Fome: um problema que desafia o Brasil

Apesar de ser líder mundial na exportação de diversos alimentos, cerca de 20 milhões de lares brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar

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O Brasil é uma potência em exportação de alimentos. Recentemente, um relatório desenvolvido pelo banco BTG Pactual mostrou que o País se tornou o maior exportador do mundo de soja, milho, café, açúcar, suco de laranja, carne bovina e carne de frango. O documento chama o Brasil de “Celeiro do Mundo” e não é para menos: a quantidade de alimento produzido por aqui daria para atender cerca de 900 milhões de pessoas, ou seja, 11% da população mundial. Mas, apesar do resultado grandioso na agropecuária, essa fartura não é realidade para muita gente. Uma quantidade expressiva de brasileiros ainda convive com a insegurança alimentar.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 4,1% dos lares no País encararam a fome em 2023. Essa porcentagem representa 3,2 milhões de famílias que não tinham alimentos em quantidade e qualidade suficientes para todos os membros – incluindo as crianças.

Além dessa parcela da população, considerada em situação de insegurança alimentar grave, outros 18,5 milhões de lares foram classificados em posição de insegurança alimentar leve ou moderada. “A insegurança alimentar é a falta de acesso à diversidade de alimentos, principalmente os de melhor qualidade nutricional, seja por conta de mudanças climáticas, seja em consequência de baixo poder aquisitivo”, disse Daniela Carla Soares, nutricionista clínica, ortomolecular e maternoinfantil.

Segundo ela, a alimentação adequada é um dos fatores cruciais para a manutenção da saúde, que é muito mais do que a ausência de doenças. “Para ter uma vida saudável com disposição, concentração, peso ideal, força muscular e até equilíbrio mental é fundamental fornecer ao organismo uma alimentação diária rica em macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras de boa qualidade) e micronutrientes (vitaminas, minerais), além de fibras e oligoelementos, como o ômega 3”.

Em contrapartida, a falta dos alimentos básicos e o excesso de ultraprocessados – que costumam ser mais baratos – impactam diretamente na saúde do indivíduo e prejudicam seu desempenho nos estudos ou mesmo no trabalho. Afinal, quem consegue se desenvolver adequadamente com fome ou comendo o mínimo necessário?

A fome não espera

Olhar para o armário e não ter o que comer ou não ter o que dar aos filhos é uma dor que ultrapassa a da fome. Ela significa humilhação e falta de dignidade pela falta do básico.

Para minimizar esse quadro desolador, o Unisocial, projeto social que une todos os grupos mantidos pela Universal, se empenha no propósito de amparar o próximo. “Só quem já viveu em insegurança alimentar sabe o quanto é difícil não poder garantir o sustento para a sua família. Por esse motivo, a ação social, que engloba a entrega de alimentos, é extremamente necessária para as famílias carentes”, comenta o Pastor Filipe Santos, responsável pelo Unisocial.

Todos os meses os voluntários do projeto organizam ações, como o Mercado Unisocial, para levar aos mais vulneráveis produtos não perecíveis e alimentos frescos, como frutas e legumes. “As doações de alimentos proporcionam o conforto imediato e são um incentivo e uma motivação para que os beneficiados consigam se reerguer e sigam em busca da concretização de seus objetivos, pois sabem que naquele mês a dispensa estará suprida”, explica. Só para se ter uma ideia, em 2023, o Unisocial ajudou 1.495.486 pessoas em todo o Brasil.

Riscando a fome do mapa

Apesar do impacto positivo na vida de milhões de pessoas, as ações sociais não conseguem suprir a demanda completa do País. Como mencionado anteriormente, comida não falta no Brasil, mas por que ela não tem chegado à mesa de tanta gente? Responder a esse questionamento é fundamental para que um plano eficaz contra a fome seja elaborado.

Um dos fatores que podem estar associados à dificuldade de alimentar todos os brasileiros é a elevada e confusa carga tributária que recai inclusive sobre os produtores de alimentos e, consequentemente, sobre os consumidores. O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estuda mês a mês a variação de preços dos alimentos essenciais. Em abril, por exemplo, o órgão identificou que São Paulo é a capital em que o conjunto de alimentos básicos custa cerca de R$ 822. “Levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência (…), o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 6.912,69 ou 4,9 vezes o mínimo reajustado em R$ 1.412,00”, destacou o estudo do Dieese.

Considerando que cerca de 60% dos brasileiros vivem com até um salário mínimo por mês, é fácil concluir que poucos têm condições de manter uma alimentação saudável com um rendimento tão baixo – sem incluir os 8,2 milhões de pessoas desempregadas no País.

É urgente que todos os níveis de governo trabalhem para a criação de mais empregos e a melhoria de renda da população brasileira. Além disso, é preciso uma ação efetiva do Poder Público para “facilitar o acesso aos alimentos naturais e o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas ao fim da insegurança alimentar, como a promoção da agricultura familiar, a diminuição do desperdício, a redução de impostos, etc.”, diz a nutricionista Daniela Soares.

Todos os brasileiros são responsáveis pela situação lastimável em que o Brasil se encontra. É preciso que cada um vote com consciência, inclusive nas eleições municipais deste ano. O poder está nas mãos do povo, mas, enquanto isso não for totalmente entendido, veremos a repetição de erros antigos e o sofrimento de muitos.

 

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: BirgitKorberKB-Photodesign/GettyImages, Stas_v/GettyImages e Ranplett/GettyImages