Geração Z: dependência prolongada dos pais gera rombo de US$ 12 bi na economia

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A geração Z está enfrentando um conjunto único de desafios econômicos no Brasil e no mundo: dificuldade para conseguir o primeiro emprego, alta da informalidade e menores chances de mobilidade profissional. Esses fatores moldam seu comportamento financeiro, reduzem o consumo em setores importantes da economia e atrasam sua própria autonomia.

Os dados são do relatório The kids aren’t alright (Os jovens não estão bem, em tradução livre), da Oxford Economics, que sugere que essa geração causa um impacto econômico estimado em US$ 12 bilhões por ano em “consumo perdido”, ou seja, um dinheiro que deixa de ser movimentado por falta de independência financeira. Embora o relatório seja norte-americano, o Brasil passa por uma situação semelhante, mas em escala ainda maior.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2024 o índice geral de desemprego ficou em torno de 7%, mas entre pessoas de 18 a 24 anos chegou a quase 20% e, de 16 a 18 anos, quase ultrapassou os 30%. Em consequência disso, mais de 60% dos jovens brasileiros de 18 a 29 anos ainda moram com os pais.

A falta de independência financeira altera o perfil consumidor da geração Z, o que vem impactando negativamente a economia. A permanência tardia na casa dos pais leva ao adiamento de decisões importantes como compra de carro, contratação de serviços e formação da família, enquanto o consumo foca em produtos digitais (games, aplicativos, streaming, etc.) e em experiências (shows, viagens, restaurantes, etc.).

Esse deslocamento de despesas se torna um problema porque os jovens deixam de gastar em setores estratégicos para o crescimento da economia do País. Ou seja, quando uma geração adia a vida adulta, a economia também adia seu crescimento.

Efeitos psicológicos e choque de realidade

Assim como nos Estados Unidos, a geração Z no Brasil relata ansiedade elevada sobre o futuro, medo de não alcançar independência financeira e falta de perspectiva de crescimento. O fator emocional também impacta as decisões de consumo e, muitas vezes, leva a gastos por impulso, parcelamentos excessivos e endividamento.

A geração superprotegida, com pais resolvendo todos os problemas, negociando tudo com medo de contrariar, sentindo-se culpados em dizer “não” e educando com base em autoestima, enfrenta uma realidade muito diferente.

O mercado de trabalho é competitivo, exigente e implacável, ignorando sensibilidade a críticas e não tolera dificuldades de aceitação da hierarquia ou de regras. Enquanto a geração Z espera salários altos, horários flexíveis e reconhecimento imediato, o mundo corporativo busca resiliência, comprometimento e cumprimento de prazos.

No geral, é uma geração que se sente sobrecarregada pelo choque de realidade, por expectativas contraditórias e pela dificuldade de se adaptar a um mundo para o qual não foi preparada. Por outro lado, o mundo não tem sabido lidar com uma geração mais informada, conectada e preocupada com propósito e qualidade de vida.

É um embate que não só atinge a economia mundial, mas revela a necessidade de construir pontes entre gerações, ajustando expectativas e preparando os jovens para um futuro mais realista.

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Colaborador

Patrícia Lages / Foto: fatcamera/getty images