Fake News que matam

Mãe perde dois filhos por acreditar que vacinas causavam problemas

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Um caso recente da mulher que perdeu suas duas crianças por não tê-las vacinado lembrou um passado nada saudoso. Em meados de 1904, só um dos hospitais do Rio de Janeiro já contava 1,8 mil internações por causa da varíola, doença altamente contagiosa, com risco de morte em mais de 30% dos casos. As sequelas iam de feias cicatrizes à cegueira.

No mesmo ano, o governo federal tornou obrigatória a vacinação contra a enfermidade e reforçou obras sanitárias. A oposição e parte da população se rebelaram contra a decisão.

Muita gente tinha medo da vacina contra a varíola, vítimas dos boatos de que ela matava ou causava aparência de bovinos em quem a tomava, pois era produzida a partir de células doentes de bois e vacas. Nas duas semanas da chamada Revolta da Vacina, 30 pessoas morreram nos conflitos. O governo, então, cancelou a obrigatoriedade.

Em 1908, o Rio foi atingido pelo maior surto de varíola da história. O povo desconsiderou os boatos e correu para ser vacinado. As campanhas de vacinação foram crescendo ao longo das décadas. Doenças desapareceram, mas, com a chegada do século 21, as fake news ganharam as redes sociais com informações irresponsáveis. Muitas ainda dizem que vacinas causam, entre outras coisas, autismo e até a morte. Gente supostamente esclarecida caiu nessa em muitos países, fazendo com que certas doenças desaparecidas voltassem a matar.

Na onda dessas notícias falsas espalhadas por pessoas mal-intencionadas, Arlyn B. Calos, uma mãe das Filipinas, não vacinou seus filhos contra o sarampo durante um grande surto local – que já infectou mais de 35 mil e matou quase 500 este ano. As duas crianças morreram.

“Sinto raiva, não deveria ter dado ouvidos à TV e ao Facebook, mas protegido meus filhos”, disse Arlyn à rede britânica BBC. “É muito difícil, mas estou me recuperando. Se tiver outros filhos, não hesitarei em vaciná-los para que fiquem seguros.”

A conscientização chegou tarde, mas agora ela usa seu drama para alertar outros pais em todo o mundo.

Os boatos acabam se tornando a verdadeira “doença” que custa vidas. Será que em mais de 110 anos, com todo o avanço tecnológico, precisaríamos mesmo ler esse tipo de notícias?

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Reprodução