Globo será processada por reportagem mentirosa, afirma Prefeitura do Rio de Janeiro

Relembre outros casos em que a emissora foi acusada de preconceito

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A Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro divulgou uma nota oficial no último dia 12 de setembro informando que entrará com ação judicial contra a Rede Globo de Televisão por ter exibido uma “matéria mentirosa e manipulada”, conforme descreve a própria nota.

O comunicado faz referência à reportagem da jornalista Suzana Naspolini, que, de acordo com a Prefeitura, exerceu “um papel preconceituoso e covarde, atingindo a honra e a autoestima de jovens alunos da rede municipal de ensino e de seus professores”.

Na tal reportagem, Naspolini critica o Ensino Público na Escola Municipal Heitor Beltrão. Ela inclusive apresenta um caderno com erros de ortografia e gramática. Segundo a Prefeitura, dando a entender que o caderno pertence a um dos alunos.

Em vídeo produzido pela Prefeitura, mães, alunos e profissionais da escola desmentem a repórter.

Vivian de Jesus, mãe de aluno, relata que estava presente durante a transmissão da reportagem e afirma que Naspolini mentiu:

“A Suzana Naspolini pegou o piloto, escreveu no caderno enquanto ela fazia a reunião de pauta dela lá com o pessoal do que ela ia fazer na reportagem. E eu questionei a respeito do bilhete [no caderno] porque eu achei aquilo um insulto muito grande. Chacoalhou o ombro para mim e disse: eu não posso agradar todo mundo.”

Assista ao vídeo abaixo para entender melhor o caso:

Em resposta, a Rede Globo publicou reportagem alegando que a Prefeitura está deturpando a reportagem, que era sobre a reforma realizada. “A gente lamenta a atitude do prefeito Marcelo Crivella que editou frases da matéria com a clara e condenável intenção de jogar as crianças contra a repórter”, afirmou a âncora do telejornal RJTV, Mariana Gross.

De acordo com ela, Naspolini não diz que o caderno é de um dos alunos. Todavia, Naspolini também não diz que ela escreveu aquelas palavras. A jornalista não é transparente com o telespectador, sem deixar claro se aquele caderno é ou não de um aluno.

Foi a primeira vez?

A Prefeitura do Rio afirma que a Globo foi preconceituosa ao falar da rede pública de ensino na reportagem citada. Mas será que esta foi a primeira vez?

Uma entrevista publicada pela BBC em 2015 mostra que não. Na conversa, a equipe de reportagem fala com a colunista do jornal O Globo Silvia Pilz. Na ocasião, Pilz estava sendo criticada por publicar uma crônica chamada “O plano cobre”, que ainda pode ser encontrada na internet. Entre outras coisas, o texto trazia as seguintes passagens:

“O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda. É quase chique.”

“no final de semana, todo mundo enche a cara no churrasco”

“Eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos.”

“A grande preocupação do pobre é procriar.”

“[o pobre] fica obcecado pelo lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente. Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas. O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela.”

A crônica rendeu muitas críticas. A maioria delas chamando Pilz de preconceituosa. Quando a BBC a questionou sobre isso, a cronista respondeu:

“Somos todos preconceituosos. Temos um preconceito sobre aquilo que a gente não conhece. Sou uma pessoa lúcida e sei que todo ser humano tem preconceitos. Isso é lucidez.”

Ela ainda afirmou que “Pobre gosta de procriar. Não é fato? O que dói no leitor é a verdade. Pobre gosta de procriar, você concorda comigo? Eles têm mais filhos do que deveriam ter”.

Pilz alegou que estava fazendo humor com seu texto. Aos entrevistadores, ela afirmou que nada é ofensivo no humor, “vale tudo”.

Vale tudo no humor… E fora dele também?

rede globoDe fato, o grupo Globo opta pelo “vale tudo no humor”, mesmo que muitos não achem as piadas engraçadas. A edição 1341 do jornal Folha Universal, veiculada em dezembro de 2017, traz o depoimento de cristãos que sentiram ofendidos com quadros humorísticos da emissora:

“Já em um dos episódios do programa Zorra Total, exibido em outubro de 2014, um falso pastor participava de uma ‘sessão de descarrego’ e induzia os fiéis a pagarem dízimos mais altos.”

“O humorístico Tá no Ar, em 2015, debochou dos evangélicos e da Universal em um episódio em que um locutor vendia um DVD infantil que trazia a ‘Galinha Convertidinha’, fazendo alusão ao personagem ‘Galinha Pintadinha’. No esquete, a personagem usava saia, camisa, óculos e um coque e cantava a canção: ‘Ir pro inferno é fogo/ A verdade é Universal/ Cuidado com a hora do Juízo Final’.”

“O colunista Ricardo Feltrin escreveu no portal UOL, em 20 de fevereiro de 2012, que o programa Tá no Ar fez um deboche explícito aos evangélicos: ‘Nunca um programa da emissora debochou tanto de religiões e, especialmente, da figura dos evangélicos e seus pastores’.”

Até racismo virou piada…

Conforme mostra a reportagem, a Globo não é preconceituosa apenas ao falar sobre a educação pública ou sobre as classes sociais mais baixas, mas também ao se referir à fé cristã.

Neste caso, inclusive, diversas novelas apresentam personagens estereotipados em suas tramas. Clique aqui e conheça outros casos.

Até mesmo a escravidão virou piada na emissora, conforme aponta o Correio Nagô. O noticiário destaca que o programa Fantástico fez “ uma sátira do momento histórico da abolição da escravidão no Brasil.”. Para o jornalista, o quadro trouxe “um pensamento racista que é, ao mesmo tempo, reformulado, naturalizado e divulgado para a coletividade”. Decerto colaborando para a perpetuação do racismo e o aumento da violência.

A reportagem da jornalista Suzana Naspolini não é, portanto, a única publicação controversa da emissora. Mas será a última?

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Colaborador

Andre Batista / Imagens: Reprodução internet