deus é construído e não imposto ou determinado por outras pessoas.

QUESTÃO DE ESCOLHA
Em entrevista exclusiva à Folha Universal, a autora da primeira à terceira temporada da série, Raphaela Castro, observa que as personalidades de Joel e Abias expõem questões complexas. Para ela, “muitas pessoas olhavam para os filhos de Samuel esperando que eles fossem como Samuel” e pondera que, embora essa comparação, de fato, não fosse justa, “isso não justifica nem é razão para que uma pessoa abandone a Fé e o que sabe que é certo.

Construímos os personagens em conflito para podermos entender os dois lados. Quando entendemos o personagem, por que ele faz o que faz e suas motivações, podemos observar suas atitudes, em vez de dizer ‘isso aqui é o certo’, ‘isso aqui é o errado’. No entanto, Joel e Abias condenam os pais porque, aparentemente, eles os ‘prenderam’ a vida toda e eles queriam ser livres. Embora Samuel e Eloá não sejam esse tipo de pais, é assim que os filhos os veem”, diz.

Raphaela destaca que a característica principal dos irmãos é a indefinição, além de darem importância ao dinheiro e flertarem com outras coisas que não são honestas. “Eles ficam sempre no meio-termo entre querer agradar às pessoas e aos pais, entre fazer um pouquinho certo e um pouquinho errado, entre ter um pouquinho de Fé e, às vezes, não ter. Eles eram ‘mornos’: não eram ‘sim’ nem ‘não’, eram o ‘talvez’ e isso não dá certo.”

Muitas pessoas enxergam o bom exemplo como um fardo, como Adão e Eva.

“Tudo o que eles conheciam era o bem e, quando houve a possibilidade de algo extra, quiseram aquilo que era diferente. Embora Joel e Abias tenham crescido em um lar de Fé, em um ambiente em que só havia o bem, e tenham recebido segurança, apoio e amor, eles passaram a ver tudo isso como privação e prisão, como uma trava. Infelizmente, às vezes, para dar valor a algo a pessoa tem de
perdê-lo”, explica Raphaela.

Para os pais que se perguntam por que e onde erraram com os filhos, cabe a confiança de que Deus está no controle, a exemplo da postura de Samuel na trama: “Joel e Abias quiseram culpar os pais, mas a escolha foi deles e sempre será deles”, conclui Raphaela.

ACOMPANHE
A série Reis vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 21h15, na Record TV. Aos sábados, a emissora exibe a reprise dos melhores momentos.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: Reprodução